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Chegou o dia…

O dia em que ele precisa ir embora, em que deixará de estar a poucos metros de mim, como meu vizinho, para estar a centenas de quilômetros. O silêncio reina entre nós, mas não é desconfortável, e sim doloroso, porque nós dois sabemos no que estamos pensando: na realidade inevitável.

O céu está lindo, as estrelas brilhando em seu esplendor máximo, talvez em uma tentativa de iluminar essa tristeza arrebatadora.

Há certa dor no inevitável que não dá para colocar em palavras. É muito mais fácil se afastar de alguém quando essa pessoa partiu seu coração, te fez mal, mas se afastar parece impossível quando não há nada de errado entre vocês, quando o amor ainda está ali, vivo, palpitando como o coração de um recém-nascido, cheio de vida, exalando futuro e felicidade.

Meus olhos se focam nele, meu Ares.

Meu deus grego.

Aqui está ele, o cabelo despenteado e os olhos vermelhos pela longa noite, e ainda assim está lindo.

Meu peito fica apertado, minha respiração mais curta.

Isso dói… — Ares… Ele não olha para mim.

— Ares, você precisa… Ele balança a cabeça.

— Não.

Ai, meu garoto instável.

Luto contra as lágrimas que enchem meus olhos, meus lábios tremem. Meu amor por ele me consome, me asfixia, me faz viver e me faz morrer. Seu voo vai decolar em meia hora, ele precisa entrar na área de embarque, aonde eu não posso ir. Estamos na área de espera do aeroporto, de onde podemos ver o céu através dos vidros transparentes.

Sua mão roça a minha suavemente antes de segurá-la com força. Ares ainda não me encara, os olhos azuis focados no céu. Eu, ao contrário, não consigo parar de olhar para ele, quero me lembrar de cada detalhe quando já não estivermos perto um do outro; quero me lembrar da sensação de estar ao seu lado, de sentir seu calor, seu cheiro, seu amor. Posso parecer um pouco grudenta, mas o amor da minha vida está prestes a entrar em um avião e ficar longe de mim por sei lá quanto tempo, então tenho o direito de ser cafona.

— Ares? — A voz de Apolo soa atrás de nós com aquele mesmo senso de urgência e tristeza da minha quando lembrei que era hora de ir.

Ares tira os olhos do céu e abaixa a cabeça.

Quando ele se vira para mim, forço um sorriso em meio às lágrimas que se formam, mas não consigo esboçar um sorriso triste sequer. Ele umedece os lábios, mas não diz nada, os olhos vermelhos, e sei que não consegue falar, sei que no momento em que abrir a boca ele começará a chorar, e quer parecer forte por mim, eu o conheço tão bem.

Ele aperta minha mão com força, e lágrimas escapam de meus olhos.

— Eu sei.

Ele enxuga minhas lágrimas, segurando meu rosto como se eu fosse desaparecer a qualquer momento.

— Não chora.

Dou um riso falso.

— Peça algo um pouco mais fácil.

Ele me dá um beijo breve, mas tão cheio de sentimentos que choro em silêncio, o gosto salgado das minhas lágrimas se misturando ao nosso beijo.

— Não desiste de mim. Pode me perseguir, mas não me esquece, por favor.

Sorrio, colada nos lábios dele.

— Como se eu pudesse esquecer você.

— Promete que não é o fim, que vamos tentar até não conseguir mais, até que todos os recursos e meios tenham se esgotado, até que possamos dizer que tentamos de tudo e ainda assim tentar um pouco mais.

Através da minha janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora