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 Acabo de vestir o meu vestido preto, hoje é o funeral do meu pai e devo dizer que está a dar-me um pequeno aperto no coração. Por mais que eu tente pôr na cabeça que ele está morto, não consigo pôr lá dentro porque sei que o vou ver depois do seu funeral. Harry entra pela porta e eu fico a olhar para ele com um sorriso.

"O que foi?" ele pergunta aproximando-se.

"Ficas sexy de fato!" respondo e ele sorri.

"Eu sei!" ele diz, convencido. "Queres ajuda?" assinto e viro-me de costas para ele.

As suas mãos frias vão em direção ao fecho do vestido, levemente, puxando-o para cima mas ao mesmo tempo tocando na minha pele quente. Quando chega  ao fim, os meus cabelos são puxados para o lado e um leve beijo é depositado no meu pescoço. Harry envolve os seus braços na minha cintura e poisa o queixo no meu ombro. Ficamos a admirar-nos no espelho à nossa frente, em silêncio.

"És linda, Day!" ele afirma quebrando o silencio.

"Tu também não ficas atrás." falo sorrindo e ele ri-se deixando um beijo na minha bochecha.

"Bem, vamos lá, faltam 20 minutos." Harry afirma, eu assinto e agarro na flor branca para o meu pai.

Saímos de casa e fomos para o cemitério. Nunca gostei de ir ao cemitério porque é onde estão as pessoas mortas e isso faz-me imaginar quantas lágrimas caíram naquele chão de cimento, deitadas por pessoas que perderam pessoas que amavam. Quando eu era pequena, e antes dos meus pais me começarem a tratar abaixo de cão, eu ia com a minha mãe ao cemitério e perguntava o que fazíamos ali. Ela dizia que era onde as pessoas que mais gostamos vão parar, que por mais que tentemos, não conseguimos ficar com elas para sempre e temos de as deixar partir. 

Nunca pensei em ter de deixar alguém que me fosse querido e sempre pensei que não voltaria tão cedo a este lugar. As memórias dele me fazem querer desaparecer ou tentar apagar o passado. É o lugar onde apenas existe dor e sofrimento. Onde as lágrimas caiem mesmo sem querer que caiam. Onde o nosso coração se parte quando vemos a campa do nosso passado a ser enterrado mas que fica sempre na nossa memória.

Uma vez, estava neste preciso lugar e vi uma senhora, que andava por volta dos 30 anos, a chorar, quer dizer, não se via bem porque ela tinha os óculos de sol nos olhos. Eu senti a sua dor e sofrimento quando lhe pôs os olhos em cima. Larguei a mão da minha mãe e fui ter com a senhora. 

"Porque está a chorar?" perguntei e ela olhou para mim, limpando rapidamente as lágrimas.

"Por nada, pequena... eu estou bem..." ela respondo olhando para mim, quer dizer, penso que ela estava a olhar para mim.

"Quem é?" perguntei apontando para a foto que tinha na campa, era um senhor não muito mais velho que ela.

"É o meu marido... ou melhor, era o meu marido!" a sua voz quebra-se no fim e eu caminho lentamente até ela.

"O que aconteceu?" eu era tão curiosa e ainda sou mas agora contenho-me mais.

"Nada de mais, querida... porque não vais ter com a tua mãe?" ela começa a andar para ir embora mais eu não deixo e agarro a sua mão.

"Porque não me quer contar? Eu sento que você está a sofrer e que o seu coração não aguenta com tanta dor. Fale comigo, talvez, suavize o seu aperto." a mulher olhou para mim e tirou os óculos e reparei nuns grandes olhos verdes e vermelhos que me olhavam em admiração.

"Bem, ele teve um acidente, nós tínhamos discutido por uma coisa que não valia a pena ser discutida, ele saiu de casa e nunca mais voltou. Na manhã seguinte, recebi um telefonema a dizer que o meu marido tinha tido um acidente e que tinha morrido." lágrimas começaram a consumir os seus olhos. "Eu nunca vou esquecer o que aconteceu e eu perdi o homem da minha vida. Talvez se ele tivesse aceitado o que eu disse, isto não acontecia." olhei para mulher e aproximei-me, abraçando as suas pernas e deitei a minha cabeça na sua barriga mas olho a tirei.

Next To You || h.s. #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora