Maria estava morta.
Maria Fiorentina Bertolini Bianchi estava morta após dias presa em uma cama de hospital depois de um traumatismo craniano que a deixou em coma. Ela já era velha, chata e obsoleta, mas os Bianchi sempre foram assim. Talvez só quisessem uma boa desculpa para mascarar seus preconceitos com tradições que envolviam superioridade e submissão, além é claro da omissão de abusos dos mais variados tipos, mas quase ninguém nunca se importou de fato. Isso também fazia parte das tradições.
-Não acredito que somos nós que temos que arrumar as coisas do velório -Patrizia confessou passando um lenço sobre o rosto que formavam gotículas de suor, ela usava uma roupa preta comprida que fazia esquentar ainda mais.
-Ela foi sua sogra por três décadas, tenha um pouco de consideração -Silvia falou terminando de pôr mais rosas brancas sobre o corpo da falecida mulher. Seus olhos com o passar dos dias já tinham se tornado órbitas inchadas e vermelhas após tanto tempo chorando -perdemos mais uma pessoa de nossa família para aquele demônio -mais lágrimas caíram -eu perdi tudo… não tenho mais nada, mais ninguém, como pode? Três enterros em menos de uma semana. Meu filho, meu marido e agora minha sogra, mas nem mesmo houve corpo para velar pela alma de Antônio!
-Mamãe, sente-se um pouco, por favor -Lúcia apareceu segurando um dos seus braços para um sofá próximo. Apesar de se tratar de um velório, a jovem mulher era uma das pessoas que mais estavam bem, usava um vestido solto preto e seus lindos cabelos tinham crescido ainda mais com os anos, ela também tinha engordado mais, as feições de suas bochechas agora tinham mais vida. Viver longe dos Bianchi causava isso.
Silvia revirou os olhos pelo toque repentino da filha. Seu coração amargurado ainda não tinha aceitado que sua filha tivesse fugido com um dos funcionários da casa e ainda por cima grávida. Inclusive a criança estava naquela mansão brincando em algum canto enquanto sujava as tapeçarias com suas mãos gordas e mexicanas.
-Eu ficaria melhor se o culpado por todas nossas desgraças estivesse morto!
-Mamãe -ela falou docemente -vocês têm sorte de estarem vivos, aproveitem isso.
-Desde quando estar viva é o suficiente para mim?! Eu sou a esposa do líder de uma máfia.
-Era, mamãe, era.
-Nossas famílias da Itália estão a caminho, vamos pedir por justiça! Eles farão algo!
-Mãe, está na hora de acabar com isso. Chega com essa sede de sangue, só mais pessoas vão sair machucadas, mais pessoas de nossa família vão sair feridas ou pior, mortas!
-A culpa é daquele maldito! Aquele desgraçado que só destruiu nossa família desde o momento que entrou por aquela porta!
-É graças a ele que estou viva.
Silvia a olhou com uma cara feia como se desaprovasse aquele fato.
-Você ainda é uma menina tão tola! Acha mesmo que seu pai mataria você?! Caralho! -Silvia se exaltou levantando do sofá em que estava -era você, Lúcia! Era você que deveria ter se casado com Alev Yildiz! Era para você estar vivendo toda pomposidade que aqueles vermes poderiam te dar! Não o Dante e ao menos evitaria tudo isso, seu irmão está morto! O Alonso está morto! Seu pai está morto! Sua avó está morta! Você também tem culpa nisso!
-Chega, mãe! -Lúcia falou com uma expressão firme -culpar é a única que vocês dentro desta casa sabem fazer! Por que não assumem as suas responsabilidades apenas uma vez, só para variar?! Queria que eu ficasse e que meu filho e meu marido fossem mortos?! Pelo que eu deveria ficar? Pela a senhora? Pelo papai que ameaçava minha vida? Pelo meu sobrenome que nunca me deu nada? Céus! Eu nem devia ter saído do México com minha família para chegar e receber isso! -Ela se virou e saiu pisando firme para o jardim onde Juan e Álvaro estavam.
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Rei de Copas
RomanceOs Bianchi e os Yildiz são inimigos mortais. São máfias grandes e poderosas que dominam Newark e rivais, mas devido a uma morte brutal de um membro, ambos decidem que está na hora de acabar com a guerra firmando um acordo de paz, um casamento arranj...