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Ares me convidou para nosso primeiro encontro e não sei o que vestir.

Este não é um daqueles típicos momentos de indecisão de alguém que tem um monte de roupas e não sabe qual escolher.

Literalmente não tenho o que vestir, está tudo pendurado no varal, porque minha mãe lavou todas as minhas roupas e só deixou no armário o que eu não uso, e é óbvio que não uso por uma razão: não cabem em mim ou simplesmente já partiram dessa para uma melhor (em outras palavras, as peças estão rasgadas ou transparentes de tão desbotadas).

Por que Ares tinha que me chamar para sair logo hoje?

Ainda me lembro daquela voz doce no telefone, quando ele me pediu que, por favor, desse uma fugidinha.

Como eu poderia dizer não?

Obviamente não pensei direito quando respondi que sim. A única pessoa que pode me salvar é Dani.

Quando ligo, ela atende no terceiro toque.

— Funerária Las Flores, em que posso ajudá-la?

— Até quando você vai fazer isso, Dani? Já te falei que não é engraçado.

Ela solta uma risadinha culpada.

— Eu acho engaçado. O que houve, resmungona?

— Preciso que você venha aqui.

— Você não está de castigo?

— Estou. — Diminuo a voz. — Mas vou fugir.

— O quêêêêê? Como assim? — Dani exagera no tom. — Bem-vinda ao lado sombrio da Força, irmã.

Solto um suspiro.

— Você está louca. Vem para cá, mas me espera na esquina da minha rua.

— Certo, mas você está escondendo o motivo da sua fuga. Vai para a balada comigo hoje?

— Não, tenho… planos.

— Com quem?

— Depois te explico. Você vem, né?

— Sim. Chego aí em dez minutos.

— Obrigada, você é incrível.

— Me diz alguma coisa que eu não saiba. Até daqui a pouco!

Desligo e enfio travesseiros debaixo dos lençóis, para parecer que estou na cama.

Faço isso apesar de saber que minha mãe não vai conferir, porque jamais imaginaria que fugi e bem, sinceramente, até algumas horas atrás nem eu acreditaria que sou capaz disso.

Saio do quarto sem fazer barulho. As luzes de casa já estão apagadas, então dou uma conferida rápida no quarto da minha mãe, e nunca pensei que ficaria tão feliz em escutar seus roncos. Ela está dormindo pesado; teve plantão ontem à noite e provavelmente não dormiu nada até agora.

Por um instante morro de remorso, mas logo um par de olhos azuis invade minha mente e isso é motivação suficiente para sair de casa.

Já na rua, o frio me atinge com força.

Sempre esqueço que o verão escaldante já passou. Não trouxe casaco, então abraço meu corpo, esfregando os braços. A rua está bem iluminada e há algumas pessoas conversando do lado de fora de suas casas.

Eu as cumprimento cordialmente e sigo andando.

Na esquina, tremendo de frio, me dou conta de que talvez fosse melhor ter esperado um pouco no calor da minha casa. Só se passaram seis minutos. Dani não mora longe, mas os sinais de trânsito podem atrasá-la um pouco.

Através da minha janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora