Assim que chegaram no topo da torre, a mãe de Sneha a prendeu em seu quarto, deixando-a sozinha com suas coisas e suas tintas.Depois de um longo dia presa, a menina começou a pintar, fez a cidade em que esteve, a taverna, Mahaanatam, fez os balões com vela que chamava de estrelas, fez a pequena mukut brilhante da princesa perdida, e então fez Anjum.
Sneha começou a chorar vendo o rosto da garota no papel, que desenhou com uma das sobrancelhas arqueadas, assim como ela sempre ficava. Com o niqab verde, que parecia ser o preferido dela já que tinha três iguais. Mas Sneha tinha que esquecer, esquecer daquela risada, esquecer daquela voz repetindo “porra” a cada frase, esquecer do toque das mãos dela, do olhar penetrante e do jeito irritante que ela tinha, mas que Sneha já adorava.
A menina se levantou e colocou os desenhos no chão, olhando para eles ela percebeu algo. Tanto a coroa, quanto a medalha de Mahaanatam e os balões com vela tinham o mesmo desenho, um hibisco amarelo. Sneha olhou à sua volta e percebeu que não só essas coisas tinham o hibisco, o entalhe da cabeceira de sua cama, os potes que sua mãe tinha dado a ela, o óleo que ela usava no cabelo, todas essas coisas também tinham um desenho de hibisco amarelo.
Sneha estava respirando pesado, confusa com suas próprias memórias. Não conseguia se lembrar de quase nada antes dos seus dez anos, mas sabia que tinha algo escondido ali, algo que ela deveria saber. Então como uma avalanche, várias lembranças começaram a inundar os pensamentos da menina.
— Mirai! Mirai, irmã não corra por aí, você vai se perder. — um garotinho um pouco mais alto que ela a levantou do chão carregando-a de volta de onde veio.
— Marelo, marelo… — ela esticou as mãozinhas em direção à árvore enquanto se distanciava.
— Você não pode tirar todos os hibiscos amarelos do jardim, Mirai. Já peguei uma para você hoje…
Então a memória mudou, estava na torre desta vez, sentada em frente à sua mãe, parecia estar do dobro do tamanho da memória de antes.
— Pronto, seu cabelo está pronto… — mamãe falou colocando um hibisco amarelo no final de sua trança.
— Por que sempre o mesmo, mamãe?
— Por que é sua flor, minha princesa.
Ela enfim entendeu, entendeu porque estivera presa todos esses anos. Se lembrou da noite que foi tirada de casa e trazifa para cá. Entendeu o porquê de sua mãe tentar tanto protegê-la do mundo de fora: ela tinha medo que descobrisse que o maior perigo a si esteve ali o tempo inteiro. Sneha se levantou, tomou impulso e chutou a porta do quarto, quebrando a maçaneta foi direto em direção da pessoa a enganara todo esse tempo.
— Sneha? O que está fazendo? Que barulho foi esse?
— Sneha?… Mais uma das suas manipulações, mais uma de suas invenções, não é?
— O quê? Garota, está louca?
— Diga a verdade, mamãe, meu nome não é Sneha.
- Você teve um pesadelo e agora está achando que é realidade de novo, Sneha?
- Mamãe! Pare de mentir! Eu já sei... Então só diga.
- Eu não sei do que você está falando, volte para o seu quarto agora!
- Se não vai dizer então eu digo... Eu sou a princesa perdida, não sou? Você me sequestrou.
A senhora então começou a rir, passando a mão pela trança da princesa.
- Eu apenas tomei o que era meu por direito...
- O quê? Você... Então eu realmente. Eu vou embora.
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Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de Enrolados
RomanceSneha viveu quase 18 anos presa dentro de uma torre, convivendo apenas com sua mãe. Alguns dias antes de seu aniversário de 18 anos uma garota escala a torre e entra em sua casa, é Raatri Chor, a Ladra da Noite, a criminosa mais procurada e conhecid...