Duas semanas se passaram, e as coisas não haviam melhorado entre mim e Gustavo. Em vez de me provocar, ele se contentou em me ignorar completamente.
A casa tinha quatro quartos. Como transformei um deles em sala de ginástica, Gustavo usava o outro como escritório durante o dia. Dava para ouvir sua voz abafada lá dentro durante telefonemas de negócios. Aparentemente, a empresa para a qual Gustavo trabalhava vendia software de soluções empresariais.
Celine e eu trabalhávamos quase todas as noites no Sandy's, além de algumas tardes ocasionais. Um dia, estávamos no intervalo quando ouvimos Salvatore, o dono do restaurante, comentar que a banda que tocava quase todas as noites havia desistido. O Sandy's era, provavelmente, para quem procurava música ao vivo, o lugar mais popular da ilha. O estabelecimento era mais famoso por isso do que pela comida. A desistência da banda não era boa para os negócios.
Celine falou em voz baixa:
— Acha que Gustavo toparia tocar aqui? — Eu já me sentia meio enjoada por nada, mas a simples menção ao nome dele fez meu estômago ficar ainda mais revirado.
— Acha que ele ia querer tocar em um lugar como este?
— Bom, ele está acostumado com casas maiores, mas não está fazendo nenhum show. Tirou o verão para dar uma folga na música, mas tenho a sensação de que já se arrependeu. Gustavo está de mau humor desde que chegamos aqui. Acho que é vontade de voltar a tocar. Pode ser bom para ele voltar ao palco, mas sem muitas pretensões. Não vai haver nenhuma pressão. Ninguém o conhece aqui.
Pensar em ver Gustavo se apresentar me deu um arrepio. Por um lado, seria incrível. Por outro, eu sabia que seria doloroso ter que aturá-lo no restaurante todas as noites. Era pouco provável que ele concordasse com a ideia, por isso decidi não me torturar enquanto ela não se tornasse realidade.