2. RAATRI CHOR

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- RAATRI!!! Sua vadia! Nós vamos pegar você!

Os gritos ecoavam pela floresta, enquanto Raatri andava entre as árvores, sorrindo e rindo alto pelo último feito.

- Podem me chamar do que quiserem! Quem está com a mukut (nota: nome de uma coroa indiana) sou eu! Vou vencer e ficar rica!

- RAATRI! Ou você volta aqui agora e resolvemos isso, ou nós vamos MATAR você!

- TCHAUZINHO!

A garota era uma ladra de primeira, ela e os seus dois primos haviam crescido roubando, sobrevivido pelo roubo e suas profissões agora eram isso, roubar. Até reis e imperadores de terras distantes já enviavam pedidos para os ladrões mais conhecidos do continente, querendo usá-los para roubar outros imperadores e inimigos.

E foi isso que os três haviam feito, entrado no haveli (nota: contrução indiana que é tipo uma mansão, bem chique) imperial e roubado a mukut feita para princesa perdida, que seria exposta no próximo Diwali como ostentação do império. Agora levaria para o império inimigo, ganharia uma boa grana, que poderia lhe fazer viver bem pelo resto da vida. O trato era dividir entre os três... mas se haviam roubado tanto até então, porque não roubar dos próprios comparsas?

- Ai merda. - a garota murmurou depois de passar a mão pela cabeça e perceber que seu niqab estava fora do lugar. Então pegou o pedaço de espelho que guardava dentro da bolsa de fibra e concertou.

Ela continuou andando pela floresta, jogando a mukut de uma mão para a outra, enquanto procurava um lugar onde poderia descansar. Até desequilibrar, sair tropeçando monte abaixo e com um baque cair de costas na terra.

- Que saco - xingou a menina depois de perceber que a coroa roubada havia caído em uma pilha de folhas - Quem faz uma pilha de folha no meio de uma floresta? Para que varrer se sempre vai cair mais folha...

E então ela percebeu, a pilha escondia uma pequena abertura na montanha, que provavelmente daria para uma caverna. Raatri se abaixou e viu luz saindo dele, pelo buraco dava para ver que no fundo na caverna havia uma grande clareira entre as montanhas. Começou então a tentar passar por ele, era pequeno, mas com a destreza de uma ladra foi necessário pouco esforço para chegar do outro lado, puxando a bolsa e a coroa consigo. Ela andou pela caverna e assim que estava chegando na saída para a clareira, a garota ouviu uma voz.

- Tchauzinho, Sneha!! Mamãe vai buscar suas tintas, açúcar e manga para seus doces, em uma semana estou de volta! - uma senhora gritou.

Então escutou os passos da mulher na grama, se aproximando cada vez mais da caverna. Raatri logo correu para se esconder em uma cavidade na caverna, de um jeito que a senhora só iria encontrá-la se estivesse procurando. Quando os passos passaram por ela e se distanciaram de novo, a garota ouviu o barulho de uma pedra se movendo, luz do sol preencheu a caverna e ela se encolheu mais no buraco em que estava, torcendo para que a mulher não se virasse e visse ela lá. Mas a mulher passou pela abertura da caverna, logo depois empurrando a pedra para o lugar.

A ladra voltou a andar pela caverna, e quando saiu para a clareira viu uma grande torre, maior que qualquer haveli que já havia visto, construída bem no meio do vale entre os montes, mais alta que todas eles. Raatri saiu correndo, era a oportunidade certeira para descansar e ainda roubar mais um pouco. Pela forma como a senhora havia falado, provavelmente apenas uma menina deveria estar nessa torre, não seria difícil desacorda-la e amarrá-la em um canto qualquer enquanto roubava sua própria casa.

Mas como aquela mulher havia descido da torre? Não encontrou sinais de entrada, nenhuma escada, nem mesmo uma corda para subir. Só que isso não importava, Raatri tinha escalado o haveli imperial e descido em uma corda para roubar essa coroa, não seria difícil subir uma simples torre com as ferramentas que tinha. Com um arpão atirou um gancho amarrado em uma corda para o alto até ele encaixar no beiral da janela da torre, e começou a escalada.

Quando chegou na janela pulou para dentro do cômodo e se virou para puxar a corda que havia usado para subir. Mas antes mesmo que pudesse começar a puxar, sentiu uma pancada na parte de trás da cabeça e perdeu a consciência.

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora