6. RAATRI CHOR

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- Estou ouvindo algo. - Sneha falou agarrando o braço da outra garota.

- Menina, larga meu braço. Deixa eu tentar ouvir.

Livre do aperto de Sneha, Raatri se abaixou e colocou o ouvido no chão, tentando escutar passos se aproximando ou qualquer que fosse a coisa que a menina ouviu.

- Eai? Ouviu?

- Fica quieta, estou tentando entender o que é... é como se fosse algo batendo no chão, vários...

Então Raatri se levantou, agarrou a mão esquerda da outra e a puxou para trás de uma árvore grande.

- O que é?

"Por que essa menina só não cala a boca?", ela estava pensando. Ainda era noite do primeiro dia de viagem, mas ela já havia escutado tanta pergunta, tanto blá blá blá, já estava morrendo de cansaço e a cabeça começava a doer.

- São cavalos, podem ser do exército imperial e você não quer que o exército me pegue aqui... ou podem ser meus primos, mas eu traí eles, então você também não vai querer que eles nos encontrem. Então fica calada, e me segue, agachada, bem devagar e sem fazer barulho. Eu sei de um lugar que a gente pode comer e dormir aqui por perto.

Raatri Chor, com a agilidade de uma boa ladra, passava de árvore em árvore como um vulto, e quando Sneha tentou imitar sua cambalhota a única coisa que conseguiu foi cair de costas no chão. Chor suspirou então desistiu, aquela garota era um desastre, a única opção seria carregá-la. Antes que ela pudesse reclamar, Raatri a pegou pela cintura e jogou por cima de um dos seus ombros.

- Ei! Me soltar Raatri! Ou vou gritar seu nome e eles vão vir pegar você!

- Você é lenta, lerda e desastrada, então acho que é mais fácil eu sobreviver com você gritando meu nome e o exército vindo atrás do que esperando você tentar imitar o que eu faço pelo caminho. Mas mesmo assim... - então ela enrolou uma ponta de seus niqabs e enfiou na boca da garota - Pronto, agora quietinha.

Ela era rápida mesmo com um peso para carregar, enquanto corria entre as árvores ouvia o barulho dos cascos de cavalo se distanciando, e o som das músicas da taverna se aproximando. Logo logo não teria mais que carregar Sneha e aguentar aquela trança imensa batendo em seu rosto.

Ao pensar nisso ela percebeu o quanto aquele cabelo era cheiroso e macio, sua vontade era de pegar ele nas mãos e sentir a textura parecida com terra fofa e o cheiro do óleo de hibisco. E então se lembrou, venderia aquele cabelo e lucraria rios de dinheiro com ele, tão macio, cheiroso, grande e brilhante, era perfeito, os maiores ricos do Império pagariam fortunas por ele. Ela sorriu só de pensar na grana que ganharia.

Seus pensamentos foram interrompidos quando enfim chegaram na taverna, de fora era possível ouvir música e conversa alta dos homens que estavam lá dentro. Raatri abaixou a garota a colocando sentada na grama, e tirou a ponta de seu niqab de sua boca, se arrependendo na mesma hora.

- Sua... sua... SUA PORRA! Você me machucou! Estava apertando minha barriga esse tempo todo, minha cabeça está doendo por ficar de cabeça para baixo, minha perna e braços dormentes, e minha boca cheia de... sujeira desse seu niqabs. Ei, para de rir!

Raatri estava morrendo de rir. "'Sua porra!' por acaso ela estava tentando xingar?".

- Ai, ai, como você quer que eu não ria? "SUA PORRA!", isso é o quê? Um xingamento?

- Você usa como um!

- Ai menina, você é difícil mas ao menos é engraçada. Vem, vamos entrar. - a garota ofereceu um braço para Sneha se apoiar para se levantar, mas a menina era teimosa, se virou e levantou sozinha toda desajeitada.

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora