Capítulo 2

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SEMANAS DEPOIS

Depois do acontecido, Lucero tentou seguir a vida normalmente e se concentrar em seus estudos como sempre fez, apesar de muitas vezes se distrair olhando os rostos dos rapazes que moravam na pensão e tentando adivinhar quem tirou sua inocência no escuro daquele porão, mas todos pareciam agir como antes, sem olhares diferentes e com o mesmo respeito exigido por dona Cidinha que fazia questão de deixar claro o quanto era proibido tomar liberdades com sua afilhada. Ela era muito amiga da avó de Lucero, foi embora antes dela nascer com a promessa de que a batizaria logo que ela viesse ao mundo e assim fez. Quando soube que a moça tinha o sonho de fazer faculdade, ela propôs levá-la para morar na pensão e cuidar dela como uma filha, o que foi rapidamente aceito por ela ser de muita confiança da família. Naquele dia, Lucero havia passado mal incontáveis vezes na faculdade e foi atendida na enfermaria, onde tomou um remédio para enjoo e alguns soros vitaminados até se recuperar, o que a fez se atrasar um pouco para voltar para casa, deixando a madrinha preocupada por ela não ter aquele costume.

− Graças a Deus, menina. Por onde você andou que não me avisou?! – Cidinha parou de andar de um lado para o outro quando viu Lucero.

Lucero ia responder quando mais uma vez, sua cabeça girou e ela perdeu os sentidos lá mesmo.

~ ♥ ~

Quando Lucero se acordou, ela já estava tomando soro novamente na emergência de um hospital com Cidinha ao pé da cama. Assim que a moça desmaiou, ela começou a gritar e Fernando, um dos hóspedes da pensão, a ajudou a socorrê-la, chamou um táxi e estava esperando na recepção para o caso delas precisarem de mais alguma coisa. Ele era um bom rapaz, quieto e calado, mas havia se mostrado bastante solícito naquela situação.

− Ah, você se acordou, que bom. – Cidinha falou aliviada, acariciando a perna de Lucero. – Que susto que você me deu, minha filha. Eu quase caí dura ao seu lado quando vi você jogada no chão. Bem que eu digo que você estuda demais, não come e nem dorme direito, aí adoece, mas não se preocupe porque eu vou cuidar de você. O médico já deve estar vindo. – ela disparou a falar.

Lucero estava com muita dor de cabeça, atônita e o fato de Cidinha estar falando sem parar só lhe deixava mais confusa.

− Madrinha, o que está acontecendo? Onde eu estou? – Lucero perguntou fraca, agarrando o braço de Cidinha e a cabeça latejante com a mão livre.

− Você não se lembra? – Cidinha franziu o cenho, mas não esperou resposta e continuou falando. – Você chegou em casa bem mais tarde do que de costume e desmaiou sem mais, nem menos. E a propósito, onde você se enfiou depois da faculdade?

Lucero se preparou para explicar que estava o tempo todo na faculdade, só que já estava doente, mas um médico não muito novo, careca e barrigudo, se aproximou, carregando um papel em uma mão e guardando uma caneta no bolso do jaleco.

− Olá. Como vai a paciente? – o doutor perguntou simpático.

− Parece que a minha cabeça vai explodir de tanta dor. – Lucero sussurrou, ainda com a mão na testa.

− É normal, com o passar das horas, vai aliviar. Mas eu trouxe a receita de um remédio para enjoo porque você ainda vai precisar por um tempinho. – o doutor falou, entregando o papel para Cidinha.

− Por quê? Ela está doente? – Cidinha perguntou, lendo a receita.

− É grave? – Lucero se preocupou.

− Imagina. Você só está grávida, querida, está esperando um bebêzinho de três semanas, meus parabéns. – o doutor falou sorrindo.

Cidinha arregalou os olhos para Lucero que nem teve coragem de encará-la. Se não estivesse deitada, teria caído novamente. Ela não se cansava de errar, parecia que toda a sua vida regrada tinha ido à cabo de uma vez só e tudo era por culpa sua, pois obviamente não era tão ingênua para não saber que fazer sexo sem preservativo trazia consequências, mas seu esforço foi tão grande para se esquecer do que fez que ela nem pensou em tomar providências para a sua burrada.

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