Cold Blooded

Desumanidade.

A bruxa Suprema foi miseravelmente de encontro ao chão, com as mãos esticadas como se pudesse tocar a cena que a aterrorizava. Jessica estava morta. Morta. Seu corpo estava fraco e não mais ouvia os sussurros e lamúrias dos espíritos que sempre a faziam companhia. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que não pôde mais segurar, suas unhas compridas e afiadas agora arranhavam o assoalho de madeira.

Gritou enfurecida em meio ao seu choro, e logo sentiu a presença de mais pessoas em sua volta.

— Céus! O que diabos está acontecendo aqui?! — Stephanie alarmou-se, indo ao encontro de Yuri e tomando-a em um abraço.

A Kwon tentou empurrar a mulher para longe, e a Young compreendeu que a mesma precisava de espaço naquele momento. SooYoung olhou preocupada para NingNing, que ao ver a cena de sua Suprema ao chão e aos prantos, completamente furiosa e fora de si, não conseguiu conter as lágrimas também. MinJeong tinha os olhos arregalados e apertava o cabo de um punhal extremamente afiado, as veias ao redor de seus olhos levemente saltadas, mostrando seu sutil descontrole.

— Será que alguém poderia dizer algo neste inferno?! — SooYoung esbravejou-se, saltando as presas.

A Suprema sentia que seria punida pela eternidade por ter deixado-a morrer, sentia como se tivesse deixado escapar uma alma que apenas queria ser livre e não ter mais dores. Aquela magia rosada que antes fazia presente dentro de si desaparecera, assim como o restante das outras. A magia que havia colocado no coração de Jessica já não mais estava com a mesma, havia sumido para sempre.

Sentia que jamais poderia espioná-la estudando novamente, assim como sentia que jamais poderia ter aquele rosto inocente voltado para si. Edgar havia roubado aquela pobre alma de si. Havia roubado sua Jessica. Seus olhos de esmeralda.

— Ela está morta. Edgar quebrou seu pescoço em minha frente! — Yuri retrucou com a voz arranhada pelo ódio fervente. Disparou um soco no assoalho. — Jessica está morta, porra.

Ao ouvir aquelas palavras, Stephanie sentiu sua visão desfocar-se brevemente. NingNing atentou-se naquela situação e, ao ver a vampira Paladina, encontrou um semblante completamente transformado, monstruoso. Os olhos de Stephanie tornaram-se escuros e avermelhados como o eclipse solar; as veias ao redor de seus olhos saltaram, assim como suas presas extremamente pontudas. MinJeong ao seu lado, transformou-se nessa mesma criatura, e o ódio era quase palpável.

Em um piscar de olhos, as vampiras se foram, mas NingNing podia jurar que mais um borrão se uniria às demais criaturas.

∆

A noite caía na matilha Hemming, e MinHo conversava com alguns de seus soldados especiais sobre a conversa durante a Tertúlia. Havia dirigido o general para que instruísse os outros lobos a obedecer as criaturas aliadas, assim como havia avisado para a matilha sobre o arsenal e os recursos. Havia muito a ser feito, no entanto, a única coisa que o homem pensava veementemente era em sua sobrinha, que agora estava no quarto que há muito não era aberto: a sala da curandeira.

No clã Hemming, haviam algumas lobas anciãs que já não viviam mais na montanha, mas sim além dela. Assim que SeulGi desmaiou após vomitar aquele líquido estranho, MinHo gritou por ajuda e pediu para que Giselle fosse até a aldeia além do vale para chamar Tawakki, uma antiga anciã que ajuda toda a matilha Hemming há anos. Era a única capaz de ajudar naquele momento, pois a antiga senhora já havia ajudado lobos amaldiçoados antes.

E aquilo que SeulGi estava passando com certeza tinha ligação com sua maldição.

Tawakki já havia averiguado SeulGi há muitos anos atrás, mas não havia chegado a conclusão alguma. Era só mais uma loba amaldiçoada, não tinha a resposta para a quebra daquele encantamento ancestral. A anciã já havia visto lobos morrerem precocemente por conta daquela praga, assim como já havia visto a maldição os corroerem covardemente, até se transformarem naquela besta feral e acabar sendo mortos por um predador maior e mais inteligente.