vai ser assim então?

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Quando entrei em casa, vi meu pai sentado no sofá. Ele olhou para mim um pouco surpreso, pois era para ele me buscar e, de repente, eu estava ali, todo ensopado e tremendo. Escutei um barulho atrás de mim e torci para ser tudo menos ele. Quando olhei para trás, ele ainda estava sem camisa. Meu pai levantou do sofá e veio até onde eu estava.

— Theo, você veio na chuva? — perguntou ele.

— Não, pai, o Douglas me trouxe no carro dele. Quando estávamos descendo do carro, começou a chover forte, então corremos para dentro. — Olhei para Douglas com uma cara séria, que ele entendeu na hora que era para colocar a camisa.

— Boa noite, seu Bernardo. Só vim deixar seu filho e já estou indo. — Douglas cumprimentou.

— Nada disso, está chovendo muito lá fora. É muito perigoso dirigir na chuva. — Meu pai contradisse.

— Ahh, pai, o Douglas não se importa de dirigir na chuva. — Falei tentando fazer com que meu pai deixasse ele ir embora.

— Theo, que coisa feia! Cadê a educação que eu te dei? Não pode falar para ele ir embora nessa chuva. Vai que acontece alguma coisa no caminho. Melhor esperar passar. — Meu pai repreendeu.

— Theo, leve o Douglas para se secar. Se quiser, um banho quente, fique à vontade. — Ele sugeriu.

— Vou mandar preparar alguma coisa para vocês comerem. — Acrescentou.

— Muito obrigado, seu Bernardo. — Agradeceu Douglas.

Não falei nada, não queria o Douglas ali porque não sabia o que dizer para ele depois do que aconteceu lá fora. Então apenas subi as escadas e aquela montanha subiu atrás de mim. Quando entrei no meu quarto ele entrou logo atrás de mim, fechando a porta, fui até o armário pegar uma toalha para ele e  entreguei sem falar absolutamente nada.

— Você vai ficar calado como se nada tivesse acontecido? — Ele questionou.

— Não aconteceu nada. — Respondi e fui sentar na minha cama, começando a mexer no celular.

— Vai ser assim então? — Ele insistiu.

— Olha, eu nem te conheço, tem só uma semana que descobri que você existe. E você já me ameaçou, quis bater em mim, implicou comigo, quase bateu no meu carro e tentou me beijar.

— Meu nome é Douglas, meu pai é amigo do seu pai, tenho 24 anos, luto Boxe e tenho dinheiro pra caramba. — Ele se gabou da última parte. — Viu? Você me conhece sim.

— Eu estou falando sério, não faz mais isso, tá bom? Se você quiser podemos ser amigos. Tudo bem? — Perguntei.

Ele pegou a toalha com uma cara muito irritada, colocou no ombro e disse: — Já tenho amigos demais. — E foi em direção ao banheiro que havia no quarto.

Fiquei pensando no ocorrido enquanto ele tomava banho. Depois de um tempo, escutei o chuveiro desligar e ficar um silêncio por uns minutos, até que ele saiu do banheiro completamente pelado e secando o cabelo. Ele também tinha tatuagens nas pernas e coxas e tinha seu negócio ali no meio, que era bem grande mesmo estando adormecido. Não adiantava ignorar, não tinha como não notar. Virei a cabeça para o outro lado e falei:

— Por que você não se vestiu no banheiro? — Disse meio sem graça.

— Você não falou que quer ser meu amigo? Amigos se veem pelados, é normal, ainda mais quando são homens. — Ele provocou.

— Por quê? Não gostou de me ver assim? — Ele percebeu minha hesitação e continuou provocando.

— Olha só, faz o favor de colocar uma roupa e para de ser chato.

Fui tomar um banho também. Passei uns dez minutos no banheiro e, quando sai enrolado na toalha, fui direto para o closet, que era grande, mas não tanto, troquei de roupa e fui até onde ele estava. Ele tinha vestido a calça, mas ainda estava sem camisa e deitado na minha cama.

— Coloca a sua camisa.

— Por quê? — Ele perguntou sem tirar os olhos do celular.

— Porque vamos descer e você não vai aparecer na frente do meu pai assim. — Expliquei.

— Minha camisa ainda está molhada. — Ele justificou.

Fui até o closet, peguei um dos meus moletons enormes que eu tinha e joguei para ele vestir. Sorte que uso uma numeração bem maior. Ele levantou e começou a vestir o moletom.

— Caramba, baixinho, você é muito cheiroso. — Ele afundou o rosto na peça de roupa.

— Vamos lá para baixo, meu pai deve estar esperando. — Ignorei o que ele tinha dito. Ele concordou com a cabeça, e saímos do quarto.

Quando descemos a escada, meu pai falou que tinha comida para gente na mesa. Então fomos até lá, nos sentamos e começamos a comer. Quando terminamos, a chuva ainda não tinha parado. Então fomos para a sala onde meu pai estava e nós sentamos no sofá.

— Então filho, você gostou da academia? — Meu pai perguntou, olhando para mim. Vi que Douglas também me olhava, esperando uma resposta.

— Sim, é um espaço bem legal. — Respondi.

— Que bom que gostou. — Disse Douglas.

— Pô, filho, que bom que gostou e já pensou em fazer as aulas? — Meu pai sugeriu.

— Se você quiser fazer, eu posso ensinar você lá. — Completou Douglas.

— Estou pensando ainda. — Respondi.

Conversamos sobre mais algumas coisas e, quando percebemos, a chuva tinha parado. Douglas disse que já ia para casa, se despediu do meu pai, que mandou um abraço para Rodrigo, amigo dele, e eu fui deixá-lo na porta.

— Tchau, Douglas.

— Tchau, baixinho. Antes de ir, você podia me passar seu número, né? Eu ainda não tenho.

— Tá bom. — Falei, pegando o celular e digitando meu número, entrego para ele, que logo salvou o contato. Então ele foi na direção do seu carro, ligou ele e foi embora.

Já Posso Falar Que Te Amo?Onde histórias criam vida. Descubra agora