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De manhã, minha irmã me encontra admirando as pistas em uma daquelas janelas que vão do chão até o teto. Meus olhos estão abertos e cheios de pó. Minha cabeça está inclinada para um lado. Raramente me permito parecer tanto com um cadáver.

Tem algo errado comigo. Há um vazio e uma dor em meu estômago, uma sensação que fica entre estar morto de fome e estar de ressaca. Ela me pega pelo braço e faz com que eu fique em pé. Então começa a andar e me leva com ela, como se eu fosse uma mala com rodinhas. Sinto um flash de amargor quente me dominar e começo a falar com ela.

— Nome — falo, olhando para ela. — Nome? — Ela me lança um olhar frio e continua caminhando. — Trabalho? Escola? — Meu tom de voz muda de interrogativo para acusativo. — Filme? Música? — Aquilo jorra de mim como óleo saindo e oleoduto furado. — Livro? — eu grito para ela. — Arte? Comida? Casa? Nome?

Ela se vira e cospe em mim. Na minha camisa, na verdade, e rosna como um animal. Mas o olhar dela esfria instantaneamente a minha explosão. Ela está... apavorada. Seus lábios estão trêmulos. O que estou fazendo?

Olho para o chão. Então ela volta a caminhar e eu a sigo, tentando afastar a estranha nuvem negra que parou em cima de mim. Ela me leva até uma daquelas lojas de suvenires dos aeroportos que está toda detonada e meio queimada, e então solta um grunhido empático. Nossos pais emergem de trás de uma prateleira tombada cheia de best-sellers que nunca serão lidos. Os dois estão roendo um antebraço meio marrom nas pontas e nem um pouco fresco.

— Onde... pegaram isso? — pergunto. Eles dão de ombros. Viro-me para minha irmã. — Precisam... melhor.

Ela faz uma careta e aponta para mim. Depois grunhe aborrecida e abaixo a cabeça, devidamente castigado. Ela tem razão, não tenho sido um filho muito presente. Será que é possível ter uma crise adolescente sem saber quantos anos você tem? Poderia ter trinta e poucos anos ou talvez nem vinte. Poderia ser mais novo que Izuku.

Ela grunhe para os velhos e gesticula em direção ao saguão. Eles deitam as cabeças e fazem um som de choramingo, mas acabam nos seguindo. Vamos levá-los para o primeiro dia de trabalho.

Alguns de nós, talvez os mesmos Mortos laboriosos que construíram as igrejas de escadas dos Ossudos, montaram uma "sala de escritório" na praça de alimentação, empilhando bagagens pesadas perto de paredes bem altas. Quando nos aproximamos, ouvimos grunhidos e gritos. Há uma fila de zumbis na porta, esperando pela vez de entrar. Eu e minha irmã levamos nossos pais para o final da fila e prestamos atenção à reunião.

Cinco crianças Mortas estão cercando um homem magricela de meia-idade e Vivo. Ele se encosta nas malas, olha freneticamente para os lados com as mãos fechadas em posição de luta. Dois jovens pulam sobre ele e tentam prender os braços dele no chão, mas são chacoalhados para longe. O terceiro dá uma pequena mordida no ombro e o homem grita como se tivesse sido ferido mortalmente, o que, na verdade, aconteceu mesmo. De mordidas de zumbis, passando por inanição e chegando na boa e conhecida velhice e doenças, existem muitas formas de morrer neste novo mundo. Muitos jeitos dos Vivos serem parados. Mas como apenas algumas exceções de devorados e descerebrados, todos os caminhos levam a nós, os Mortos, e a nossa imortalidade nem um pouco glamourosa.

A iminente conversão do homem parece tê-lo deixado atordoado. Uma jovem enfiou os dentes na coxa do homem, mas ele nem tremeu, apenas se curvou e começou a girar a cabeça dela até que o pescoço quebrasse com um barulho que todos ouviram. Ela cambaleou para longe dele com a cabeça virada em um ângulo impossível.

— Errado — gritou o instrutor. — Atacar... garganta! — As crianças recuaram e ficaram olhando para o homem com cautela. — Garganta! —repete o instrutor. Ele e seu assistente entram na arena e dominam o homem, fazendo com que ele fique deitado. O professor o mata e depois fica em pé, com sangue escorrendo pelo seu queixo. — Garganta — ele repete, apontando para o corpo.

Warm Bodies | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora