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Finalmente as aulas acabaram, estava a ver que não saia da escola viva, o Harry em todas as aulas me chateava e consumia as minhas forças enquanto se ria da minha cara. Estou a caminho de casa e continuo com os olhares de todos em mim, parece que não têm mais nada para fazer da vida senão ver uma médium a passar a estrada.

Chego a casa e entro. Sempre que entro, aquelas coisas começam a chatear-me mas, desta vez foi diferente, eu entrei e não ouvi nada, fui à cozinha, peguei numa maçã e fui para a sala de estar. Isto é muito estranho, das outras vezes, tentavam tirar a minha maçã e começavam a aproveitar a situação para consumir o meu medo mas, desta vez, não estava ninguém. Sentei-me no sofá e comecei a comer. Peguei no comando para ligar a televisão, clico no botão para ligar mas não liga, clico outra vez mas não faz nada.

Passado um pouco, começa a aparecer umas riscas vermelhas na televisão, como era de esperar, o medo apoderou-se do meu  corpo. As riscas começam a ficar maiores, levanto-me e vou para trás do sofá. A televisão começa a fazer barulhos e qualquer coisa começa a gritar. Salto com o medo e bato com as costas na mesa atrás de mim. Olho novamente para a televisão e começa a aparecer uma espécie de corpo deitado mas estava todo deformado, a minha tarde estava  ser  demasiado normal, aquela coisa na TV começa a mexer-se e arrepios percorrem o meu corpo.

A coisa levanta-se e começa a andar, se aquilo é andar, para a frente como se se aproximasse de mim. Não conseguia andar para trás, com o medo a percorrer o meu corpo, estava praticamente petrificada, só consegui andar para trás de quatro. A figura estava cada vez mais "perto" e começa a sair uma espécie de mão pela televisão. O medo acumula-se no meu corpo e começo a ficar com vontade de chorar, nunca me tinha acontecido nada disto.

A figura coloca a cabeça de fora e começa a rir-se. Continua a fazer os movimentos para conseguir sair da TV, quando consegue, só se vê ela a endireitar-se e tudo a estalar como se não fizesse exercício à muito tempo. Toda curvada como o corcunda de notre dame, com um cabelo na frente da cara, com pernas que pareciam ter sido trocadas, começa a andar e eu saiu debaixo da mesa mas tento não fazer barulho. 

Aquela coisa deve saber que estou aqui para aparecer assim, eu acho que vou vomitar só de ver o aspecto daquilo, diria que, em vida, era uma menina que sofreu bastante, tinha montes de cicatrizes nos braços, o seu vestido estava todo rasgado e conseguia ver mais cicatrizes.

Dou um passo e bato na parede. A cabeça dela move-se lentamente para a minha figura, ficando um pouco assim, até que grita e começa a correr na minha direcção, não pude  fazer mais nada e correr também. Oh meu Deus, estou tão acagassada neste momento que não sei o que estou a fazer. Começo a chorar e subo as escadas que davam para o meu quarto mas aquela coisa agarra-me o pé e começa a puxar-me para baixo.

"Não... por favor... não..." grito mas ainda puxou com mais força.

Quando chego ao pé dela, ela ri um pouco para mim e, de repente, agarra-me o pescoço e levanta-me. Empurrou-me contra a parede e fica a olhar para mim, nesse momento, vejo os seus olhos pretos e sem vida. Sufoca-me com mais força e aproxima a sua cara, se é que lhe posso chamar cara, da minha e começa a gritar. Oh meu Deus... começo a chorar ainda mais.

"Por favor..." peço quase sem voz.

De seguida, começo a sentir-me sem forças e o sufoco estava a apertar cada vez mais. A figura é tirada da minha frente e eu caiu no chão sem forças. Só vejo as pernas de uma pessoa, de seguida, a escuridão toma conta de mim.

{...}

Acordo, acho que estou na minha sala de estar, tenho um pano molhado na cabeça, uma manta por cima do meu corpo e este dói-me todo. Abro lentamente os olhos e uma imagem desfocada aparece. A imagem começa a ficar nítida e salto quando percebo quem é.

"O que fazes aqui, Harry?" pergunto quando tenho a certeza de que consigo falar.

"É assim que me agradeces, caso não saibas, eu mereço pelo menos um 'obrigada'... e um beijo se quiseres dar..." ele faz um sorriso estúpido.

" 'Obrigada' porquê?" pergunto, não me lembro de nada, isso é normal?

"Porque eu te salvei de um sugador de almas, não te lembras do que aconteceu aqui?" ele aponta para a televisão e para o resto da sala, levanto-me um pouco e vejo que está tudo fora do lugar.

"Não, não me lembro mas... obrigada..." digo sem o encarar. "Porque é que me ajudaste, podias ter ajudado o teu amigo?"

"Aquilo não é meu amigo, ou melhor, os meus amigos não se comparam àquilo." ele diz, tenho a sensação de que os seus olhos estão em mim. "E eu disse que estou aqui para cuidar de ti, sei que te faço mal mas é só para brincar, tu ficas toda alterada quando te toco ou..." ele tenta agarrar o meu braço mas eu não deixo. "Porque é que foges?"

"Primeiro, eu não confio em ti, segundo, tu não fazes ideia do que os teus amigos me fazem e lá sei se tu não tens as mesmas intenções!" respondo e ele faz uma cara confusa.

"O que é que eles te... fazem?" ele pergunta. O quê?

"Porque é que queres saber?"

"Para saber, tu ficas cheia de medo só de falar comigo!"

"Porque és um deles!" tento-me sentar e Harry levanta-se para me ajudar. "Não, não me toques!"

"Vês? Estava a tentar ajudar-te e tu das-me uma patada, fica a saber que nem todos os demónios são iguais." ele diz aumentando a voz.

"Queres saber, não queres?" digo e tiro a manta de cima das minhas pernas e coloco as preneiras para cima para mostrar as minhas marcas pretas. 

"Ele consomem-te tanto assim?" ele senta-se à meu lado e eu assinto.

"E não é só isso, eles... eles... eles abusam de mim." respondo e uma lágrima cai.

"Porque deixas?"

"Porque tenho medo, na primeira vez eu opus-me e eles espancaram-me mais do que alguma vez me espancaram. Tu não tens a noção de como é pensarem que andas nas drogas ou que eu caiu da cama ou que eu faço isto para ter atenção." afirmo e choro ainda mais.  

"Ah... queres que te core?" ele pergunta, encaro-o e faço uma cara confusa."Sim, tu ouviste bem, queres ou não?"

"Porque é que me haverias de fazer isso?" estou confusa, até estou surpreendida.

"Queres ou não?" ele começa a ficar irritado.

"Não!" respondo e ele faz uma cara confusa. "Para quê curar se esta noite eles vão fazer talvez pior!" 

"Podes confiar em mim!" ele afirma e aproxima-se mais de mim.

"Harry... eu não consigo." digo e levanto-me, tenho de arrumar a casa antes que os meus pais venham.

Next To You || h.s. #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora