— Então comecemos os preparativos. — Ana me arrastou de volta para a tenda, radiante de entusiasmo. Saltitante como uma borboleta.
Uma moça entrou com um conjunto de saia e corpete e o colocou cuidadosamente sobre a cama antes de sair. Ana me ajudou a vestir a saia, que se espalhava em camadas de seda esvoaçante pelo chão. Detalhes em renda adornavam a bainha do vestido, conferindo-lhe um toque de elegância. Prendi a respiração quando o corpete ricamente decorado com rendas delicadas e bordados foi preso em minha cintura. As mangas longas realçavam meus braços esguios, ao mesmo tempo, em que escondiam as ataduras que cobriam a ferida causada pelo tiro do Coronel.
Com uma destreza que me surpreendeu, Ana enfeitou meu cabelo curto com flores e pequenos camafeus dourados, conferindo um toque de feminilidade à minha aparência. Desde que fui ferida, já não era mais segredo no acampamento que eu era uma mulher, e agora, aquele momento de celebração exigia que eu me apresentasse de maneira ainda mais especial.
— Onde vocês conseguiram esse vestido? — perguntei, enquanto meus dedos acariciavam o tecido suave. — É deslumbrante.
— A esposa de um oficial trouxe-o em sua bagagem. Ela ficou sabendo da sua situação e generosamente decidiu emprestá-lo para você.
Fiquei emocionada com o gesto.
— Muito obrigada, Ana. Por favor, transmita a ela minha profunda gratidão.
Ao saímos da tenda, deparei-me com soldados, trajados em seus uniformes simples, mas com uma postura elegante. Cada um deles mantinha uma postura rígida e disciplinada, formando uma guarda de honra. Miguel posicionou-se ao meu lado e estendeu o braço galantemente. Eu o aceitei, sentindo a segurança de seu apoio. No instante em que os primeiros acordes de música envolveram o acampamento, dei passos firmes em direção à mesa principal, que resplandecia com uma profusão de flores e candelabros e toalhas de renda.
Tomás me aguardava, elegante e altivo como um Tuiuiú em meio às águas tranquilas. Enquanto me aproximava dele, o coração batendo acelerado, fiz uma pergunta em sussurros para Miguel, que estava ao meu lado.
— Como vocês conseguiram resolver toda a papelada do casamento?
Miguel lançou-me um olhar cúmplice, revelando um brilho travesso em seus olhos.
— Você ficaria maravilhada com os recursos que um subordinado direto do Imperador possui. — sussurrou ele, piscando de maneira divertida.
Ao alcançar a mesa principal, Tomás direcionou um sorriso radiante em minha direção, enquanto Miguel assumia sua posição diante de nós. Com uma aura solene envolvendo-o, Miguel deu início à cerimônia, entoando as palavras do contrato matrimonial com uma voz firme e melódica.
Cada sílaba ressoava no ar, trazendo consigo o peso das responsabilidades e promessas que seriam seladas. Ele explicou os direitos e deveres que compartilharíamos como casal, enfatizando a importância do compromisso e da fidelidade conjugal. Eu e Tomás nos entreolhamos, conscientes da seriedade do nosso contrato de casamento.
Porque era apenas isso o que era.
Um contrato.
— Por favor, declarem diante de todos aqui presentes o consentimento para a união matrimonial — proferiu Miguel.
Tomás inclinou a cabeça, me observando. Segurou a minha mão, aproximou-a dos seus lábios e beijou os nós dos meus dedos com cuidado, quase com reverência e disse:
— Eu, Tomás Lacerda, declaro meu consentimento em me unir em matrimônio com Miranda Andrada. Prometo amá-la, respeitá-la e cuidar dela em todos os momentos de nossas vidas.
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O Canto do Yporá
Historical Fiction🏆 Classificado no concurso do Governo Federal Carolina Maria de Jesus🏆 Após a trágica morte do pai, o Visconde de Cuiabá, Miranda Andrada é obrigada a tomar medidas drásticas para proteger a mãe e os irmãos da gananciosa família Ribeiro. Para salv...