fuck him!

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𝐀𝐍𝐀 𝐅𝐋𝐀́𝐕𝐈𝐀

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𝐀𝐍𝐀 𝐅𝐋𝐀́𝐕𝐈𝐀.
𝗉𝗈𝗂𝗇𝗍 𝗈𝖿 𝗏𝗂𝖾𝗐'
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O clima era perfeito, seco. Íamos nos encontrar no Colt State Park, que ficava do outro lado da ponte e fora da ilha. Gustavo e eu visitamos o mesmo parque uma ou duas vezes quando éramos adolescentes, por isso a experiência era um pouco nostálgica.

Preparamos um piquenique para almoçar e passar a tarde no parque e chegamos lá uma hora antes do horário combinado com Adam. A ideia era equilibrar as coisas com um pouco de diversão.

Escolhi para Liz um vestido cor-de-rosa cheio de babadinhos e uma faixa de cabeça que combinava com a roupa. Os sapatinhos de couro branco completavam o figurino. Gustavo passou um dedo pela cabeça dela.

— Liz está linda, mas me irrita ver que você a enfeitou toda para ele.

— Quero que ela esteja linda e que ele se sinta um merda.

— Ela sempre está linda, independentemente da roupa que você põe nela. E ele tem que se sentir um merda de qualquer jeito, com a Liz de vestido ou suja de cocô. Ela é filha dele, e o cara não a viu nenhuma vez em seus primeiros cinco meses de vida.

— Você tem razão.

Olhamos para um casal de adolescentes que empinava uma pipa colorida. Ficamos sentados em silêncio, apreciando o cenário. Era um dia perfeito para velejar, e dava para ver muitos barcos ao longe, onde o parque fazia fronteira com o mar.

Gustavo olhou para o céu azul.

— Lembra a última vez que estivemos aqui?

— Lembro. — Eu respondi. — Foi pouco antes de eu me mudar para New Hampshire. Você estava começando a fotografar. — Gustavo havia trazido a câmera ao Colt State Park na última vez que estivemos aqui e me fotografou com o mar ao fundo.

— É. Aquele hobby teve vida curta, perdeu espaço para a música. — Ele pegou a carteira, que era bem velha e de couro marrom rachado e gasto, e a abriu. — Vou te mostrar uma coisa, não ri.

— Tudo bem.

Ele pegou uma foto em preto e branco do fundo da carteira. As beiradas estavam gastas. Era uma foto minha que eu nunca tinha visto.

— É uma das fotos que eu tirei naquele dia. A única que revelei. — Peguei a foto da mão dele.

— Uau. Nunca vi nenhuma daquelas fotos.

Essa é minha favorita, porque foi espontânea. Você estava rindo de uma das minhas piadas. — Olhei para aqueles lindos olhos castanhos que fitavam os meus e refletiam o oceano atrás de mim.

— Sempre carrega esta foto com você?

— Não consegui me separar dela nem quando estava bravo com você. Eu a escondi para não ter que olhar para ela, mas não consegui me desfazer dessa imagem.

— Da fotografia ou de mim?

— Das duas. — Continuamos nos encarando enquanto eu tentava superar a dor do desejo que tinha de ser suprimida constantemente.

Olhei para o relógio e vi que eram três e dez.

— Adam está atrasado.

— Cretino.

Gustavo pegou Liz e se deitou, colocando-a sobre o peito. Ela tocava sua boca, e ele soprava seus dedos.

Os minutos passavam e nada de Adam. Depois de uma hora de espera, Gustavo estava irado.

— Precisamos ir embora.

— Não acredito que ele simplesmente não veio. Talvez tenha ficado preso no trânsito.

— Por que não manda uma mensagem, então? Isso é mais que desrespeitoso. Ele não merece nem mais um minuto do nosso tempo. Acho bom que nem apareça mais, porque sou capaz de socar a cara dele.

Comecei a recolher as coisas, sentindo uma tristeza enorme por Liz. Não me importava se Adam faria parte de nossa vida, mas ela se importaria com isso algum dia.

Meu telefone vibrou. Era uma mensagem de Adam.

"Eu estava a caminho, mas desisti. Desculpa. Não consigo. Não posso fazer isso. Eu mando dinheiro."

Gustavo pegou o celular da minha mão e leu a mensagem. Ele balançou a cabeça numa reação incrédula e olhou para Liz, que ainda estava ali sentada com seu lindo vestido, olhando para ele.

Gustavo estava sentado com os joelhos dobrados, e ela estava com as costas apoiadas em uma de sua coxas. As mãozinhas eram, agora, envoltas pelas dele. Minha filha estava tranquila. Nem imaginava o que aquela mensagem significaria em sua vida. Não sabia que o pai havia acabado de abandoná-la.

Eu tinha certeza absoluta de que ela acreditava ver os olhos do pai nesse instante.

— Ele não sabe o que está perdendo. É um idiota. — E aproximou o rosto do dela. — Bom, a gente não precisa dele. Não é, Liz? Ele que se foda.

Ele não devia usar esse tipo de vocabulário perto da bebê, mas foi quando a coisa mais incrível aconteceu. No segundo em que Gustavo disse "ele que se foda", Liz começou a rir como se tivesse entendido. Não era uma risadinha sutil, eram gargalhadas contagiantes. Quando ela parou de repente, Gustavo inclinou a cabeça para trás e a balançou rapidamente para a frente.

— Ele que se foda! — Liz gargalhou novamente. Ele repetiu.

— Ele que se foda! — Gargalhadas ainda mais fortes, Gustavo e eu também ríamos histericamente.

Lágrimas escorriam dos meus olhos, e eu não saberia dizer se ria ou chorava.

Naquela noite, Gustavo se ofereceu para pôr Liz no berço. Lá embaixo, ouvi sua voz calma cantar. Fechei os olhos para imaginar a cena de Gustavo ninando minha filha. A canção escolhida não era coincidência: "Isn't she lovely", de Stevie Wonder.

 A canção escolhida não era coincidência: "Isn't she lovely", de Stevie Wonder

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𝗶𝗻𝘁𝗲𝗻𝘀𝗲 𝗹𝗼𝘃𝗲 | 𝗆𝗂𝗈𝗍𝖾𝗅𝖺 ✔︎Onde histórias criam vida. Descubra agora