Já era noite quando Andrea se acordou e viu que Lucero ressonava ao lado, com a mão em sua barriga, o que a fez se soltar devagar e se levantar. Para variar, havia perdido o sono. Diferente de todas as grávidas que já ouviu falar, ela não sofria com o cansaço em excesso, mas sim com a insônia que vivia presente nas suas noites, independente de qual fosse o fuso horário. A moça cobriu a mãe, deu um beijinho em seu rosto e saiu do quarto, caminhando pela casa escura até parar na sala silenciosa, sem contar que Fernando também estaria sem dormir justamente por pensar nela e na mãe. O homem paralisou ao ver quem estava no lugar antes dele, mas também não conseguiu sair sem ser visto, afinal era a primeira vez que ficava sozinho com a filha e precisava aproveitar para falar com ela.
− Boa noite, você está bem? – Fernando se aproximou de Andrea.
Andrea se virou para Fernando. Ela ainda não sabia muito bem o que sentia por ele, de início, achou-o estranho por querer de certa forma forçar uma aproximação com ela, depois ele havia feito Lucero chorar e para ela, isso era a pior coisa que alguém poderia fazer para atingi-la, mas o fato dele ter assumido sua paternidade um dia mudava tudo.
− Boa noite. Tudo bem sim, só perdi o sono.
− Entendo. Eu gostaria de me desculpar pelo que ocorreu com a sua mãe mais cedo, não deveria ter tirado nenhum tipo de brincadeira com ela, já que ela deixou bem claro que a única relação que quer comigo é a profissional. – Fernando falou, colocando as mãos nos bolsos das calças do pijama.
− Ela me contou tudo o que aconteceu entre vocês no passado.
Fernando se surpreendeu, pois naquele mesmo dia, Lucero havia jurado que não queria que ele fizesse parte da vida de Andrea, inclusive excluíra até a existência de um genitor direto como responsável por gerá-la.
− Hum. Espero que ela tenha dito também o quanto eu quis continuar participando da sua vida.
− Ela me contou o seu lado da história, não se preocupe. – Andrea suspirou, jogando o cabelo para trás. – Olha, eu vou ser sincera. Como ela deve ter te falado, eu cresci sem um pai, a minha mãe sempre foi tudo para mim e eu não sei o que vou sentir em ter um a essa altura da minha vida, mas se você ainda quiser, eu estou disposta a aceitá-lo se isso não afetar a minha mãe.
Naquele momento, Fernando percebeu como Lucero e Andrea eram muito mais parecidas do que fisicamente. Além de viverem como se apenas elas se bastassem no mundo delas, a moça ainda demonstrava não se importar com a forma com que entravam ou saíam da vida dela exatamente como a mãe.
− É claro que eu quero, e eu prometo que vou fazer de tudo para merecer essa chance, mas caso não aconteça, se você puder me enxergar só como um amigo, eu já serei muito feliz. – Fernando se aproximou de Andrea.
− Combinado então. – Andrea sorriu e apertou a mão de Fernando.
Mas Fernando não se conteve e puxou Andrea para um abraço. Ninguém poderia culpá-lo por querer aproveitar uma oportunidade de estar perto da filha, já que nem ela lhe deu certeza de que seria para sempre. A moça foi pega de surpresa, mas retribuiu o abraço, pensando no gesto do pai em ter assumido uma criança que nem era biologicamente dele enquanto outros homens faziam filhos como queriam e acabavam abandonando sem nenhum remorso.
− E deixe-me dizer uma coisa que eu não disse antes. – Andrea soltou Fernando para encará-lo. – Você também foi muito corajoso em assumir uma família que não era sua de verdade, muitos não querem essa responsabilidade, ainda mais com tanto por viver.
− É porque você não se lembra do quanto era lindinha, era impossível não se encantar por você e... – Fernando falava sorrindo, mas de repente parou. – E a Lucero também sempre foi muito bonita e uma pessoa legal, não me custava nada ajudá-la a ficar bem com a família dela. – ele falou sem graça.
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Dos Extraños
RomanceLucero era uma moça de dezessete anos que desde cedo, conseguiu sair do interior onde morava para lutar pelos seus sonhos na cidade grande. Contando com a ajuda da dona da pensão em que vivia, ela viu seu mundo virar de cabeça para baixo quando em s...