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Acordo com o som de gritos.

Meus olhos se abrem rapidamente, cuspo alguns insetos da boca e me sento. O som vem de longe, mas não é do Trabalho. Falta o pânico lamurioso dos cadáveres que ainda respiram por lá. Reconheço o fogo desafiador desses gritos, a esperança inexorável frente a inegável falta de esperança. Fico em pé e corro o mais rápido que um zumbi já correu.

Seguindo o som dos gritos, acho Izuku no portão de embarque de Partidas. Ele está em um canto, cercado por seis Mortos babando. Eles vão se aproximando dele, recuam um pouco quando ele balança seu cortador de grama barulhento e fumacento, mas voltam a andar, juntos. Corro até lá e invado o círculo, derrubando-os como se fossem pinos de boliche. Bato tão forte no que está mais perto dele que os ossos da minha mão se quebram como conchas esmigalhadas. O rosto do zumbi se afunda e ele cai. O segundo mais perto eu empurro até a parede e bato com a cabeça dele no concreto até seu cérebro aparecer e ele cair. Um deles me pega por trás e morde o meu quadril, arrancando um pedaço de carne. Estico a mão para trás, arranco o seu braço podre e então giro com força como se o braço fosse um taco de beisebol e eu fosse Babe Ruth. A cabeça dele gira 360 graus e então cai, arrancada do corpo. Fico parado em frente a Izuku com os braços levantados em posição de luta e os Mortos param de avançar.

— Izuku! — eu rosno para os zumbis e aponto para ele. — Izuku!

Eles ficam me olhando e balançam para a frente e para trás.

— Izuku! — falo outra vez, não tendo certeza do que mais poderia dizer. Ando até ele e coloco minha mão em seu coração. Solto o braço que usei como bastão e coloco a mão em meu coração. — Izuku.

O saguão está em silêncio, a não ser pelo chiado baixo do cortador de grama de Izuku. O ar está pesado, com o cheiro de damasco estragado que a gasolina soltava, e noto os vários corpos decapitados que estão perto dos pés dele e que não foram obra minha e penso: Muito bom, Izuku. Você é um anjo e uma pessoa sábia.

— Que merda... é essa? — ouço uma voz pesada grunhir atrás de mim.

Uma forma alta e forte está se levantando. É o primeiro que ataquei e dei um soco na cara. E é o Kiri. Nem o reconheci no calor do momento. Agora, com um lado do rosto afundado, está ainda mais difícil de reconhecê-lo. Ele olha para mim e passa a mão no rosto.

— Que está... fazendo, você... — A voz dele morre pela falta de outras palavras.

— Izuku — falo outra vez, como se isso fosse um argumento irrefutável. Aquela palavra, um nome completo e carnudo. Ela tem o efeito de um celular brilhante e falante mostrado em uma multidão de pessoas primitivas. Todos os Mortos que sobraram, olham para Izuku em total silêncio, menos Kiri. Ele está perplexo e enraivecido.

— Vivo! — ele cospe. — Comer!

Balanço a cabeça.

— Não.

— Comer!

— Não!

— Comer, caralho...

— Ei!

Kiri e eu nos viramos. Izuku sai de trás de mim. Ele olha para Kiri e aumenta a rotação do motor do cortador.

— Vai se foder — Izuku diz, encostando um dos braços no meu ombro, e sinto uma picada de calor se espalhar ao seu toque.

Kiri olha para ele, depois para mim, para ele e depois para mim de novo. Sua careta permanente está séria. Parece que estamos em um impasse, mas antes que ele possa se desenvolver, o silêncio é quebrado por um rugido reverberante, como um estranho sopro de um cometa sem ar.

Warm Bodies | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora