Capítulo IX

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Quatro dias depois


Era notável - não, inspirador - concluiu Jake, a rapidez com que ele se livrara das muletas. Era claro que estava tudo na mente.

Força. Coragem.

Determinação.

Além disso, era bastante útil a habilidade de ignorar a dor.

Não doía tanto assim, ponderou ele. Sentia só umas fisgadas. Ou talvez algo mais próximo de um prego sendo martelado em seu tornozelo a intervalos correspondentes à velocidade com que dava seus passos.

Mas não um prego muito grande. Um pequeno. Um alfinete, na verdade.

Ele era forte. Todos diziam isso.

De qualquer forma, a dor não era tão ruim quanto o atrito sob os braços, causado pelas muletas. E ele não planejava fazer uma caminhada de oito quilômetros. Só queria poder andar pela casa com os próprios pés.

No entanto, seus passos estavam consideravelmente mais lentos do que o habitual quando se dirigiu à sala de estar algumas horas depois do café da manhã. Mesly lhe informara que Sunghoon o aguardava. Não era bem uma surpresa; Sunghoon o visitara todos os dias desde que se machucara.

Era muito gentil da parte dele.

Eles vinham construindo castelos de cartas, uma escolha um tanto perversa para Sunghoon, cujo braço dominante ainda estava imobilizado em uma tipoia. O alfa dissera que, já que estava indo ali para lhe fazer companhia, podia muito bem fazer algo útil.
Jake não se importou em ressaltar que construir um castelo de cartas podia muito bem ser a definição de algo nada útil.

Por ter que trabalhar usando apenas uma mão, Sunghoon precisava de ajuda para equilibrar as primeiras cartas, mas, depois disso, conseguia colocar as outras tão bem quanto Jake.

Até melhor, na verdade. Jake havia esquecido como ele era incrivelmente bom em construir castelos de cartas... e como se tornava estranhamente obcecado durante o processo. O dia anterior tinha sido o pior. Assim que completaram o primeiro nível, ele o expulsara da tarefa. Então o expulsara de toda a área, alegando que o ômega respirava forte demais.
O que, é claro, não a deixara escolha se não espirrar.

Talvez Jake também tenha chutado a mesa.

Houvera um momento fugaz de arrependimento quando tudo caíra em um terremoto espetacular, mas o olhar de Sunghoon valera a pena, mesmo que ele tenha ido embora logo após o colapso.
Mas isso havia sido no dia anterior e, conhecendo bem Sunghoon, ele iria querer começar tudo de novo, rumo à construção de um maior e melhor, pela quinta vez. Sendo assim, Jake pegara mais dois baralhos a caminho da sala de estar. Deveria ser o suficiente para ele adicionar mais um ou dois andares à sua próxima obra-prima arquitetônica.

- Bom dia - disse o ômega ao entrar na sala de estar.

O alfa estava de pé junto a um prato de biscoitos que alguém deixara na mesa que ficava atrás do sofá. Uma criada, provavelmente. Uma das mais tolas. Estavam sempre rindo à toa para ele.

- Vejo que abandonou as muletas - disse ele, assentindo com ar aprovador. - Parabéns.

- Obrigada.

O ômega olhou em torno da sala. Ainda nada de Heeseung. Ele não o visitara desde aquela primeira manhã na biblioteca. Não que Jake esperasse que ele fosse fazer isso. Não eram amigos.

Não eram inimigos, é claro. Apenas não eram amigos. Nunca tinham sido. Embora talvez fossem um pouco... agora.

- Qual é o problema? - perguntou Sunghoon.

I hate him? I love him! - heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora