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Passos curtos. Lama embaixo dos pés. Não parece lugar nenhum. Mantras estranhos se repetem na minha cabeça. Velhos barbudos sussurrando em becos escuros. Onde está indo, Shoto? Criança idiota. Moleque descerebrado. Onde? A cada dia o universo fica maior, mais frio e sombrio. Paro em frente a uma porta negra. Um garoto mora nesta casa de metal. Eu o amo? É difícil dizer atualmente. Mas ele é a única coisa que restou. O último sol vermelho em um vazio que não para de crescer.

Entro na casa e o encontro sentado na escada, com os braços cruzados por cima dos joelhos. Ele põe um dedo na frente dos lábios.

— Meu pai — ele sussurra. Olho escada acima, em direção ao quarto do general. Ouço a voz dele resmungando na escuridão:

— Esta foto, Izuku. O parque aquático, lembra dele? Tive que pagar dez pratas por uma descida. Vinte minutos de trabalho para dez segundos de diversão. Mas valeu a pena naquela época, não? Gostava de olhar para o seu rosto enquanto deslizava pelo toboágua. Você era igualzinho a ela desde aquela época.

Izuku fica em pé em silêncio e vai em direção à porta.

— Seus olhos. Cabelos. Não parece nada comigo. É ela pura. Como ela pôde fazer isso?

Abro a porta e saio. Izuku me segue com passos leves, sem fazer nenhum barulho.

— Como ela pôde ser tão fraca? — o homem fala com uma voz que parece aço derretendo. — Como pôde nos deixar aqui?

Caminhamos em silêncio. A garoa cai em nossos cabelos e os sacudimos como se fôssemos cães de rua. Vamos até a casa do Coronel Aizawa. O marido dele abre a porta, vê a cara de Izuku e o abraça. Entramos para nos aquecer. Encontro Aizawa na sala, tomando café e olhando por trás dos óculos para um velho livro todo manchado. Enquanto Izuku e Hizashi conversam na cozinha, me sento em frente a ele.

— Shoto — ele diz.

— Coronel.

— Como vai indo?

— Estou vivo.

— Já é um bom começo. E como vai de casa nova?

— Vai indo.

Aizawa fica em silêncio por um momento.

— O que se passa na sua cabeça?

Procuro pelas palavras, pois parece que me esqueci da maioria delas. Finalmente, quase em silêncio, digo:

— Ele mentiu para mim.

— Como assim?

— Ele disse que estávamos consertando as coisas e que se não desistíssemos tudo poderia terminar bem.

— Ele acreditava nisso, e eu acredito também.

— Mas então ele morreu. — Minha voz fica trêmula e luto para me controlar. — E foi algo sem sentido. Nenhuma batalha, nenhum sacrifício nobre, apenas um acidente de trabalho estúpido que poderia ter acontecido com qualquer um, a qualquer hora e em qualquer tempo histórico.

— Shoto...

— Eu não entendo, senhor. Qual o objetivo de tentar consertar um mundo no qual passamos tão rapidamente? Qual o sentido de todo o trabalho, se ele vai simplesmente desaparecer? E sem nenhum aviso, com a porra de um tijolo caindo na sua cabeça?

Aizawa não diz nada. A conversa em voz baixa da cozinha se torna audível com o silêncio, então eles passam a sussurrar, tentando esconder do coronel algo que tenho certeza que ele sabe. Nosso pequeno mundo já está cansado demais para ficar se preocupando com os pecados de seus líderes.

Warm Bodies | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora