HALEY
Não há um sequer indício de onde as duas podem ter ido parar. Ryan e eu não demoramos à chegar aqui, Dalila pode ser rápida como uma flecha. Nós dois investigamos o local onde o carro está. A árvore não caiu naturalmente, foi derrubada. As armas e outros itens para a missão continuam no carro. Definitivamente uma emboscada, eles sabiam que Emily estava à caminho.
— O que a gente faz? — Pergunto a Ryan por que estou completamente perdida no momento.
— Raven juntou duas equipes para procurar pelas matas, mas vai ser uma longa busca, e não sabemos quanto tempo ainda temos. — Ele abaixa a cabeça enquanto olha dentro do carro mais uma vez e pega algo. — Espero que elas duas consigam sinalizar de alguma maneira.
— Espero que Ashley tenha feito essa aula também. — Digo me escorando no carro e acendendo meu cigarro. Embora eu goste de ter espaço, sou uma pessoa apegada a laços. Ashley foi uma amiga de infância. Às vezes sinto falta da leveza da nossa antiga amizade, sem cautela, sem mágoas. Mas fico feliz de reencontrá-la mesmo assim. Solto a fumaça pela minha boca e levo uma mão ao meu pingente.Me pergunto por que com Jason é tudo mais difícil. E não tem muito mistério, na verdade. Ashley sempre foi insegura, isso talvez justifique o modo como agiu comigo no passado. Ela ainda era só uma criança, enquanto Jason era um homem adulto, e meu próprio pai. Eu entendo que ele precisou de tempo para se curar, entendo a dor que ele passou, por que eu também precisei e também senti. Mas o quanto essa dor poderia ter sido menor se ele estivesse comigo para superá-la? Como seria crescer com um pai? Como seria ter uma vida normal sem trocar de casa tantas vezes? Mas ao mesmo tempo, todo esse rancor me envenena. Ele está aqui agora. Não posso fugir. Não ter Lewis por perto torna tudo mais difícil.
Piso no resto de cigarro e Ryan me tira dos meus devaneios.
— Emily deixou isso. — Ele diz levantando a pulseira dela.
— Podemos mandar uma mensagem. — Digo retomando a esperança. — E pedir algum tipo de sinal.
— Isso se elas puderem ver. O que é bem improvável. — Ele diz tentando mexer na pulseira.
— Cadê sua esperança, Ryan? — Questiono balançando a cabeça em incredulidade. — E essas pulseiras não precisam ser desbloqueadas com o toque do dono?
— Cadê sua esperança, Haley? — Ele imita minhas palavras e meu gesto. Seguro um sorriso que tenta escapar, ele não vê meu esforço porque está concentrado na pulseira. — E eu tenho meus truques, ok? — Ele acrescenta sem olhar para mim.
— Tudo bem, vou esperar aqui dentro. — Ergo as mãos num gesto de quem se rende e sento no banco do carro. Ligo o som e uma guitarra começa a soar. Há uma capa de CD no porta luvas, verifico enquanto a voz começa uma melodia. Quatro homens com os rostos pintados. Eles tem uma aparência bem caricata. É claro que Emily ia ter interesse em ouvi-los. "Kiss - Dynasty", está escrito na parte superior.
Lá fora, Ryan tem uma linha entre as sobrancelhas, formada pela concentração. Abaixo um pouco o volume tentando não atrapalhá-lo. É um pouco estranho ouvir "I was made for lovin' you baby, you were made for lovin' me" enquanto olho para ele completamente alheio a isso. Ele para por um momento e olha para cima. Olho também mas não há nada além de um sol procurando espaço entre as árvores.
— Consegui! — Ele contorna o carro e senta no banco do motorista. — Agora só precisamos que ela veja. — Seus ombros descem um pouco quando ele diz as últimas palavras. A música acaba e eu desligo o som.
— Então a gente vai ter que esperar. — Digo frustrada enquanto olho para ele. Ryan é um homem bonito. Mas com essa luz, seus olhos estão lindos como nunca vi. Os cabelos parecem mais macios e sua boca nunca esteve tão convidativa.Nos encaramos por mais tempo que o normal, e eu começo a pensar no que dizer, antes que meu coração saia pela boca.
— Eu nunca agradeci você. — Digo tentando disfarçar e com medo que eu mesma esteja conduzindo a conversa para o rumo que eu deveria fugir.
— Pelo quê? — Ele pergunta inclinando a cabeça.
— Por ter aparecido no meu apartamento naquele dia.
— Quando você me recebeu seminua ou quando eu invadi e esperei você chegar?
— Eu não estava seminua! — Tendo me defender. Ele ainda lembra disso?
— Claro que não, me desculpe. Eu não vi nada. — Ele tenta conter um sorriso.
— Enfim... — Me esforço para retomar ao raciocínio, e ele parece se esforçar para ouvir. — No dia em que você invadiu e me esperou chegar, eu ainda estava... Relutante, em tomar minha decisão. — Ele agora ouve atentamente e descansa a mão no volante. — E eu poderia não ter vindo para cá por conta própria. E você tem me acompanhado nas visitas à Jason, e isso é cansativo até pra mim. — Sinto que minhas emoções estão quase saindo de controle e começo a brincar com meu pingente de Solares, agora eu entendo porque minha mãe fazia isso, traz um pouco de conforto. Ryan parece um pouco aflito. — E você também tem sido minha única companhia aqui. Eu sinto falta de Lewis, sabe? — Quando Ryan me abraça minhas lágrimas desabam de vez. Ele não diz nada, e sei que isso faz parte de sua natureza. Seu apoio é suficiente para mim.
Não quero que ele se afaste, mas quando meus soluços cessam ele aumenta o espaço entre nós e me solta.
— Eu não sei o motivo para você ter se afastado de mim nos últimos dias, Ryan. Mas tem sido doloroso para mim. — Digo limpando as lágrimas.
— Eu não achei que isso afetava tanto você. — Ele segura minha mão. — Eu sinto muito, de verdade, Haley. — Sinto que as coisas estão indo pelo caminho certo. Ele desvia os olhos para um ponto atrás do carro e eu acompanho. Por cima dos galhos da árvore tombada eu também vejo o que chama sua atenção. Meu humor se ilumina rapidamente.Há poucos quilômetros daqui uma um sinal de fumaça sobe em espiral pelo céu.
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Cidade do Sol
Ficción GeneralUma sociedade distópica, com mortes misteriosas acontecendo. Duas mulheres completamente diferentes, unidas por um propósito em comum. Há dois lados de Meridia: a Capital Solar, onde o progresso atingiu seu ápice, e as Províncias Solares, onde tudo...