eye patch.

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𝐀𝐍𝐀 𝐅𝐋𝐀́𝐕𝐈𝐀

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𝐀𝐍𝐀 𝐅𝐋𝐀́𝐕𝐈𝐀.
𝗉𝗈𝗂𝗇𝗍 𝗈𝖿 𝗏𝗂𝖾𝗐'
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Vinte e um anos, antes.

O garoto de que minha avó começou a cuidar neste verão estava sentado do lado de fora da casa dela. Eu não podia deixar que ele me visse como estava agora, de jeito nenhum. Espiando por trás da cortina do meu quarto, só queria observá-lo sem que ele soubesse que eu estava ali.

Eu sabia pouco sobre ele. Seu nome era Gustavo. Devia ter uns dez anos, como eu, ou talvez onze. Havia acabado de se mudar de Cincinnati para Rhode Island. Os pais provavelmente tinham dinheiro, senão teriam comprado a enorme casa vitoriana vizinha à da minha avó. Os dois trabalhavam no centro de Providence e pagavam minha avó para cuidar do filho depois da aula. Agora eu conseguia ver, finalmente, como ele era. Tinha cabelo castanho escuro bagunçado e, pelo jeito, tentava aprender sozinho a tocar violão. Devo ter olhado pela janela por uma hora, mais ou menos, enquanto ele dedilhava as cordas.

Uma crise de espirro me atingiu. Ele se virou para a janela e nossos olhares se encontraram por alguns segundos antes de eu me esconder. Meu coração disparou; agora ele sabia que eu o espiava.

— Ei? Cadê você? — Ouvi a pergunta que veio lá de baixo, mas continuei abaixada e quieta.

— Ana Flávia... sei que você está aí. — Como ele sabia meu nome?

— Por que está se escondendo de mim? — Levantei devagar, de costas para a janela, e finalmente respondi:

— Não olho para onde parece que estou olhando.

— Como assim? Quer dizer que tem o olhar divagador?

— O que é olhar divagador?

— Não sei bem. Minha mãe sempre diz que meu pai tem olhar divagador.

— O que eu quero dizer é que sou vesga.

— Vesga de verdade? — Ele riu. — Mentira! Isso é muito legal! Quero ver!

— Acha legal ter um olho que olha para o nariz?

— Acho! Eu adoraria ter um. Você pode olhar para as pessoas, e elas nem vão saber que está olhando!

Ele ia me fazer dar risada.

— Bom, o meu não é tão torto... ainda.

— Vai, vira. Quero ver.

— Não.

— Por favor.

Não sei o que me deu, mas decidi atender ao pedido. Não poderia evitar para sempre. Quando me virei, ele reagiu com uma careta.

— O que aconteceu com o outro olho?

— Está no mesmo lugar. — Apontei

— Isto aqui é só um tapa-olho.

— Por que fazem essas coisas da cor da pele? Daqui, parece que você não tem olho. — Levei um susto.

— Está embaixo do tampão. O oftalmo vai me obrigar a usar esta coisa quatro dias por semana. Hoje é o primeiro dia. Entendeu por que não queria que você me visse?

— Mas não precisa se envergonhar. Eu só me assustei porque não esperava. Então, seu olho vesgo continua aí? Quero ver.

— Não, o olho coberto é o bom. O médico disse que, se eu não usar o olho bom, vou forçar o vesgo, que vai se fortalecer cada vez mais e voltar ao lugar.

— Ah... entendi. E aí, pode sair agora? Já que não precisa mais se esconder de mim?

— Não. Não quero que mais ninguém me veja.

— E o que você pretende fazer amanhã, quando tiver que ir para a escola?

— Não sei.

— Vai passar o dia todo dentro de casa?

— Sim. Por enquanto.

Gustavo não falou nada. Só deixou o violão de lado, ficou em pé e correu para dentro de sua casa. Acho que o assustei de verdade. Cinco minutos depois, ele voltou correndo para o mesmo lugar do lado de fora da casa de minha avó. Quando olhou novamente para a minha janela, nem consegui acreditar nos meus olhos. Havia um enorme tampão preto cobrindo o olho direito de Gustavo.

Ele parecia um pirata. Então, sentou-se, pegou o violão e começou a dedilhar as cordas. Para minha surpresa, ele começou a cantar. Era uma versão de "Brown eyed girl", do Van Morrison, mas ele havia mudado a letra para "One eyed girl". Foi então que percebi que Gustavo Mioto era metade maluco, metade adorável.

Depois que terminou de cantar, ele tirou do bolso uma caneta hidrográfica preta.

— Vou pintar o seu também. Agora você vem aqui fora?

Senti meu coração mais acelerado do que jamais havia estado.

Pensando bem, esse foi o exato momento em que Gustavo Mioto se tornou meu melhor amigo. E esse também foi o primeiro dia em que ele me deu um apelido que me acompanharia por toda a adolescência: Tapa-Olho.

 E esse também foi o primeiro dia em que ele me deu um apelido que me acompanharia por toda a adolescência: Tapa-Olho

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𝗶𝗻𝘁𝗲𝗻𝘀𝗲 𝗹𝗼𝘃𝗲 | 𝗆𝗂𝗈𝗍𝖾𝗅𝖺 ✔︎Onde histórias criam vida. Descubra agora