♣ Trentacinque ♣

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Um corte profundo escorria sangue da sua coxa esquerda, se doeu em algum momento Dante não se lembrava mais, apenas um leve formigamento. Ele passou a mão sobre e depois esfregou na calça, seus olhos queriam fechar pela agonia em sentir o líquido quente empoçando em suas mãos.

Ele tentou se levantar mesmo que as pernas fracassassem e ele precisou se apoiar em algo, suas forças queriam lhe deixar, mas Dante as agarrava com ainda mais força e determinação, enfim de pé, ele suspirou. Agora era apenas uma porta que o separava do seu destino final, um frio escorreu sua espinha, um medo se apoderou dele por mais que cada fibra do seu corpo insistisse em continuar.

Não sabia o que esperar do outro lado, somente torcer para que o universo fosse piedoso e seu filho estivesse são e salvo. Dante o tiraria das garras de Antônio, era sua missão e seria cumprida.

Tudo o que passou horas antes matando e quase sendo morto até chegar ali podia ser esquecido, não serviria para mais nada além de lembranças conturbadas, Dante só precisava segurar seu Asaf nos braços e com segurança tirá-lo de lá e depois sua vida não seria mais sua, ele entendia e tinha aceitado. Estava mais do que na hora de quebrar esse ciclo de violência e abuso.

Ele empurrou a grande e pesada porta de madeira lentamente enquanto ouvia um forte rangido, Dante não encontrou nada a princípio, então a passos lentos ele caminhou alguns metros e virou para um dos lados…

-Finalmente chegou quem eu estava esperando -um sorriso doentio e maléfico abriu na face daquele homem.

Ele se vestia como se fosse para um espetáculo, era um terno vermelho sangue com preto e alguns detalhes na gola em branco, seu cabelo estava arrumado para trás expondo fios e mais fios brancos que antes não haviam ali, mas não foi isso que Dante reparou e sim como Antônio segurava firmemente uma arma em direção a um cesto que Alonso segurava enquanto também sorria como um psicopata.

-Cadê meu filho?

-E é assim que você já chega? Nem pergunta como eu estive durante todos esses meses? Como seu pai está?

Um sentimento de nojo o atingiu como uma onda violenta atingindo um barco no meio do oceano, uma súbita vontade de vomitar subiu, mas ele se manteve firme em sua expressão apática.

-Meu filho -insistiu.

-Se você quiser dessa forma, está bem! -Antônio exclamou empurrando o revólver em direção ao cesto e no segundo seguinte um choro estridente cortou o ar.

O coração de Dante estagnou naquele momento.

-Seu desgraçado! -Mas quando ele fez menção em partir para cima do homem, foi detido com palavras.

-Eu não faria isso se fosse você -Antônio suspendeu a arma até a direção dos olhos do ômega -sou eu que pode matá-lo, não o contrário.

-Deixe meu filho em paz!

O bebê ao ouvir a voz do pai chorou ainda mais forte e desoladamente. Dante queria chorar naquele momento, queria chorar com o desespero por seu filhinho estar naquela situação.

-Passe ele para mim, Alonso.

-E por que eu faria isso? -O homem perguntou rindo.

-Você não tem nada a ganhar com isso.

-Aí que você se engana -Antônio tomou parte -ele está do meu lado até o fim, eu o tornarei meu herdeiro.

-Ele já é seu herdeiro.

-Não! Ele não é. É você, Dante. Se esqueceu que é meu primogênito?

Ele olhou com raiva para ambos, seu Asaf ainda estava chorando, mas parecia que o cansaço o estava atingindo.

Rei de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora