Capítulo 9

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— Rosa, seja razoável. — Cosme franziu o cenho, suas sobrancelhas se unindo em uma expressão de preocupação. — Ela mal se recuperou da febre.

Revirei os olhos. Eles continuavam a discutir como se eu não estivesse presente, como se fosse uma mera criança desamparada. Mas eu não era. Eu era uma mulher adulta e deveria ser incluída naquela conversa. Quando meus lábios se partiram, Cosme soltou um suspiro longo e profundo, como se carregasse o peso de uma revelação há muito guardada.

— Conheci o seu irmão. Luís... — Ele fez uma pausa para recuperar o fôlego, e meu coração parecia querer saltar do peito. — Luís Andrada.

Suas palavras pairaram no ar, fazendo meu coração trovejar como se uma cavalaria estivesse no meu peito. Era difícil acreditar nas palavras dele, que ele conheceu Luís Andrada, meu irmão. No fundo, eu desconfiava que tudo não passasse de uma confusão, de uma coincidência improvável. Mas, quando ele mencionou o sobrenome Andrada as minhas dúvidas se dissiparam.

— Como? — As sílabas deslizaram da minha língua, carregando uma mistura de surpresa e ansiedade, a urgência por respostas que agora tomava conta de mim.

— Os tropeiros têm a missão de transportar suprimentos essenciais, armas e munições para o exército. Eles enfrentam longas distâncias, superam condições adversas e perigos para cumprir essa tarefa imprescindível — explicou Cosme, com uma seriedade que refletia a importância de sua jornada.

No entanto, eu balançava a cabeça em descontentamento. Essas informações não saciavam minha sede de respostas. Havia uma inquietação profunda dentro de mim, uma angústia que pulsava em cada batimento do meu coração.

— Como você conheceu meu irmão? E... e ele está vivo? — Balbuciei as palavras que me atormentavam desde quando parei de receber as cartas dele.

Os segundos se alongaram, tensos, como se o próprio tempo ansiasse por revelações. Então, finalmente, veio a resposta de Rosa, carregada de significado e mistério.

— Sim, ele está vivo — afirmou ela, sua voz enigmática, ecoando em meu íntimo como um bálsamo para minha alma atormentada pela falta de notícias do meu irmão. O alívio tomou conta de mim como uma onda reconfortante, apaziguando minhas angústias e preenchendo-me com esperança renovada. — Entregue logo para a garota. — Rosa ralhou.

Cosme, retirou do bolso um pedaço de papel amassado, estendeu a mão, revelando uma carta selada com um símbolo que reconheci como o brasão da família Andrada. Meu coração disparou ao ver aquelas letras familiares gravadas na superfície do papel. Sem hesitar, estendi a mão trêmula para recebê-la, sentindo a urgência pulsar em minhas veias.

Rasguei o selo e abri a carta.

Querida irmã,

Escrevo esta carta para que saiba que estou bem e que sigo lutando na guerra. Sei que deve estar preocupada, mas quero tranquilizá-la de que estou bem e saudável.

As batalhas são intensas e árduas, mas estamos lutando com coragem e bravura. Vejo meus companheiros de luta caindo, muitos pela cólera, tifo, malária, beribéri e nas batalhas, mas não desanimo e sigo lutando pela nossa pátria. É difícil, mas sei que é o certo a se fazer.

Às vezes, me lembro da nossa fazenda em Cuiabá e sinto saudades da nossa família. Mas sei que é por uma causa nobre que estou aqui, e isso me dá forças para seguir em frente.

Por favor, cuide da nossa mãe e dos nossos irmãos, e diga-lhes que os amo muito. Espero voltar em breve e abraçá-los novamente.

Envio-lhe esta carta com a ajuda de Cosme, meu fiel amigo que está me ajudando a garantir que esta mensagem chegue até você. Infelizmente, parece que algo impede que minhas cartas cheguem até suas mãos, mas não se preocupe, pois estou determinado a descobrir o que está acontecendo.

O Canto do YporáOnde histórias criam vida. Descubra agora