Papai

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Rapunzel

-- Fale.-- sua voz sai ríspida e afiada como uma faca prestes a me atingir.

-- Papai... -- um nó se forma em meu estômago vendo a sua reação de nojo quando escuta essa palavra de minha boca.

-- quem você acha que é para me chamar tal palavra? -- ele se levanta de repente de seu acento, gritando.

Eu congelo, não sei o que responder, nao sei o que está acontecendo.

Porque ele está reagindo assim comigo? Não parece aquele pai que me lembro à uns anos atrás, esse me odeia, mas porque?

Eu nao fugi... eu fui sequestrada.

Eu voltei e é assim que ele me recebe.

-- Sabe quantas pessoas estiveram nesse seu lugar fazendo um papel melhor que o seu? -- ele interrompe meus pensamentos. -- você nao imagina, vendo sua reação está pensando que foi a primeira colocando seus pés aqui, pensando que me engana.

Ele começa caminhando em minha direção, bem lentamente, como se estivesse calculando todos meus movimentos corporais.

-- Nem mesmo se deu ao trabalho de se parecer com ela.

-- você pensa que sou uma farsa? -- eu sorrio de lado, o olhando nos olhos negros e gelados, algo dentro desse homem morreu faz muito tempo.

-- Só de olhar para você sei que é uma farsa.

Raiva queima dentro de mim, como pode nem me reconhecer?

O fito com o meu olhar cheio de fogo.

-- Nem reconhece sua própria filha.

-- Nao me provoque. -- ele pára à minha frente, sua expressão demonstra nojo e raiva mas ao mesmo tempo orgulhoso, não me deixando atingi-lo.

-- cade a mamãe?

Sua paciência se esgota quando ele segura meu pescoço, apertando com força.

-- quem você pensa que é para se dirigir a sua Rainha desse jeito? Cansei, teve seu tempo teatral, agora SAIA. -- ele solta meu pescoço, me deixando finalmente respirar, eu inspiro com força todo o ar que consigo para dentro, enquanto ele vira costas e começa a retornar para seu trono.

-- Seu eu sair por aquela porta -- ele pára e se vira, ficando a 2 metros de distância de mim. -- eu nunca mais coloco os pés nesse reino. -- eu elevo minha cabeça, mas minha vontade é explodir de choro, estou tentando ser forte, nao deixar ele me ver quebrada.

-- Se voltar ao menos pinte o cabelo de loiro e deixe crescer. -- sua risada ecoa por aquela sala fria e escura, fazendo meu corpo todo se arrepiar. -- tem muita sorte de eu não te mandar matar.

Nao estou fazendo nada aqui, não vou me rebaixar, tenho meu orgulho.

Sinto as lágrimas tentarem humedecer meus olhos e nesse momento viro minhas costas, nao quero que ele veja, nao quero ver o prazer em sua cara de me ver desmoronar.

Empurro aquela porta com toda a minha força, fazendo um dos guardas levar com ela em suas costas e dar uns passos em frente.

Não olho para ele, não sei qual sua reaçao, evito, não quero que ninguem me veja nesse estado, com as lagrimas ja prontas para escorrerem por minha cara, prefiro que me vejam como uma louca.

Começo a correr, não sei se tem alguem me seguindo mas tambem não interessa, tudo o que consigo pensar e que me acalma nesse momento é a unica pessoa que esteve para mim até hoje.

Eugene.

O meu porto seguro.

Pensando bem, estamos somos os dois fodidos da cabeça, talvez seja por isso que eu goste dele e ele de mim, sua vida não foi fácil, ele teve que crescer rápido e minha foi presa em uma torre sem conhecer nada da vida.

Os unicos momentos felizes do passado que eu tive se tornaram em uma grande mentira, meus pais, Gothel, tudo uma grande mentira.

O único que esteve para mim de verdade foi Eugene.

Nunca mais quero sair de seu lado.

Só quero seu abraço nesse momento.

As lágrimas que prendi começam se libertando à medida que estou pensando em Eugene e de repente minha visão fica turva.

Enquanto esfrego meus olhos, meu corpo bate contra algo, parece uma pessoa com corpo fragil que tomba no chão.

Olho para ela e vejo o que não queria ver nesse momento, nem queria que ela me visse nesse estado.

Mamãe...

Ela me olha fixamente em meus olhos.

Minhas lágrimas correm com mais força com a sua visão de pena para comigo.

-- me desculpe. -- eu saio correndo novamente, sem nem me preocupar se ela está bem.

Escuto ela me dizendo para esperar, mas não paro, não quero parar, não a quero enfrentar, não depois do ocorrido com meu pai.

Estou magoada e não permito que mais ninguém me magoe.

Passo pelo centro do reino, por onde vim, aquelas pessoas que estavam dançando e se divertindo, aquele barulho todo me fazem sentir ainda mais sozinha, quero o Eugene agora.

Corro o mais rápido que posso ate chegar na ponte onde nos despedimos.

Quero você, quero você agora.

Entro pela floresta adentro, por onde o vi caminhar a ultima vez que o vi, meu peito dói e so vai parar quando o encontrar.

Depois de alguns arranhões dos ramos das árvores rasparem em minha cara e corpo, eu o vejo em cima de um tronco de uma árvore, a 6 metros de altura.

Deitado, relaxado lendo um livro com um ar tão pacífico, se fosse em outro momento eu perguntaria que livro ele estava lendo, mas nesse momento não dou a mínima.

-- Eugene...-- eu tento gritar sem fôlego depois de tanta correria.

-- Problemas no paraíso? -- ele se levanta, fechando seu livro e o colocando ali de lado e salta de um só pulo para o chão vindo em minha direção.

Meu peito dói, dói muito e me desfaço em pedaços chorando com a sua visão que alivia a minha dor, toda a floresta deve ter escutado.

Eu corro em sua direção, e o abraço, fazendo força para ele se deitar para trás

Ele se deixa ir, eu sei que não tenho força para o deitar, ele permitiu e fico ali com minha cara enterrada em seu peito, encharcando sua camisa branca que começa a transparecer.

Ele não diz nada e eu agradeço mentalmente, não quero falar, só quero esse abraço em silêncio com a pessoa que eu tanto ansiava.

Rapunzel (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora