Capítulo 12

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Lucero entrou no camarim e se encostou à porta, começando a chorar. Desde que se tornou famosa e amada, ela criou toda uma nova personalidade, cheia de glamour e amor próprio e por isso gostava de se mostrar sempre por cima e alto astral, mas viu aquilo se esvair quando Fernando resolveu tirar uma brincadeira sem graça com ela. Talvez nem estivesse chorando por algo tão fútil assim, mas pela presença dele em si. O passado dela foi muito feliz e o melhor seria que ele não passasse na sua cara que nunca viveria nada igual, afinal ela não tinha mais o tipo de quem viveria um grande amor. Seus pensamentos foram interrompidos pela porta sendo forçada a se abrir.

− Mamãe, sou eu. Podemos conversar? – Andrea bateu de leve à porta.

Lucero suspirou, tentando segurar o choro, mas só conseguiu soluçar. Andrea era seu apoio para tudo, sua alegria, melhor e maior amor para a vida inteira, mas precisamente daquela vez, ela não podia desabafar, já que o assunto a envolvia diretamente e além disso, ela estava grávida. Seu dever era parar de ser fraca, entender direito a história do seu neto e apoiar a filha incondicional e independentemente do que estivesse sentindo.

− Vai para o quarto, filha. Mais tarde a mamãe conversa com você. – Lucero falou com a mão na boca para disfarçar a voz de choro.

− Não, eu não vou deixar você assim. – Andrea deu um risinho nervoso. – Eu sei o quanto o que aconteceu te magoou e o quanto você precisa de companhia quando está assim, então eu vou ficar esperando até você estar pronta, sim?

Lucero chorou mais, abrindo a porta e se jogando nos braços de Andrea. Ela poderia enganar qualquer pessoa, menos sua baby Andy, era ali que a mulher nunca era julgada se bebia demais, namorava muito, falava muito palavrão ou ria alto. Depois que a filha cresceu e sempre que estavam juntas nas férias, por várias vezes, Lucero havia sofrido por qualquer término de relacionamento e acabava desabafando com Andrea, saíam para qualquer barzinho, bebiam e conversavam até a madrugada, onde a mulher sempre passava do ponto chorando e vomitando, mas por nenhuma razão, a filha reclamava de acompanhá-la ou de cuidar dela. A moça apertou a mãe, acariciando seu cabelo até ela parar de soluçar.

− Passou, hum? – Andrea sussurrou, soltando Lucero devagar e limpando seu rosto borrado de água, maquiagem e lágrimas.

Lucero caminhou até o sofá e se sentou, abraçando o próprio corpo. Ela precisava muito de Andrea por perto naquele momento, mas também sabia que a filha não se contentaria com simples explicações.

− Quem é esse homem para você, mamãe? Você não ficaria desse jeito com uma atitude dele se não tivesse importância. – Andrea se abaixou em frente a Lucero.

Apesar de tudo que aquela história implicaria para a vida das duas, Lucero não queria mais mentir para Andrea.

− É o meu ex. – Lucero falou baixo, se levantando e ficando de costas para Andrea.

− Eu não me lembro desse. Faz muito tempo? – Andrea perguntou confusa.

− Faz sim, filha, foi muito antes de você nascer. – Lucero falou com a voz falha.

Quando Lucero se virou para Andrea, ela a encarava, com os olhos brilhando. O grande questionamento que nunca foi feito estava chegando.

− Mommy, eu sei que quase nunca conversamos sobre esse assunto, mas eu preciso saber. – Andrea foi até Lucero e segurou sua mão. – Tem possibilidade dele ser meu pai?

Os olhos de Lucero se encheram de lágrimas novamente. Ela sempre fez da história da vida de Andrea algo mágico, aproveitando que a filha não se lembrava de nada, a mulher só contou as partes boas, como o fato da existência dela ter lhe dado tantas alegrias, apesar das dificuldades, mas talvez estivesse chegado a hora de falar toda a verdade e torcer para que a confiança delas não se quebrasse com isso.

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