5. SNEHA

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O primeiro dia foi fácil. Raatri não era uma péssima companhia, ela ria com as perguntas de Sneha, respondia a maioria delas — porque se negava a dizer o que era “porra” — e cuidava da garota. Quando estava com fome, fazia questão de encontrar alguma fruta para ela comer. Quando reclamou do frio, Raatri emprestou um dos seus niqab para ela se cobrir.

— Sabe, é legal roubar.

— Não, não é.

— É sim, olha, enquanto os ricos estão lá cheio de dinheiro explorando a gente… eu posso só entrar, pegar um pouquinho e viver minha vida. Eles não vão sentir falta!

— Você não roubou a coroa de uma princesa? Aposto que DISSO as pessoas sentem falta.

— Ela tá perdida mesmo, talvez até morta, então e daí? Mukut estava lá, parada, sem uso nenhum. Agora posso vender e fazer um bom uso do dinheiro!

— Você é louca.

— Diz quem estava me ameaçando com uma tawa até ontem.

— Você desmaia só de eu bater com ela na sua cabeça, então pelo menos funciona.

— Você tem medo que eu corte seu cabelo.

— Você rouba as pessoas.

— Você quer ver um monte de balão com luz voar no céu.

— Você surta por causa de um pedaço de pano.

Então Raatri ficou em silêncio e começou a andar mais rápido, deixando Sneha para trás. Mesmo sendo menor ela era muito mais ágil que a outra, que teve que começar a correr para alcançar.

— Chor! Para de correr. Você ficou brava?

— Eu sabia que alguma hora você iria dizer algo assim. Não é só um pedaço de pano!

— Tá, niqab. E daí se ele tem nome?

Raatri puxou a faca que guardava na beirada da calça e se virou apontando ela em direção à menina.

— Olha aqui, já basta um país inteiro enchendo a porra do saco da gente por causa da nossa religião, não preciso de ouvir mais merda de uma menininha boba que morou a vida inteira em cima de uma torre. Então cala a sua boca e fica quieta, ou eu te jogo de cima desse monte e você vai sair rolando até lá embaixo.

— Tá bom, desculpa, foi mal… eu nem sei o que é religião, não sabia que ia ofender, não falo mais do… niqab.

— Pera, você não sabe o que é religião? Você tem um tilaka (nota: o ponto vermelho que hindus usam na testa), como não sabe?

— Mamãe diz que é para proteger, para não deixar nossa energia escapar…

— Isso é uma tradição hindu. Você não sabia? Uma tradição religiosa, assim como a minha de me cobrir com o niqab, entendeu?

— Ah… então o seu também é pra não perder energia?

— É diferente... Mas é difícil explicar, cada um tem sua interpretação, para mim é para me proteger e também é minha forma de exercer a minha religião, mas outras mulheres e pessoas fazem diferente e isso não é um problema.

— Acho que entendi.

Raatri, que estava esperando julgamento, ficou surpresa com a reação de Sneha. Normalmente as pessoas sempre a criticavam, quando tentava explicar para um hinduísta nem sequer conseguia terminar a explicação. Ela olhou para a garota que andava ao seu lado pulando e sorrindo, e acabou sorrindo também.

— Obrigada por entender.

— De nada, eu acho.

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora