Capítulo 1

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Depois de sair do escritório chego em casa me sentindo como se tivesse levado uma surra

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Depois de sair do escritório chego em casa me sentindo como se tivesse levado uma surra. Olho as caixas embaladas e fico com o coração partido.

Tudo foi à merda. Minha viagem à Alemanha foi cancelada e minha vida, por ora, também.

Meto quatro coisas numa mochila e desapareço antes que Gustavo me encontre. Meu telefone toca, e toca, e toca. É ele, mas me nego a atender. Não quero falar com Gustavo.

Disposta a sumir de casa, vou a uma cafeteria e ligo para minha irmã. Preciso falar com ela. Faço-a prometer que não dirá a ninguém onde estou e marco um encontro com ela.

Minha irmã vem me socorrer e, depois de me abraçar como sabe que preciso, me escuta.
Conto a ela parte da história, apenas uma parte, senão deixaria ela sem palavras.

Não menciono o assunto do sexo e tal, mas Eduarda é Eduarda!, e quando as coisas não lhe batem bem começa com esse negócio de “Tá louca!”, “Você tem um parafuso a menos!”, “Gustavo é um bom partido!” ou “Como pôde fazer isso?”.

Afinal me despeço dela e, apesar de sua insistência, não revelo aonde vou. Eu a conheço, contará a Gustavo assim que ele ligar.

Quando consigo me livrar de minha irmã, ligo para meu pai. Depois de uma conversa rápida com ele e de fazê-lo entender que daqui a uns dias irei a Sete Quedas e explicarei tudo o que está acontecendo, pego o carro e vou para Valência.

Ali me hospedo num albergue e durante três dias passeio pela praia, durmo e choro. Não tenho nada melhor para fazer. Não atendo as ligações de Gustavo. Não, não quero.

No quarto dia, um pouco mais relaxada, vou dirigindo a Sete Quedas, onde papai me recebe com os braços abertos e me dá todo seu amor e carinho.

Conto que minha relação com Gustavo acabou para sempre, e ele não quer acreditar. Gustavo ligou para ele várias vezes, preocupado — segundo meu pai, esse homem me ama demais para me deixar escapar. Pobrezinho. Meu pai é um romântico incorrigível.

No dia seguinte, quando me levanto, Gustavo já está na casa de papai. Papai ligou para ele.

Gustavo tenta falar comigo, mas me recuso. Fico uma fúria: grito, grito e grito, e falo tudo o que tenho sufocado antes de lhe bater a porta na cara e me trancar no quarto.

Por fim, ouço que meu pai pede que ele vá embora, e por ora me deixa respirar. Papai sabe que agora sou incapaz de pensar e que, em vez de solucionar as coisas, posso complicar ainda mais.

Gustavo se aproxima da porta do meu quarto e, com a voz carregada de tensão e raiva, me diz que está indo, então. Mas que vai embora para a Alemanha. Tem que resolver uns assuntos lá. Insiste mais uma vez para que eu saia, mas, diante da minha negativa, finalmente se vai.

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