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Não consegui dormir, não consegui descansar, eu só conseguia chorar e chorar

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Não consegui dormir, não consegui descansar, eu só conseguia chorar e chorar.

Meu coração estava dolorido. Eu tinha acabado de descobrir uma traição, uma traição vindo de alguém que eu não esperava.

Conheci o Yuri antes mesmo dele se tornar conhecido, antes mesmo dele se tornar o Yuri Alberto. Conheci ele na base do Santos, onde ficava 80 minutos no banco e 10 no campo, eu estava fazendo um trabalho da faculdade que consistia em entrevistar os jogadores juvenis e ele estava lá, depois disso, a gente nunca mais se desgrudou.

Eu corri tanto pra cima e pra baixo em treinos com ele, dei conselhos, ajudei em temporadas difíceis. Pra ele fazer isso, logo comigo?

Sei que ele me ajudou muito, me ajudou a conhecer pessoas, a conhecer os meus ídolos do futebol, ajudou o meu pai a conseguir uma camisa que o Ronaldo Giovanelli, ídolo dele, usou em uma temporada. Mas, pra que? Pra que ele fez tudo isso, se ia me jogar de escanteio e me tirar como otaria.

— Amiga, o Gabigol já tá aí. —Karol fala entrando no quarto e me entregando um pão de queijo.

— Não consigo comer. —Passo as mãos no rosto— E eu não acredito que vou precisar falar com esse cara, depois de todo aquele desrespeito que ele fez com o meu time em campo.

— Você consegue! —Karol me dá um beijo na testa— Qualquer coisa você me dá um grito e eu te busco onde quer que esteja.

— Eu juro que se ele me irritar quebro a única perna dele que funciona. —Praguejo pegando minha bolsa e saindo do quarto.

Não tinha visto o Yuri desde ontem à noite e pra ser sincera, não queria ver nunca mais. Com certeza enquanto eu estou aqui me tremendo, com as lágrimas escorrendo dos olhos, ele está lá com outra coisa escorrendo em cima da irmã do Neymar.

Abro a porta daquela Porsche preta, a mesma que estava no estacionamento da Neo Química dias atrás, agora está em frente ao hotel que estamos hospedados.

— Bom dia, loirinha. —Gabigol fala erguendo os olhos escuros.

— Vai se foder, Gabigol! —Coloco o meu cinto.

Ele fica quieto, a única coisa que dá pra escutar durante todo o percurso é a música dele com o Papatinho tocando no rádio. E eu ainda achava que não dava pra piorar.

— Tem como ir devagar? —Grito quando o painel da porsche marca 120 km.

— Calma, loirinha. Confia em mim. —Dá risada.

— Nunca, Gabigol. Nunca!

Só respiro tranquila quando ele estaciona em um restaurante na Barra. Abro a porta, e já entro pra dentro do local, sentindo sua presença nas minhas costas.

— Tenho uma reserva, Gabriel Barbosa. —Ele fala e a atendente abre os dentes para o atacante.

— Parabéns pelo título de ontem, Gabi! Jogou muito. — Ela fala mostrando o local das reservas e eu reviro os olhos.

Era uma mesa mais afastada das outras, com a vista para o mar. Me acomodo na cadeira e o jogador se senta na minha frente.

— Agora, desembucha. —Falo autoritária.

— Você gosta de mandar, né loirinha? Marrenta. —Abre um sorriso debochado, aquele maldito deboche— Como você tá se sentindo?

— Fala sério, Gabigol. Eu não sou sua amiga, e você não é meu terapeuta, então vai logo para o que realmente importa. — Ele abre os braços em sinal de rendição.

— O que realmente importa é que nós dois temos chifres na cabeça, gostou? —Respira fundo— O seu namoradinho já tá com a Rafaella há uns seis meses.

Sem perceber, aperto minhas unhas contra a pele da minha mão. Não falo nada, deixo ele continuar.

— Descobri no Baile do Dennis que eles estavam juntos. —Seu semblante fecha— A Rafaella me deu um perdido, falando que ia no banheiro e minutos depois o Arrasca veio me mostrar uma foto dela aos beijos com o seu namoradinho.

— Isso só pode ser brincadeira. —Contenho minhas lágrimas antes de começarem a descer— E eu ainda falei pra esse filho da puta que viria junto e ele falou que não queria me expor.

— Papo reto loirinha, como tu nunca desconfiou? O cara nunca responde quando perguntam sobre relacionamento, nunca comemora um gol pra você ou perto de você, sempre dá rolê sozinho.

— Ele sempre faz o Y em todas as comemorações, Gabigol. —Bufo irritada.

— É a mesma coisa se eu fizer um G em todas as minhas comemorações. Jura que você achava que o Y é de Yasmin? É de Yuri.

— Eu ainda não consigo processar todas essas informações. Como eu pude ser tão idiota.

— Vou pedir alguma coisa pra tu comer, que a sua amiga falou que você passou a noite sem dormir e com o estômago vazio.

— Eu já te falei que você não é meu amigo, Gabigol! Eu não vou tomar café da manhã com você. Eu odeio você, que fique bem claro.

— Você odeia o Gabigol, porque ele mete muitos gols no seu time, e bem gostoso ainda. —Debocha— O Gabriel você nem conhece, loirinha. E hoje ele que tá aqui.

— Eu nunca mais vou amar ninguém na minha vida, nunca mais. Principalmente jogador, da mesma laia que vocês.

— Não promete o que você não pode cumprir.

Com o atacante me infernizando para engolir qualquer coisa, consigo tomar um copo de café com leite e comer um misto quente.

Não consegui conter minhas lágrimas quando entrei no carro. Ele me observava com os olhos, de vez em quando, mas não falou nada, respeitou o meu espaço.

— Chegamos em território inimigo, loirinha. —Dá um sorriso parando em frente ao hotel.

Tiro o meu cinto, coloco minha bolsa no ombro e abro a porta da Porsche.

— Não vou receber nem um "Muito obrigada, Gabriel" vindo de você? —Ele pergunta com um sorriso.

— Vai se foder, Gabigol! —Falo fechando a porta e ele abre os vidros.

— A gente se tromba por aí, loirinha. —Grita antes de sair cantando pneu, como de costume.

Nunca, Gabigol! Eu nunca mais quero ver sua cara.

A sua e a do desgraçado do Yuri.

Cláusula 3 [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora