Na sexta-feira à noite, véspera do sábado do festival de jazz, decidi assistir à apresentação de Gustavo no Sandy's.
Desde que discutimos sobre Roger, ele havia se isolado, exceto quando brincava com Liz. Acho que eu estava curiosa para saber se essa disposição se mantinha durante seus shows. Liz dormia no canguru quando chegamos ao restaurante.
Gustavo tocava no palco ao ar livre. Ele nem me viu sentada em um canto mais distante. A brisa derrubava guardanapos das mesas, e meu cabelo dançava ao vento.
Quando ele começou a cantar "Daughters", do John Mayer, meu coração ficou apertado, porque pensei que a escolha da canção podia ter alguma relação com a situação de Liz e Adam. Também pensei que talvez ele pudesse pensar nela. A maioria das músicas no repertório da noite era lenta e melancólica, tanto que Liz dormiu o tempo todo.
Enfim Gustavo fez o primeiro intervalo. Ele ainda não havia notado nossa presença. Não observava a plateia, quase como se estivesse recolhido dentro da própria cabeça. Normalmente, ele se relacionava mais com o público.
Quando eu me preparava para levantar e anunciar que estávamos ali, uma jovem ruiva e atraente se aproximou do palco. Fiquei observando por vários minutos enquanto ela flertava descaradamente com Gustavo. Meu estômago dava nós.
Em dado momento, a mulher deu a ele um pedaço de papel, o qual Gustavo guardou no bolso. Eu não fazia ideia se ele aceitara o bilhete para ser educado ou se pretendia usá-lo. Esse tipo de coisa devia acontecer todas as noites, mas eu ainda tinha a sensação de ter levado um soco no estômago e perdi a vontade de ficar para ver a próxima seleção de músicas.
Liz e eu fomos embora sem Gustavo saber que havíamos estado lá. Dava para ouvir o barulho dos socos na sala de ginástica. Enquanto me arrumava para encontrar Roger, lembrei que a última vez que Gustavo havia espancado o saco da Everlast com tal violência fora na noite do meu encontro com o dr. Danger, no verão passado. Era como um déjà-vu.