Quando o dia raiou nas terras litorâneas de Crutia, Taeyeon e Yuri arrumavam-se para, finalmente, partir para Pixyna. Por ser uma terra feérica, a bruxa Suprema já esperava que não conseguisse atravessar a invisível barreira mágica que divide humanos de criaturas, mas por sorte, não estava só naquela empreitada. A fada já havia conjurado magia pura para que o corpo de Yuri pudesse atravessar aquele empecilho protetor, assim poder feérico algum poderia impedi-la de atravessar.
A magia de Yuri não havia retornado, mas era nítido que a bruxa estava melhorando. Ficar em casa pintando obsessivamente não mudava a sua história e seu final, apenas a lembrava continuamente de como a tragédia aconteceu, bem diante de seus olhos. Talvez o tempo fosse o melhor antídoto para sua dor, e o afastamento de tudo que remetesse a mulher de cabelos ruivos também fosse bom. Por mais que grande parte das coisas ao redor de Yuri a fizessem lembrar Jessica, a bruxa sabia que em algum momento as analogias iriam acabar, e sua mente estaria de volta no lugar.
Com a bolsa carregada de materiais, armas e poções, a bruxa estava pronta para ir. Taeyeon terminava de ofuscar seus aspectos feéricos com magia e agora colocava o manto que cobria suas asas. Vestia cores de Crutia, apenas para não chamar tanta atenção, e a bruxa tinha que assumir que aquelas cores caíam bem na fada. Há muito tempo não via a Kim daquela forma tão... astuta. Tinha se acostumado com a aparência desleixada que a fada assumiu por muitos anos após ser expulsa de suas terras, por mero desmazelo de ter tudo tirado de si.
Agora, a bruxa a entendia, de certa forma. Quando a mente não produz bons pensamentos, o corpo se torna a resposta.
— Pronta? — Perguntou a fada, alinhando as roupas e escondendo uma faca debaixo dos panos, próximo à coxa.
— Creio que sim. Não há muito que se levar para uma terra de feéricos raivosos. — Sorriu ironicamente a outra.
Taeyeon soltou uma risada breve carregada de cinismo. O humor ácido da bruxa estava de volta, mesmo que sem sua magia para agravar aquele quadro de acidez. Prontas para partir, deixaram o cômodo sem antes deixar algumas moedas de prata sobre a cabeceira da cama, como uma forma de agradecer pela estadia breve. E assim que deixaram completamente o alojamento, partiram em direção à Pixyna.
Por ser uma longa caminhada, Taeyeon não mediu esforços para ajudar Yuri na velocidade para que percorressem o caminho até lá. A natureza se tornou um borrão colorido e tropical, onde a bruxa se viu zonza pelo simples fato de estar mais rápido do que nunca fora. Era diferente da magia de transporte, onde tudo explodia em noite e estrelas; a magia de Taeyeon era diferente, pelo fato de que a fada fazia parte da antiga magia ancestral, onde muitas bruxas desejam saber e utilizar.
A Suprema só recuperou-se da viagem após parar repentinamente, chegando próximo a duas grandes árvores de olmo, o material - ironicamente - fatal para feéricos. Seja qual for o lado daquelas fadas habitantes de Pixyna, eles realmente não tinham medo de nada, ao deixarem árvores de olmo tão próxima da entrada de suas terras. Taeyeon descobriu a cabeça e deixou suas asas à vista, fazendo com que sua magia fluísse por seu corpo, deixando seu corpo feérico tomar conta de si novamente. Yuri buscava algo dentro de sua bolsa, encontrando assim um pequeno vidro com líquido azul dentro. A fada ergueu os olhos e, antes de comentar qualquer coisa, viu a bruxa beber todo o líquido, sem fazer careta.
Tinha um cheiro nada agradável.
— Devo perguntar o que é isto que acabaste de beber como se fosse meramente água?
— Algo que preparei para esta ocasião. Leva dias para ficar pronto, mas eu tinha antes de tomar a decisão de vir até ti. — Guardou o vidro dentro da bolsa. — Mas para saciar sua curiosidade, é palo santo, casca de olmo e gerânio azul. Uma perfeita camuflagem para feéricos.
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Cold Blooded
Fiksi PenggemarStephanie Young, ano de 1550, séc XVI. Condenada a ser uma criatura sanguinária imortal de sangue frio. Tudo que tinha era uma sede incontrolável de mudar o destino de sua eternidade, antes que sua mente pudesse envelhecer mais rápido que sua carne...