Capítulo 25

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Recusei-me a aceitar sua morte. Chacoalhei Luís. Gritei seu nome. No entanto, seus olhos permaneciam cerrados, sua respiração ausente. Eu sabia que ele estava muito doente, mas eu tinha esperança que ele melhorasse. Meu irmão não poderia me deixar, pois nossa família dependia dele. Eu dependia dele. O desespero, como uma serpente peçonhenta, rastejou sobre mim, envenenando o meu sangue e enuviando meus pensamentos.

— Luís! Acorde! Por favor! — eu suplicava.

— Miranda, você vai acordar o forte inteiro. — Ana entrou apressada no quarto. Seus olhos se fixaram no meu irmão imóvel. Com as mãos firmando meus ombros, ela compartilhou suas condolências. — Lamento muito por sua perda. Luís era um bom rapaz.

— Não! — esbravejei. — Meu irmão está apenas exausto. Ele só precisa descansar.

— Você sabe que isso não é verdade.

— Chega! Pare! Eu não posso perdê-lo também, Ana. Desde o início dessa guerra, perdi tanto... Luís não pode morrer!

Ela me envolveu em um abraço reconfortante. A intimidade que compartilhávamos e o fato de que, ao longo do tempo, Ana começou a me chamar de seu "amigo mais querido" gerava comentários jocosos entre os membros da tropa, insinuando sobre nossa relação de cumplicidade. A verdade é que Ana era uma vivandeira extraordinariamente habilidosa, sempre disposta a compartilhar seu conhecimento médico comigo e me apoiar em todos os momentos. Sua presença era reconfortante, uma fonte constante de aprendizado e auxílio em Humaitá.

— Miranda, sinto uma profunda dor em meu coração por sua perda — ela sussurrava em meu ouvido enquanto me abraçava tão forte como se tentasse juntar os fragmentos quebrados dentro de mim. — Seu irmão morreu defendendo com coragem e convicção aquilo em que acreditava. Morrer pela pátria é transcender a existência, é conferir ao nosso nome um brilho que jamais se extinguirá.

— Você fala sobre pátria. Mas salva a vida de soldados do exército inimigo.

— Eu fiz um juramento que salvaria o maior número de vidas. Não importando sua cor, raça, gênero ou origem.

Empurrei-a para longe. Naquele momento, não havia espaço para consolo. Minha única vontade era buscar vingança contra aqueles que haviam causado tamanho sofrimento ao meu irmão. Eu conhecia a identidade do responsável por tê-lo capturado e transformado em prisioneiro: Tomás. E não descansaria até que justiça fosse feita.

— Aquele desgraçado não escapará ileso. Eu o farei pagar com a própria vida!

Mas Ana, com sua voz calma e sensata, tentou conter minha ira.

— Não se entregue à loucura do momento. Lembre-se de que cada ação tem suas consequências.

— Não vou me arrepender. Pelo contrário — Sorri conforme colocava a pistola no coldre junto ao meu corpo e a faca afiada no cinto.

Os meses de convivência e dedicação no hospital não foram em vão; conquistei a confiança dos paraguaios e ganhei o privilégio de portar armas mesmo quando não estava treinando com o exército guarani.

— Você ainda tem seus irmãos e sua mãe. Pense com calma, Miranda.

As palavras de Ana reverberaram em minha mente, tentando me trazer à razão. Um nó se formou em minha garganta. Sim, minha família dependia de mim, era meu dever protegê-los. Mas o que poderia fazer para salvá-los? O destino já havia decretado que se eu saísse viva do forte, eu seria entregue nas mãos do abominável Coronel Ribeiro. O homem responsável pela ruína da minha família. A ideia de me tornar sua esposa era uma agonia insuportável, um fardo que eu não estava disposta a carregar. O ódio que eu nutria por aquele homem era tão intenso que eu preferiria permanecer em Humaitá do que me casar com ele.

— É por eles mesmo que estou fazendo isso. Meu irmão não merece ser esquecido, ele precisa ser vingado. — As palavras rasgaram minha garganta, preenchendo o quarto com uma promessa inquebrável. Ao pronunciá-las em voz alta, senti algo se romper dentro de mim, como se finalmente aceitasse a dolorosa verdade da morte de meu irmão. Mas não seria em vão. Eu lutaria por ele, por minha família, com todas as forças que me restavam.

Ana não conseguiu impedir que eu saísse do quarto. Ignorando suas palavras de advertência, avancei decidida em direção ao gabinete de Tomás. A noite já havia caído, envolvendo tudo em um manto escuro. Apenas algumas sentinelas mantinham vigília no caminho. Meu rosto era familiar naquele lugar, então ninguém ousou questionar minha presença ao adentrar o gabinete de Tomás.

Sabia que encontraria Tomás ali, meu irmão costumava me dizer sobre sua reputação na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Tomás era conhecido por sua meticulosidade e responsabilidade em suas ações. Deslizei, sem fazer barulho, para dentro do gabinete. Não me anunciei. Como eu havia previsto, Tomás estava imerso em seu trabalho, cercado por pilhas de papéis tão altas quanto a Serra de Maracaju.

— Miranda. — Ele ergueu o rosto em minha direção, um sorriso provocador brincando em seus lábios. Era difícil conter o ódio que ardia em meu peito vendo ele agir de maneira tão casual. — Não esperava sua visita. A esta hora da noite... O que posso fazer por você?

— Comandante, há algo de extrema importância que preciso lhe relatar.

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