Nunca, nem em uma porra de milhão de anos imaginei que minha vida seria assim. Juro que, se tivesse perguntado à minha versão de quinze anos transbordando de hormônios onde eu gostaria de estar em uma década, ela provavelmente teria respondido: Em uma ilha com a Tapa.
Acho que algumas coisas nunca mudam, porque essa seria minha resposta hoje. Naquela época, isso era como um sonho inatingível, mas hoje essa é minha realidade. Vendo Ana Flávia brincar com Liz na beira do mar, pensei na evolução dos papéis que ela havia representado em minha vida.
A menina misteriosa com o tampão no olho. A melhor amiga. A fantasia adolescente. A garota que roubou meu coração, o partiu e levou os pedaços com ela quando foi embora. A amiga ausente. A roommate proibida pra mim. A namorada. A noiva. A mãe dos meus bebês.
Ela nunca esteve mais sexy que agora. Ana Flávia começou a exibir os sinais dos quatro meses de gravidez, principalmente nos seios e na bunda. Eu a pedi em casamento há um ano, no dia 29 de abril.
Ia esperar, mas decidi que tinha que fazer o pedido naquele dia e que nos casaríamos exatamente um ano depois. Essa data tinha um grande significado para mim, porque 0429 era a última sequência de números da minha tatuagem de código de barras e representava o dia em que ela foi embora, uma década atrás. Eu estava determinado a redefinir o significado daqueles números. Agora, aquela data. Hoje, seria pra sempre, o dia em que ela se tornou minha mulher.
Não queríamos um casamento chique, só uma cerimônia privada com nós três na praia. Nos casaríamos ao pôr do sol e comeríamos a comida favorita de Ana Flávia, caranguejos, aquela coisa fedida, e lagosta.
Descobrimos que Roger, nosso vizinho, havia sido ordenado fazia alguns anos e podia realizar a cerimônia. Por uma dessas ironias, Roger Pegador agora era meu amigo, embora eu não perdesse uma chance de irritá-lo.