Que noite!
Tudo ficou tão complicado desde que Ares entrou na minha vida… Ele é como um pequeno furacão, que destrói tudo por onde passa. Teve seus momentos carinhosos, mas esses instantes são ofuscados por todas as vezes em que me fez mal.
Como pode ser carinhoso numa hora, e no instante seguinte ser tão frio?
Suspiro, soltando uma fumacinha pela boca. Está muito frio, e talvez sair do bar não tenha sido uma ideia lá muito brilhante, mas qualquer coisa era melhor que continuar suportando aquilo. Tento ligar para Dani de novo, mas nada.
Penso em apoiar as costas numa árvore, mas é tão desconfortável que desisto.
E então escuto:— Raquel!
A voz que atormenta minha cabeça e que faz meu coração disparar sem controle.
Surpresa, olho para a rua e vejo Ares vindo depressa. Seu rosto deixa transparecer a preocupação, mas a essa altura não me importo mais.
Adoraria dizer que não sinto nada ao vê-lo, mas não é verdade. Ele está sempre absurdamente lindo e perfeito.
Quando me alcança, Ares me envolve num abraço forte.
Seu cheiro é sempre tão bom…
— Pensei que não fosse te encontrar.
Permaneço imóvel, sem levantar os braços para retribuir o abraço. Ele me solta e segura meu rosto.
— Está tudo bem?
Não respondo nada, apenas afasto as mãos dele.
Ares fica chateado com meu gesto, mas não me impede.
— Você está muito brava, né?
— Não. — A frieza da minha voz surpreende a nós dois. — Estou decepcionada.
— Eu… — Ele coça a parte de trás da cabeça, bagunçando os cabelos pretos. — Desculpa.
— Tá.
Ele franze o cenho.
— Tá? Raquel, fala comigo, sei que você tem um milhão de coisas para dizer.
Dou de ombros.
— Na verdade, não.
— Por favor, mente, me ofende, grita comigo, mas não fica assim calada. Seu silêncio é… angustiante.
— O que você quer que eu diga?
Ele vira de costas, segurando a cabeça como se não soubesse o que dizer. Quando se vira para mim de novo, sua voz é doce:
— Me desculpa, sério.
Dou um sorriso triste.
— Isso não é suficiente.
— Eu sei e não quero que seja. — Ele contrai os lábios. — Só… me dá mais uma chance.
Meu sorriso fica mais triste.
— É nisso que essa história se transformou: um ciclo interminável de chances. Você me machuca, eu te desculpo e volto como se nada tivesse acontecido.
— Raquel… — Talvez seja minha culpa ter tantas expectativas em relação a você.
Uma expressão de dor desponta em seu rosto. Eu me viro e começo a me afastar dele. Não sei o que estou fazendo nem aonde vou, mas preciso me afastar de Ares.
— Raquel, espera! — Ares me pega pelo braço, me virando para ele mais uma vez.
— Tudo isso é muito novo para mim, e não é desculpa, nunca tinha… tentado nada sério com ninguém antes. Não sei o que você espera, sei que parece óbvio para muitas pessoas, mas para mim não é.