Quando Jessica e SooYoung terminaram seu serviço de incendiar a taberna na qual Stephanie conteve os vampiros fugitivos, logo foram se recolher na casa onde a Young havia dito para que ficassem.
A casa era tão luxuosa quanto Jessica imaginou que seria. Uma casa que trazia a personalidade de Stephanie para os quatro cantos. Cores escuras, candelabros de ouro, arestas de parede com arabescos em prata, livros por toda a parte, elegância em cada decoração e janelas grandes o bastante para que vissem o mundo lá fora. Era como se a vampira Paladina estivesse ali, em algum canto, com um livro pesado sobre o colo.
A ruiva arrastou uma cadeira de madeira e se sentou, notando que havia muita poeira pairada sobre a mesa, no qual uma longa tapeçaria vermelha e roxa se estendia. O candelabro no centro trazia uma sensação de nobreza, sensação essa que jamais a apeteceu. Batia com as unhas contra a madeira de mogno, observando a poeira grudar na ponta de seus dedos como se sentissem falta de uma presença por ali. Mesmo que não quisesse, pensou quando foi a última vez que Stephanie estivera ali.
SooYoung já havia visitado a casa antes, quando Stephanie costumava ficar próximo ao vilarejo. Sabia que a casa era uma desculpa para que o lado humano da Young ainda permanecesse consigo, mesmo que uma pequena parte deste. Observou a ruiva perdida em pensamentos na mesa de centro e sorriu de canto, caminhando em passos vagarosos até a mesma, fazendo o mesmo que fez. Quando sentou-se, ignorou a poeira e apoiou seu cotovelo ali, para logo depois apoiar a cabeça sobre sua mão.
— Para uma vampira com a humanidade desligada, estás sendo demasiadamente complacente. — Soltou, ainda observando-a.
A Jung bateu as unhas mais uma vez contra a mesa, parando subitamente e limpando a poeira dos dedos. Olhou para a vampira mais velhas com olhos tão verdes quanto se lembrava, dando de ombros e reclinando-se sobre a cadeira, cruzando os braços e deixando a cabeça baixa.
— Se queres saber se ainda permaneço sem humanidade, então sim. Estou. — Respondeu com um resmungo. — Acreditas mesmo que se eu estivesse sentindo coisas eu estaria tão calma?
A Choi riu-se.
— Certamente. Tens razão. — A Elite bateu as mãos contra a mesa, sutilmente. — Bom, então o que se passa dentro desta tua cabeça? Sei que não estás arquitetando um plano diabólico quando entregou a liderança da Ordem para MinJeong, fizeste isto por algum motivo que ainda estou tentando descobrir. — Fez uma pausa. Jessica não se pronunciou. — Fizeste aquilo pois não queria mais uma responsabilidade, ou fizeste porque não se sentiu pronta para liderar?
A ruiva ponderou, suspirando como se precisasse de ar. SooYoung queria uma resposta, e mesmo que não fosse obrigada a dizer toda a verdade para a conselheira de seu clã, algo dentro de si dizia que a Choi era alguém que podia confiar no momento. Mesmo que não quisesse que nenhuma ali soubesse o porquê de estar andando na linha, acreditava - mesmo que pouco - que SooYoung não diria nada a ninguém. Sentia que com a vampira, poderia ter algo próximo de uma amizade.
— Adoraria ver-te quebrando a cabeça o resto da noite para descobrir minhas intenções. — Sorriu, desafiadora. — Por que queres saber?
— Porque sou curiosa. — Arqueou as sobrancelhas. — Já vivi tempo demais, minha vida é monótona. Achas que gosto de ti pelo que és? Jamais. Adoro-te pois me trazes emoção. Pensei nisso quando incendiaste a Catedral.
Jessica riu. Como sempre, SooYoung sendo tão irônica quanto ela.
— Ao menos poderia disfarçar. Talvez se tu se esforçasse mais para tentar desvendar-me, eu facilitaria teu trabalho. — Balançou a perna, ansiosa.
— Qual a parte de já vivi muito tempo tu não compreendeste? Sou velha, é isto que querias ouvir? — SooYoung subiu um pouco o tom de voz. — Não tenho paciência para jogos de adivinhação. Fale logo e acabe com a minha tortura de tentar entender-te. — Fez uma pausa, atrevida. — Sabes que tenho muito tempo contigo esta noite, não é? Não tenho paciência, mas sou insistente. Perguntarei isto para ti até que me fales a verdade.
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Cold Blooded
FanfictionStephanie Young, ano de 1550, séc XVI. Condenada a ser uma criatura sanguinária imortal de sangue frio. Tudo que tinha era uma sede incontrolável de mudar o destino de sua eternidade, antes que sua mente pudesse envelhecer mais rápido que sua carne...