você é maluco?

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O treino de futebol ia ser depois da aula. Então, quem fizesse parte do time tinha que ficar para treinar, e assim fizemos. Estava no vestiário trocando de roupa para treinar quando recebo uma mensagem do meu pai:

Mensagem:
Filho, você sai que horas da escola?

Oi pai, fiquei pro treino de hoje. Saio uma da tarde porque?

Hoje um amigo meu que não vejo faz um tempo vem aqui no escritório pra conversarmos e marcamos de almoçar depois.

Certo pai, eu vejo se a Susana fez almoço em casa. Se não, eu peço algo pra comer.

Não filho, eu quero que você venha pro almoço. Esse amigo vai trazer o filho dele pra me apresentar, e queria apresentar você a ele também. Quando ele te viu, você era pequeno ainda.

Poxa pai, odeio esses almoços, você sabe.

Só hoje filho.

Tá bom pai, me passa o endereço do restaurante que quando sair daqui vou pra lá.

Certo.

Endereço: [Endereço].

Deixo o celular de lado e vou pro campo pra começar o treino. Para começar, o treinador falou umas palavras de boas vindas e falou da temporada que iria começar logo logo. Depois, treinamos uns passes, jogamos um pouco e, o treinador encerrou o treino. Hoje não foi tão pesado, porque era o primeiro dia. Fui tomar banho e trocar de roupa. Quando olho a hora, era uma da tarde em ponto. Mando mensagem pro meu pai avisando que tô indo pro tal restaurante e ele logo responde falando que já estava lá com esse tal amigo e que só faltava eu e o filho do outro cara. Dou tchau pra galera, vou pro estacionamento, pego o carro e vou até o endereço que ele tinha mandado.

O caminho foi bem tranquilo. Quando estava entrando no estacionamento do restaurante, um cara com uma Porsche passa bem rápido ao meu lado, quase batendo no meu carro novinho. Estaciono o carro na vaga que tem mais perto. Quando saio do carro, avisto o motorista da tal Porsche. Então, fecho o carro e vou até ele para tirar satisfação por ele quase ter batido no meu carro. Ele estava sentado no banco do carro ainda, não tinha visto seu rosto e fui logo falando:

— Ei cara, você é maluco de ter entrado tão rápido nesse estacionamento fechado? Você quase bate a porra do seu carro no meu — falei um pouco alterado. Assim que acabo de falar, ele sai do carro e me bate um arrependimento na hora. Ele é alto. Se eu tenho 1,73, ele deve ter 1,87 por aí. Deve ter uns 25 anos, tem umas tatuagens no braço, é forte e tem uma cara de bravo. Ele vem andando na minha direção e eu dou uns passos pra trás até bater as costas na pilastra que estava logo atrás de mim. Ele chega perto e fala:

— Quem mandou você ficar com essa merda de carro no meio? Da próxima vez, passo por cima dos dois — ele vira e sai em direção do carro de novo.

Eu até pensei em dar uma resposta, mas não queria apanhar ali. Então, entrei no restaurante um pouquinho nervoso ainda. Vi meu pai de longe, então fui na direção dele. Pelo visto, o filho do amigo do meu pai ainda não tinha chegado, já que só tinha eles dois na mesa. Quando cheguei na mesa, falei com meu pai e o cara logo se levantou, apertou minha mão e começou a falar como eu tinha crescido, que estava bonito e que devia fazer sucesso com as meninas. Ele parecia ser bem legal. Me sentei na cadeira ao lado do meu pai e comecei a mexer no celular enquanto os dois conversavam. Não passou nem dois minutos que eu tinha chegado, o amigo do meu pai, que descobri se chamar Rodrigo, levantou da cadeira e falou:

— Olha ele aí, demorou mas chegou.

Meu pai levanta também pra cumprimentar o tal filho do Rodrigo. Eu continuo sentado até escutar a voz do cara do estacionamento:

— Desculpa a demora pai, me atrasei um pouco antes de vir e teve um idiota que parecia que não sabia dirigir que tava com o carro parado no meio do estacionamento ali embaixo.

Ele parecia não ter notado minha presença ainda ou então não tinha reparado que era eu. Quando eles sentam, o Rodrigo fala:

— filho, esse aqui é o filho do Bernardo, o Theo. E Theo, esse é o Douglas.

Quando ele olha pra mim, só aí que ele percebe que sou eu. Então, eu falo:

— Prazer, Douglas. E desculpa ter ficado com o carro no meio, tava procurando uma vaga — falei achando que ia afetar ele e deixar ele com vergonha e me vingar pela ameaça que ele fez no estacionamento. Então ele fala:

— Legal, vê se aprende a dirigir pra não ficar atrapalhando, baixinho.

Ele fala isso e meu pai e o Rodrigo ficam rindo, achando que é brincadeira dele. Só que eu sabia que não era, então fechei a cara e fiquei quieto. Os três passaram o almoço todo interagindo e rindo, falando sobre diversos assuntos, e eu fiquei na minha. Depois de um tempo, só Deus sabe o que eles estavam conversando, que meu pai olha pra mim e fala:

— Que legal, né filho?

— Desculpa pai, me distraí um pouco, o que você disse?

— O Douglas tem uma academia de Box. Você não me falou uma vez que queria fazer, por que não vai lá pra conhecer qualquer dia desses? Tudo bem ele ir, Douglas?

— Claro, tudo bem sim — ele falou um pouco sério. Tenho certeza que ele quer que eu vá pra ele me encher de porrada com a desculpa que tava ensinando.

— Viu filho, só você marcar um dia pra ir agora.

— Tá bom pai, vou marcar.

Claro que eu não ia marcar nada e vou torcer pra nunca mais ver esse marginal na minha frente.

— Pai, eu tenho que ir pra casa, tenho uns deveres de casa pra fazer e quero descansar um pouco do treino de hoje.

— Treino? - Rodrigo pergunta.

— É, meu filho joga no time da escola, ele adora futebol - meu pai responde.

— Escola? - Douglas pergunta. - Quantos anos você tem, Theo?

— Tenho 17 - falo um pouco baixo. Ele olha pra mim e dá um sorriso. - Ah, por isso dirigi mal.

— Deve ser mesmo - falo, concordando. Me levanto, dou tchau ao meu pai e ao resto da mesa, e saio.



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