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Dentro da casa, sobre a mesa de jantar, encontro um bilhete. Tem algo escrito, letras que não consigo juntar e formar palavras, mas ao lado há duas fotos. As duas de Izuku, tiradas por ele mesmo, esticando o braço. Em uma ele está acenando adeus com a mão, e o gesto parece hesitante, meio sentimental apenas. Na outra ele está com a mesma mão sobre o peito. Seu rosto está sério, mas seus olhos estão lacrimosos.

Adeus, Kacchan, o retrato sussurra para mim. chegou aquela hora. é hora de dizer. Será que você consegue?

Seguro a foto na minha frente, olhando para ela. Passo os dedos nela, fazendo aparecer aqueles arco-íris porque a foto acabou de ser revelada. Penso em levá-las comigo, mas é melhor não. Ainda não estou pronto para transformar Izuku em uma recordação.

Fale, Kat. Fale agora.

Coloco a foto de volta na mesa e vou embora. Não digo nada. Começo a caminhar de volta para o aeroporto. Não sei o que vou encontrar lá. Uma morte definitiva? É bem possível, depois de toda a comoção que causei. Os Ossudos podem me jogar fora como um simples lixo infeccioso. Mas estou sozinho de novo, meu mundo é pequeno e não tenho muita opção. Não tenho outro lugar para ir.

O caminho feito em quarenta minutos de carro vai levar o dia todo a pé. Enquanto estou andando, o vento muda de direção e as nuvens carregadas assustadoras de ontem voltam ao horizonte para pedir bis. Elas vão me cercando, diminuindo aos poucos o azul do céu como um círculo que se fecha. Ando reto e rápido, quase marchando.

O pouco azul que resta no céu vai virando cinza, azul escuro, então se fecha completamente e começa a chuva, que cai em uma torrente que faz a noite anterior parecer um chuveiro fraco. E fico totalmente confuso quando começo a sentir frio.

Quando a água vai encharcando minhas roupas e todos os poros da minha pele, eu tremo. E apesar de ter mais do que posto meu sono em dia recentemente, sinto-o aparecer de novo. São quase três noites seguidas. Pego a próxima saída da estrada e subo no triângulo gramado que fica entre a pista e a saída. Entro no mato e me agacho no meio das árvores, uma mini floresta de uns dez ou doze cedros dispostos em um agradável padrão para os estressados motoristas fantasmas.

Encolho-me como uma bola no pé de uma dessas árvores, conseguindo uma relativa proteção graças aos galhos densos. Fecho os olhos. Um raio aparece no horizonte, o trovão faz meus ossos tremerem e então mergulho na escuridão.

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Eu e Izuku estamos no 747 e percebo que estou sonhando. Mas é um sonho bem real, não uma memória da vida de Shoto. É algo que vem totalmente de mim. A clareza melhorou um pouco depois daquela primeira tentativa frustrada que meu cérebro fez no aeroporto.

Mas a qualidade da imagem ainda é estranha e precária, como se fosse um filme amador quando comparado com as superproduções da vida de Shoto.

Izuku e eu estamos sentados com as pernas entrecruzadas, um de frente para o outro, flutuando acima das nuvens na asa direita do avião. O vento levanta nossos cabelos, mas ele não é mais forte do que o que enfrentamos no conversível.

— Quer dizer que agora você sonha? — Izuku pergunta. Sorrio, nervoso.

— Parece que sim.

Izuku não sorri. Seus olhos estão frios.

— Imagino que não tivesse com o que sonhar até ter problemas com Vivos. Você parece um moleque tentando manter um diário.

Agora estamos em terra, sentados no gramado de um subúrbio ensolarado. Um casal de obesos mórbidos faz um churrasco com membros humanos no quintal. Tento manter o foco em Izuku.

Warm Bodies | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora