16. ANJUM

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Não sabia se era dia ou noite, Anjum só sabia de uma coisa, ela iria para a forca. De manhã, quando um guarda veio entregar comida para ela, ele a avisou, em dois dias a coroa da princesa seria exposta para o povo, e junto dela o seu enforcamento.

Ela queria gritar, queria quebrar todo aquele lugar, explodir todos. Seus próprios primos a entregaram para morte, se fosse para ir embora desse jeito ao menos queria ter dado aquele beijo em Sneha, queria ter dito o quanto a ama, que é era a ela quem ela queria e não a coroa.

O tempo foi passando, dentro da cela a garota só conseguia chorar e socar as paredes, na esperança que alguma delas magicamente cedesse. Mas depois de um tempo foi a porta que se abriu.

— Raatri Chor, venha.

— Já é o dia do enforcamento?

— Não. Pare de chorar. Tivemos um… imprevisto. Venha.

Anjum então acompanhou o guarda, foi puxada pelo braço pelos corredores até chegar em uma grande escada, que provavelmente daria para o haveli imperial. O homem começou a subi-la com ela vindo atrás cambaleando, pensando no que a esperava lá em cima. A primeira coisa que viu quando chegou no último degrau foi Mahaanatam, o cavalo estava sendo segurado por um homem, do lado desse se encontravam o Imperador e o comandante do exército.

— Olá, Raatri. Quanto tempo. — o comandante disse. — Curve-se, não vê o imperador aqui?

— Não vou me curvar a quem matou minha família e me prende aqui.

— Ignorante e teimosa como sempre… Curve-se!

— Comandante — o imperador falou com rispide. — Vamos pular essas coisas, temos que resolver algo mais importante. Encantador, por favor.

Então o terceiro homem deu um passo à frente, ele segurava as rédeas de Mahaanatam.

— Olá, senhorita. Prazer, eu sou o encantador do Império. Indo direto ao ponto, posso fazer diversas coisas que um humano normal não consegue, eu treinei Mahaanatam para ser um bom farejador, a obedecer a comandos reais, a proteger e cuidar do Império com lealdade. E assim como ele nos entende, eu consigo entendê-lo. Esse cavalo esteve perdido por dois dias, e hoje apareceu aqui com um dos seus cartazes de procura na boca, estava louco! Ficou balançando o cartaz com o desenho de você para um lado e para o outro, tentou descer essas escadas e entrar nas celas. Quando enfim consegui acalmá-lo, ele começou a relinchar para as flores de hibisco, para sua medalha em homenagem à princesa, para a coroa que você roubou. Então foi isso que entendi: você, Raatri Chor, Ladra da Noite, encontrou a princesa perdida.

Todos na sala ficaram em silêncio, a expressão de Anjum era de confusão. “Eles só podem estar loucos. Princesa perdida? Que princesa perdida o quê, eu só roubei a coroa dela.”

— Não sei do que vocês estão falando…

— Se você quem sequestrou a princesa, revele agora onde ela está.

— Eu não sei do que vocês estão falando! Como assim eu encontrei a princesa? Eu só roubei a coroa dela, ela nem estava aqui para eu sequestrar, como eu sequestraria algo que já está perdido?

Então Mahaanatam saiu cavalgando da sala, e voltou puxando uma mulher pela barra da saia do sari.

— Mahaanatam! Mahaanatam, você está louco? Solte, me solte.

— Imperatriz. — o comandante do exército falou e todos da sala se curvaram, menos Anjum.

— O que aconteceu com o Mahaanatam, por que ele está assim?

O cavalo mordeu a ponta da trança da Imperatiz e a levantou, olhando em direção a Anjum. A garota ficou alguns segundos observando aquela cena, tentando entender o que Mahaanatam queria dizer. "Cabelo? Trança?". Então ela entendeu.

— Sneha. Meu deus, porra, Sneha.

— Olha a boca!

— Mahaanatam, como você sabe que a Sneha é… como?

O cavalo mordeu a corrente da Imperatiz, puxou ela do pescoço fazendo arrebentar e trouxe até Anjum, a jogando na sua mão. Quando a garota abriu o pingente do colar viu o desenho de uma menininha sorrindo, parecia ter uns 5 anos. A sua pele era escura, o seu cabelo tão preto quanto carvão, o nariz e o sorriso idênticos ao de Sneha.

— Se você criou Mahaanatam para obedecer a família imperial, — Anjum falou olhando para o Encantador — então faz sentido o jeito que esse cavalo foi domado tão rápido por Sneha. Ele deve ter percebido...

— Onde ela está, diga agora ou irá agora mesmo para forca. — a Imperatriz disse, atravessando a sala e tirando o colar das mãos de Anjum. — Só podia ser… esse tipo de pessoa, esses… árabes… é claro que foi um desses que sequestrou a minha filha.

— Mãe. — o imperador se aproximou segurando o ombro da imperatriz. - Mahaanatam já teria matado Raatri se fosse ela quem a sequestrou. Mirai está lá fora em algum lugar e essa garota pode ajudar a encontrar, então se acalme.

— Mãe? Você não é o imperador? Ela não é tipo…

— Meu pai morreu há pouco tempo, eu me tornei o imperador então. Enfim, Raatri, se encontrou a princesa poderemos perdoar seus crimes, não será mas enforcada... Mas precisa nos dizer, onde está Mirai?

— O quê? Ravit! Seu pai tentou prender essa mulher por anos!

— Você deveria estar preocupada com sua filha, não em matar mais gente sem motivos. Vá embora, mãe, e me deixe resolver os problemas que vocês não resolveram. — a mulher bufou e deixou a sala. — Raatri, nos diga.

- Eu posso encontrá-la... Ela foi sequestrada por uma senhora, não vai ser difícil lidar com ela e trazer a princesa.

- Você quer lidar com a sequestradora da princesa perdida, que manteve ela consigo durante todos esses anos sem ser pega, sozinha? Você está louca?

— Sabe... eu meio que roubei a coroa de dentro desse haveli e vocês não conseguiram me pegar até eu ser entregue… Eu conheço a floresta. Eu sei como invadir um lugar e roubar algo, nesse caso alguém, de lá. Então é só me emprestar o Mahaanatam, me dar meu niqab e uma faca que eu resolvo isso. Logo logo a princesa estará aqui sã e salva.

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora