Capítulo 8

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A sensação fria na minha testa envolveu-me como um sopro. Tão refrescante como uma brisa no meio de um verão escaldante.

Eu havia morrido e estava no paraíso.

— Ela acordou! — Uma voz masculina ecoou em meus ouvidos, tirando-me do meu devaneio.

A família Ribeiro me achou.

Não!

Não!

A simples ideia de ser entregue a um destino que eu não escolhi, obrigada a me casar com aquele maldito e viver aprisionada em um asilo para alienados, era pior do que a própria morte.

Nesse momento, uma certeza se consolidou: preferia enfrentar a morte do que sucumbir a tal destino.

Tentei me levantar, mas minhas pernas se recusavam a me responder, como se estivessem aprisionadas em correntes invisíveis.

— Calma! — Suas palavras ecoaram em meus ouvidos enquanto eu piscava para tentar me situar. Em meio à minha confusão, um rosto desconhecido surgiu diante de mim, emanando uma tranquilidade reconfortante. — Não faremos nenhum mal a você. Encontramos o seu acampamento no nosso caminho e você estava desmaiada no chão. Achamos que você tem febre intermitente.

— Onde estou? — perguntei com a voz trêmula.

— Você está segura e sua égua também — ele respondeu com firmeza. Meus olhos percorreram o homem, cuja pele exibia um tom negro. — Somos uma comitiva de alforriados

Mais uma vez tentei me erguer, ele gentilmente me segurou, compreendendo minha fraqueza e prosseguiu:

— Você está muito fraca. Precisa de tempo para se recuperar da febre. — Ele me ajudou a sentar. — Qual é o seu nome?

— Miranda.

— Eu me chamo Cosme. — Seus olhos se encontraram com os meus. — Eu não sei quais motivos a levaram a adotar uma identidade masculina, mas quero que saiba que aqui, em nosso grupo, seu segredo está protegido.

Após ele concluir sua apresentação, uma jovem baixa e com o mesmo tom de pele entrou na barraca segurando um frasco nas mãos.

— Pai, posso dar o remédio para ela? — indagou ela.

Ele me encarou por um momento, ponderando a resposta, e então respondeu para mim:

— Minha filha, Antônia, esteve dando nos últimos três dias a cascarilha para você. É uma planta medicinal poderosa. Você teve sorte de termos esse remédio. Tropeiros de Minas Gerais nos deram o remédio faz poucos dias.

Curiosa, observei o líquido amarelo-escuro no frasco. Com um sorriso acolhedor, Antônia o abriu, liberando o aroma forte da cascarilha, despertando em mim uma mistura de esperança pela cura e apreensão, pela viagem interrompida, em meu coração.

— Beba. Vai fazer bem para você — disse Antônia colocando o frasco em minhas mãos.

Cosme começou uma sequência de murmúrios, envolvendo o ambiente com uma aura de proteção. Hesitei por um instante, mas decidi engolir o líquido de uma só vez. Inclinei o frasco e permiti que o remédio amargo e intenso preenchesse minha boca. Não consegui evitar fazer uma careta enquanto o engolia. A consistência era líquida, porém mais espessa do que água. Logo após tomar o remédio, experimentei uma leve náusea e um formigamento suave na boca. No entanto, eu sabia que o remédio era necessário para tratar a febre intermitente. Torci para a cascarilha fazer seu trabalho e eliminar a doença do meu corpo.

Continuei tomando o remédio nos dias seguintes. Eu estava tão fraca que não conseguia mastigar, então Antônia me dava sopa. Sentia uma melhora gradual em meus sintomas. O calafrio diminuiu, assim como a febre. Após semanas de recuperação, finalmente me senti forte o suficiente para me levantar. A primeira coisa que fiz foi procurar Cosme e Antônia.

O Canto do YporáOnde histórias criam vida. Descubra agora