pedir desculpas pelo que?

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Depois daquele péssimo almoço, a semana passou rápido, com aulas pela manhã, treinos até uma da tarde, e eu voltava pra casa pra descansar e fazer lição de casa. Teve um dia que saí pra dar aquela volta de carro que tinha prometido ao Daniel. Fora isso, a semana foi bem legal. Era sábado e devia ser umas 17:00 da tarde. Passei o dia deitado e dei uma desculpa pro meu pai mais cedo, que era por causa que a semana foi meio puxada e tava me acostumando de novo. Ele aceitou e me deixou dormir. Levantei da cama as 17:10, tomei banho e vesti uma roupa de frio, porque estava chovendo lá fora e estava meio frio. Desço para ir para a cozinha atrás de alguma coisa para comer. Quando estou passando pela sala para chegar onde desejo, meu pai chama a minha atenção:

— Filho, você vai sair com seus amigos agora à noite?
— Não, pai. Por quê?
— O Douglas me mandou mensagem agora à tarde, falando que se você quisesse conhecer a academia hoje seria um bom dia, que não teria muito movimento.
— Pai, hoje eu queria ficar quieto na minha.
— Ah, filhão, tá bom então. Só achei que ia ser bom sair um pouco e conhecer gente nova. — Ele falou isso desanimado. Eu sabia que ele estava preocupado comigo e eu não ajudava muito, passando o dia trancado no quarto.
— Tudo bem, Pai. Eu vou aproveitar que não tô fazendo nada, né. Só vou por uma roupa melhor. — Subo para o quarto, coloco um moletom, uma toca, uma calça e um tênis, e desço.
— Me fala o endereço, pai.
— Ele me passa o endereço, porém não consigo identificar onde fica. Tô olhando no GPS e acho que não vou conseguir chegar lá.
— É... pai, só tem um problema, não sei onde fica mesmo com o GPS. Nunca fui por esses lados.
— Tudo bem, filho. Eu levo você. Eu ia ter que passar na empresa ainda hoje, não custa aproveitar, né?
— Tudo bem.
— Vamos?
— Sim, vamos.

O caminho foi tranquilo. Eu e meu pai conversamos um pouco até chegar na tal academia de Box. Antes de descer do carro, meu pai fala que na hora de ir embora é só mandar mensagem que ele vai me buscar. Então, dou tchau pra ele e passo pela porta, entrando no lugar. Era um espaço bem grande, tinha tatames espalhados que cobriam o chão inteiro. Mais para um canto, tinha um ringue e vários sacos espalhados. Havia alguns espelhos. Era um espaço muito legal e grande. Ele devia ter muitos alunos pela quantidade de coisas que tinham. Só que tinha um problema: não tinha ninguém na academia. Só estava escutando alguns barulhos vindo de um pouco mais para trás, onde ficavam os sacos para bater. Fui andando um pouco devagar até lá. Quando estou chegando perto, vejo que é o Douglas lá. Ele estava com luvas de Box na mão, espancando o coitado do saco. Estava sem camisa e suado. Seu corpo era lotado de tatuagens, algumas pequenas, outras grandes, porém se completavam perfeitamente.

Quando virei, vi que havia mais um ringue desse lado e fiquei olhando até que não escuto mais os barulhos dele batendo no saco. Quando viro para a direção que ele estava, ele está parado um pouco perto de mim, me fazendo tomar um susto e dar um passo para trás.

— O que você está fazendo aqui?
— É... meu pai falou que você disse que eu podia vir hoje. — Falei, gaguejando um pouco.
— Era pra você ter vindo durante a tarde. — Ele falou com a cara de irritado de sempre, me olhando.
— Desculpa, não deu. — Falei com a voz baixa. — Se você quiser, eu posso ir embora.
— Não precisa. Você já está aqui, então fica. Porém, eu estou treinando. — Ele falou e voltou para o lugar onde estava quando cheguei. Novamente, escuto os barulhos dele batendo no saco lá.

Fiquei olhando ele treinando por uns 5 minutos. Ele era muito bonito, isso não podia negar. Era alto, forte e com um abdômen bem sarado. Então não pude deixar de reparar nele. Porém, ele me assusta. Tento seguir o que meu pai disse sobre novas amizades e resolvo ir falar com ele de novo. Vai que ele é legal e só estava irritado no dia do estacionamento.

— Oi, é... eu queria pedir desculpas pela aquele dia no estacionamento. Fiquei meio irritado porque tinha acabado de ganhar o carro. — Ele nem parou o que estava fazendo e só respondeu:
— Tá desculpado.
— Você não vai pedir desculpas também? — Então ele parou e olhou pra mim.
— Pedir desculpas pelo que?
— Por ter me ameaçado.
— Primeiro, não foi uma ameaça, foi um aviso. E segundo, você quer que eu peça desculpas?
— Olha, seria legal você pedir, porque assim a gente podia ser amigo. — Falei pra ele porém saio mais como se eu tivesse resmungando porque estava olhando pro chão. Ele me deixava assim, nervoso, com medo e vergonha. Quando terminei de falar, ele não respondeu. Só vi a sombra dele chegando perto e cobrindo a minha.
— Quem disse que eu quero ser seu amigo? — Ah, ninguém. Sinto muito. — Falei com a cabeça levantada agora e estava com o coração acelerado. Estava com medo de ter uma crise de ansiedade aqui.

Ele deve ter reparado que eu estava ficando ansioso e muito nervoso, porque ele tirou as luvas da mão dele, olhou pra mim e falou:
— Uau, calma. Você tá tremendo. Tá com frio?

Já Posso Falar Que Te Amo?Onde histórias criam vida. Descubra agora