Segundo Passo: Atacar

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Sou jovem. Sou um adolescente cheio de saúde, forte, viril e transbordando energia. Mas estou ficando velho. Cada segundo me envelhece. Minhas células vão se espalhando mais finas, rijas, frias e escuras. Tenho quinze anos, mas cada morte à minha volta adiciona uma década a este número. Cada atrocidade, cada tragédia, cada pequeno momento de tristeza. Logo serei um idoso.

Aqui estou eu, Shoto Todoroki, no Estádio. Ouço pássaros nas paredes. Os gemidos bovinos dos pombos, os silvos musicais dos estorninhos. Olho para cima e respiro fundo. O ar está muito mais limpo ultimamente, mesmo aqui. Fico imaginando se era esse o cheiro do mundo quando eu era pequeno, séculos antes das chaminés. Me frustra e também me fascina o fato de que nunca saberemos com certeza, apesar de todos os esforços dos historiadores, cientistas e poetas, nunca saberemos de alguns coisas com certeza. Como o primeiro som soava. Qual a sensação de ver a primeira fotografia. Quem deu o primeiro beijo, e se foi bom.

— Shoto!

Sorrio e aceno com a mão para meu pequeno admirador quando ele e os outros muitos órfãos atravessam a rua em fila e de mãos dadas.

— Oi... amigão! — falo. Nunca consigo lembrar o nome dele.

— Estamos indo até os jardins.

— Que legal!

Izuku Toshinori sorri para mim, liderando a fila de crianças como uma Mamãe Ganso. Em uma cidade de milhares de pessoas, eu o vejo quase todos os dias, às vezes perto das escolas, onde é mais provável, e às vezes nos cantos mais remotos do Estádio, onde as probabilidades de isso ocorrer pareciam bem pequenas.

Será que eu o estou seguindo, ou é ele quem está fazendo isso? De qualquer jeito, sinto um pulso de adrenalina e hormônios estressantes fluir por mim toda vez que o vejo, passando pelas minhas mãos e fazendo com que suem, subindo ao meu rosto e o deixando vermelho. Da última vez que nos encontramos, ele me levou até a cobertura. Ouvimos música durante horas e, quando o sol se pôs, tenho certeza de que quase nos beijamos.

— Quer ir com a gente, Shoto? — ele pergunta. — É uma excursão.

— Ah, que divertido, uma excursão até o lugar que acabei de passar oito horas trabalhando.

— Bom, não temos muitas opções aqui dentro.

— Já percebi.

Ele faz um gesto com a mão para que eu vá com eles, e eu concordo imediatamente, mesmo dando o meu melhor para parecer relutante.

— Eles nunca vão lá fora? — eu penso e pergunto, olhando as crianças marchando desordenadamente.

— A Sra. Nemuri diria que estamos fora.

— Quis dizer lá fora. Árvores, rios etc.

— Não até terem doze anos.

— Que chato.

— É...

Caminhamos em silêncio a não ser pelo burburinho de vozes das crianças atrás de nós. As paredes do Estádio se estendem de forma protetora, como os pais que essas crianças jamais vão conhecer. Minha excitação por ver Izuku se enfraquece diante de uma repentina nuvem de melancolia.

— Como você aguenta ficar aqui? — eu pergunto, embora a minha entonação pouco denote que se trata de uma indagação. Izuku faz uma careta para mim.

— Mas nós saímos. Duas vezes por mês.

— Eu sei, mas...

Ele espera.

Mas o quê, Shoto?

— Você não fica pensando se vale a pena? — Gesticulo vagamente para os muros. — Tudo isso? — A expressão dele se endurece. — Quer dizer, será que estamos mesmo melhor aqui dentro?

Warm Bodies | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora