Eu me sentia invadindo propriedade alheia, embora fosse dona de metade dela. Tudo continuava como havíamos deixado. A casa de praia estava gelada. Eu precisava ligar o aquecimento. Era meio de maio e ainda fazia muito frio na ilha. Eu não devia voltar antes do fim de junho, mas o prédio em que eu alugava um apartamento havia sido vendido, e eu tive que sair de lá. Sem alternativa, fui a Newport antes do previsto ou ficaria na rua.
Já estava em licença-maternidade e não voltaria até o fim do ano letivo, por isso a solução fazia sentido.
Não conseguimos inquilinos para a baixa temporada, e a casa havia ficado vazia. Senti uma saudade inesperada. Antes esse lugar me lembrava minha avó. Agora me lembrava Gustavo.
Podia quase sentir o cheiro de seu perfume na cozinha. Era minha imaginação, mas parecia real. Também o imaginei parado ao lado da jarra da cafeteira, sorrindo enquanto misturava o café com a fusão... as costas musculosas e nuas e os olhos voltados para o mar além da janela...o lambe, vira, chupa quando ele bebeu tequila. Olhei para a sala de estar e recordei a noite constrangedora antes de Celine voltar.
Fechei os olhos por um momento e imaginei o verão passado, quando a vida era simples. O gritinho no canguru preso ao meu peito me trouxe de volta à realidade.
Liz balançava a cabeça procurando meu peito.
— Espera... espera. Primeiro tenho que tirar você daí. — Tirei a do canguru.
— Você foi muito boazinha durante a viagem. Deve estar com fome, não é?
Merda. Minhas coisas ainda estavam no carro. Levei minha filha de dois meses lá fora para pegar a almofada de amamentação no banco de trás. Gabi a havia comprado para mim e disse que eu precisaria muito dela, e era verdade.
Cor-de-rosa com estampas de margaridas brancas, era um item de primeira necessidade para alimentar esse bebê constantemente faminto sem acabar com as minhas costas. Parei um instante para admirar o oceano antes de voltar para dentro da casa.