Capítulo 29

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— Essa sua obstinação, no final, será sua perdição. — Ele bufou, exalando sua fúria latente.

— E será a sua também, Tomás! Chega! — Minha voz soou, impregnada de urgência e desespero. — O forte está cercado, o alarme já soou. Os aliados estão prestes a invadir. Não tenho mais para onde fugir.

— Ainda há tempo para Miguel levar você e Ana para longe de Humaitá.

— Estou exausta de fugir. Exausta de ser mantida nas sombras e de ter meu destino ditado por homens. Eu sou senhora do meu destino. E decido lutar. Lutar em nome do amor ao meu irmão. Pela minha família — e continuei. — Por que você se aliou com a família Ribeiro?

Ele soltou um suspiro longo e doloroso, os olhos carregados de pesar. Então, com uma voz carregada de tristeza e raiva contida, ele começou a revelar a verdade:

— Espero, sinceramente, que ao ouvir o que tenho a dizer, você tome a decisão de partir e escape deste lugar maldito. O Coronel Ribeiro invejava e cobiçava tudo o que seu pai possuía. Era obcecado. Seu pai, um homem à frente de seu tempo, defendia ideias progressistas, nem um pouco populares entre a aristocracia, como o fim da escravidão. Além disso, seus traços não eram europeus o suficiente para serem aceitos pela nobreza, mesmo com o título de Visconde de Cuiabá. Ele estava cercado de poucos amigos e depositava uma confiança cega em Joaquim Ribeiro. Foi a ruína do Visconde confiar no Coronel.

"Joaquim, por sua vez, se aproveitou do vício do seu pai em jogos e bebidas, levando-o a se afundar cada vez mais em dívidas. Quando seu pai se viu enredado em uma teia de dívidas, sem qualquer saída para pagar o empréstimo e sem coragem de entregar você para aquela família maldita, Joaquim decidiu cobrar a dívida que seu pai tinha. Foi uma sentença de morte."

"O Visconde de Cuiabá então cobrou a dívida do meu pai... o final dessa história você já sabe. E seu pai, em um destino cruelmente semelhante ao do meu pai, encontrou o mesmo fim trágico. Mas o Coronel Ribeiro não estava satisfeito com a morte do Visconde, ele queria mais. Ele pagou a mim e a outros oficiais para assassinar Luís, garantindo assim que você não tivesse outra escolha senão se casar com a família Ribeiro. Era uma forma perversa de tomar todo o seu patrimônio e ainda manter o seu nome sob o jugo do coronel. Não creio que nossos pais tenham se suicidado, Miranda. Acredito que o Coronel os mandou assassinar, simulando suicídio."

As palavras de Tomás atingiram-me como um golpe na boca do estômago. Senti falta de ar. Minhas pernas cederam e desabei no chão, sentindo um turbilhão de emoções me invadir. Era um fardo pesado demais para suportar. Tremores percorreram meu corpo, da cabeça aos pés, enquanto abraçava a mim mesma, buscando o conforto que meu irmão costumava me oferecer nos momentos de medo. A saudade de Luís era uma ferida aberta que sangrava. Não sei quanto tempo se passou, quando reuni todas as forças que me restavam e ergui-me do chão. Encarando Tomás, firmei meu olhar no dele e proferi a pergunta que ansiava por uma resposta:

— Por que você aceitou o suborno para matar o meu irmão?

— Se eu tivesse recusado, algum outro oficial, suboficial ou praça teria aceitado o trabalho e assassinado seu irmão. Aceitei a proposta para ganhar tempo. Enquanto os Ribeiros achassem que eu estava tentando matar Luís, não procurariam por outro executor. Por isso escrevi a carta dizendo que Luís estava na região da Laguna. Eu sabia que os Ribeiros deviam estar lendo suas correspondências. Eu queria despistar eles. Mas o pior aconteceu. Fomos atacados na fortaleza de Curupaiti e perdermos.

"Quando seu irmão foi capturado, eu me entreguei ao exército guarani. Achei que se eu me mantivesse por perto, poderia cuidar de Luís. Menti falando que era um espião a serviço do Paraguai e usei o sobrenome da minha mãe. Eu sabia que o sobrenome Caballero tinha força no Paraguai, já que ela era a filha de um general. Para eu não ser executado pelos paraguaios, meu avô confirmou que eu era um espião. Desde então, tenho atuado ao lado do meu avô, como um dos comandantes das forças paraguaias. Fiz isso por Luís. Mas principalmente por você."

O Canto do YporáOnde histórias criam vida. Descubra agora