10. RAATRI CHOR

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Quando acordou, sentiu algo tampando o seu rosto do sol, era um dos seus niqab. Se levantou e tirou ele dos olhos. A primeira coisa que viu foi Sneha, ela estava de costas, sem blusa, sentada na grama traçando seu cabelo. Raatri sentiu o rosto corar então se virou, vendo que todos os seus niqabs e roupas agora estavam dobrados ao seu lado.

— Bom dia! Você acordou, eu dobrei suas roupas… e coloquei um niqab sobre o seu rosto porque o sol estava batendo nele, ia fazer você acordar cedo que nem eu.

— Obrigada… agora… será que dá para você vestir um choli? (nota: a parte de cima de um sari)

— Ah sim, eu tomei banho no rio… tinha esquecido de terminar de me vestir.

Raatri ficou observando enquanto a menina vestia um chori amarelo e enrolava a saia em torno da cintura, jogando o pallu sobre o ombro (nota: parte final do tecido usado como saia em um sari, que fica sobre o ombro caído pelas costas).

— Raatri, por acaso você teria kumkuma?

— Não, não tenho… — a garota respondeu enquanto colocava um hijab amarelo, pensando que iria combinar com o sari de Sneha.

— Quando tomei banho o tilaka que estava na minha testa saiu, queria colocar outro de novo… mas sem o pó não tem como. Acho que vou ter que ir sem.

— A gente pode comprar um na entrada da cidade, eu compro pra você. Já está pronta para a gente sair?

— Acho que sim, você não vai colocar a outra parte do niqab? A que tampa o rosto?

— Quando eu vou na cidade eu prefiro deixar assim, só o hijab… as pessoas sabem da fama da ladra de niqab… se eu pisar lá desse jeito vão me reconhecer na hora, mas assim ninguém vai saber que sou eu, ninguém por lá sabe como é meu rosto.

Enquanto se levantava, Raatri sentiu um baque nas costa e caiu de cara no chão, logo depois ouvindo um grito de Sneha.

— O cavalo do exército! O que isso tá fazendo aqui?!

Quando levantou o rosto, Raatri teve que segurar o riso. Sneha estava segurando, não uma, mas duas tawas em direção ao cavalo, que realmente parecia estar com medo delas. O cavalo então desviou da menina e veio em direção a ela, que se segurou no chão enquanto o bicho tentava puxá-la pelo hijab.

— Solta ela, solta ela cavalo feio, solta ela! — Raatri ouvia Sneha gritar enquanto batia com uma tawa no focinho do cavalo, que logo saiu de perto. — Quieto! Quieto, cavalinho! Se acalma…calma… Agora senta!

E não é que o cavalo realmente sentou? Com menos de um minuto, Sneha, a garota que nunca havia visto o mundo até ontem, tinha domado um cavalo.

— Isso mesmo! Menino bonzinho, menino bonzinho!

Raatri estava boquiaberta vendo aquela cena, o cavalo olhava feio para ela mas mesmo assim estava sentado aceitando o carinho de Sneha.

— Olha só como ele é bonzinho, Raatri!

— Só com você, né?… eu meio que taquei um pedaço de madeira nele enquanto quebrava a barragem. Acho que ele não gostou muito.

— Ma…Mahaanatam. Mahaanatam? Esse é seu nome? — Sneha disse enquanto lia a medalha em forma de hibisco presa em volta do pescoço do bicho. — “O melhor” em hindi, que nome fofo. É, você é o melhor, você.

— Agora você me trocou por um cavalo? — Raatri estava incrédula, aquele cavalo queria matar elas! Aquele cavalo mataria ela agora mesmo se pudesse.

— Você está com ciúmes? Também quer um carinho debaixo do queixo, Raatri?

A garota não conseguia acreditar. Um cavalo. Sneha estava conversando com um cavalo. Ela então se levantou, arrumou o hijab que o cavalo tinha atrapalhado e começou a andar, deixando os dois para trás.

— Ei, Raatri, vem cá. Não precisa ficar com ciúmes, eu também te dou carinho.

— Se você falar que eu estou com ciúmes mais uma única vez eu te jogo dentro do rio, entendeu?

Sneha estava rindo, então veio correndo para alcançar ela, com o cavalo vindo logo atrás.

— Desculpa! — Sneha falou sorrindo, depois de alcançá-la e enrolar o braço esquerdo em volta do braço direito de Raatri.

— Continua sorrindo que eu te mato.

— Você não conseguiria…

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora