3. SNEHA

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  Sneha estava presa há quase 18 anos, mas ainda assim era bastante esperta, quando o gancho apareceu na janela a garota tomou um susto, pensou em sair correndo e jogar ele de volta de onde veio. Mas então algo, ou alguém, começou a escalar a torre, ela escutou cada passo pelas pedras, observou enquanto o gancho se mexia. Então começou a desesperar. Alguém estava subindo a torre. Alguém que obviamente não era sua mãe. Alguém. Ela nunca tinha visto ninguém além da mulher que a mantinha presa! E se fosse uma das pessoas perigosas que sua mãe sempre dizia? E se estivesse ali para cortar sua trança e sequestrá-la?

  Sneha correu para a cozinha e pegou a maior tawa (nota: um utensílio indiano que serve tipo como uma frigideira, mas parece uma colher de pedreiro com a parte de metal redonda) que encontrou, voltando para a janela e esperando de costas na parede enquanto ouvia a pessoa se aproximar cada vez mais. De lado viu alguém um pouco menor do que ela, com um tipo de véu cobrindo a cabeça e metade do rosto, pulando o parapeito da janela e se virando de costas. Sem pensar duas vezes, levantou a tawa e bateu na cabeça da pessoa.

  Como se fosse um saco vazio, Raatri caiu desmaiada no chão, enquanto Sneha apontava o utensílio de cozinha em sua direção.

  — Quem é você? O que você quer aqui? O que você quer comigo?

  Mesmo esperando, a garota não obteve uma resposta, então cutucou aquela que estava deitada no chão para ver se respondia e nem mesmo se mexeu. Deduziu que estava dormindo, aproveitou para pegar tudo que ela carregava — uma bolsa de lã, com um pedaço de vidro espelhado, um tipo de coisa grande circular brilhante, alguns outros panos como o que estava na cabeça dela e outras roupas — e esconder em um buraco debaixo de um azulejo no chão.

  Sneha pegou uma cadeira na cozinha e com dificuldade levantou Raatri, sentando ela na cadeira, e enrolando uma corda em sua volta.

  — Pronto, agora quando você acordar não vai me machucar, roubar meu cabelo, ou sei lá me jogar de cima da torre… primeiro, deixa eu tirar esse pano e ver porque você se esconde atrás dele.

  Então a garota tirou o niqab, a peça que cobria o nariz e a boca e o véu que cobria os cabelos, não encontrando nenhum motivo aparente para aquela pessoa estar com eles. Era uma menina, agora ela podia ver, mas não tinha nenhuma cicatriz, não era feia, ela achou bem bonita na verdade, e muito menos careca. Por que ela estava com aquele negócio então?

  Enquanto Sneha estava sentada no chão analisando os panos, tentando descobrir o segredo por trás dele, sentiu a garota se mexer na cadeira e tomou um susto. Mais rápido do que imaginava possível, Sneha pegou a tawa que havia deixado no chão e se levantou, apontando o objeto em direção à menina que começava a acordar.

  — Ai, porra… minha cabeça… — mumurou Raatri enquanto abria os olhos. — O que… quem é você?

  — Você quem tem que me dizer! Quem é você? E o que é isso que você disse? “Aiporra”?

  — Ha ha ha. Não tenho paciência para brincadeiras, quem é você? O que é isso na sua mão? Você tá me ameaçando com uma tawa?!

  — Para de mudar de assunto.

  — EI! Cadê o meu niqab? VOCÊ!! Você tirou ele! Devolve, agora!

  — QUEM é você?

  — Sou a incrível Raatri Chor, porra. Tá satisfeita? Agora me dá o meu niqab!

  — Raatri Chor? Ladra noturna? E você falou de novo… porra… niqab… O que é? Estou mandando!

  Anjum começou a rir alto, enquanto olhava aquela situação. Uma garota, com uma trança enorme, parada ali ameaçando ela com uma tawa, enquanto perguntava o que era “porra”.

  — Primeiramente, você não vai querer saber o que é porra. Não literalmente. E niqab é o que você pegou de mim. Devolve.

  — Eu amarrei você, agora está presa sob meu… comando! E eu tenho uma tawa e sei usar!

  Sneha estava morrendo de medo, tremendo e suando, vendo a expressão séria da garota à sua frente. Raatri mantinha o olhar sério, até levantar uma das sobrancelhas e levantar um canto da boca em um sorriso.

  — Primeiro — Raatri falou baixo, enquanto facilmente se soltava da corda e fazendo Sneha se afastar com medo. — você não me amarrou, você só enrolou a corda em volta de mim. Segundo — Raatri se levantou em um pulo e pegou o niqab que estava no chão. — ninguém tira o meu niqab sem o meu consentimento, está ouvindo? Ninguém. E por último… — antes que Sneha pudesse reagir, a menina se aproximou mais, chutou a tawa da mão dela, que saiu voando pelo ar e caiu bem em sua mão direita. — sério mesmo que você pensou que iria me ameaçar com isso?

  — Não me mata… — a outra garota respondeu se afastando, enquanto Raatri seguia ela com a tawa na mão.

  — Por que eu não deveria?

  — Não corta meu cabelo. Não me sequestra. Não me joga dessa torre. Por favor não, por favor por favor.

  — O quê? Não cortar seu cabelo?

  — NÃO ME MATA! Eu escondi seu círculo brilhante e seus outros niqabs iguais essw daí EIN, se você me matar nunca mais vai achar!

  Raatri então percebeu que sua bolsa não estava mais com ela, e todo o ódio que estava sentindo só aumentou.

  — Ah não, só pode tá de brincadeira… Garota, cadê minha bolsa?

  — Escondida.

  — Então devolve.

  — Não, não quero. Você está me ameaçando!

  — Com a porra de uma tawa, você acha que uma tawa vai te matar?

— Você caiu no chão só com uma pancada dela, e aí? E para de falar porra se não vai me explicar o que é!

  — Allah que me perdoe se eu acabar te matando! Para de enrolar, me dá a bolsa!

  — Vamos fazer um trato então…

  — Tá bom, um trato, eu deixo você viver e você me dá a minha bolsa, fim, cadê?

— Não! Por favor, eu quero outra coisa, por favor!

  Raatri jogou a tawa longe e se aproximou, pressionando Sneha contra a parede e olhando bem nos olhos dela.

  — Olha aqui, eu preciso daquela bolsa, ou você me devolve ou eu… corto o seu cabelo! Entendeu?

  Antes mesmo que ela pudesse continuar a falar, Sneha pegou outra tawa que estava pendurada na parede logo atrás dela e bateu na cabeça da garota de novo.

Estrelas Flutuantes - Uma releitura sáfica de EnroladosOnde histórias criam vida. Descubra agora