Na manhã seguinte, quando acordamos, Gustavo tinha ido embora. Encontrei um bilhete na bancada da cozinha.
"Foi a primeira noite que vocês dormiram. Não tive coragem de acordar as duas antes de ir embora. Cuide de Liz. A gente se vê logo."
( . . . )
Uma semana inteira se passou sem nenhuma notícia dele. Tentei não ficar aflita. Afinal, não éramos responsabilidade dele. Mas a solidão parecia muito pior agora, depois de saber como era ter alguém por perto. A insônia de Liz também estava pior que antes. Acho que ela sentia falta dele. Assim como eu.
Em um ato de desespero, liguei para minha mãe e perguntei se ela não queria passar uma semana comigo.
Três dias depois de ela ter chegado à casa de praia, eu já queria dar um tiro em minha cabeça. Ela passava mais tempo no telefone com o namorado ou no deque fumando seus cigarros Benson & Hedges do que com a filha e a neta. Que burrice minha esperar que a condição de avó a tornasse menos egoísta.
Apesar de ela cuidar da Liz para eu poder dormir algumas horas todas as noites, convidá- la para ficar conosco foi um erro. Na última noite de sua estadia, em vez de passar um tempo com a neta, ela decidiu me atormentar sobre tomar alguma atitude legal contra Adam.
— Quando vai obrigar o cara a pagar pensão, Ana Flávia?
Logo depois da partida de Gustavo, eu havia levado Liz para fazer um exame de sangue. Adam também foi a um laboratório em Boston, e no dia anterior tivemos a confirmação de que ele era o pai biológico.
— Não quero que minha filha tenha que passar por isso agora. Acho que ele tem que tomar a iniciativa. Adam tem sido muito cretino, e não quero que ele faça parte da minha vida.
— Bom, você não vai conseguir se sustentar por muito tempo. Precisa de um homem, mesmo que não seja ele.
— Não vou pôr um homem na vida da Liz só para ter ajuda financeira. Vou encontrar um jeito de me sustentar. Não sou você.