Capítulo 20 - Luz no Horizonte

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HALEY 

O caminho de volta a base foi tranquilo. Raven e sua equipe chegou quando a confusão já tinha acabado. Eles continuavam a carregar o caminhão quando saímos. Alguém dirigiu o carro de Emily e levou ela e Ashley de volta. Ryan e eu voltamos juntos, cada um na própria moto. 

Depois de todo o tumulto do dia, tomo um banho e me preparo para comer também. Não divido o quarto com ninguém, então minha cômoda está praticamente vazia. Pego meu jeans preto, camiseta branca e coturno. Não visto a jaqueta de couro hoje, opto por uma  jaqueta jeans, tão preta quanto. 

Eu deveria verificar como Ashley está. Quando volto do refeitório, bato na porta dela. É a colega quem responde de novo. Ponho a cabeça para dentro vejo a colega sentada no chão, organizando as próprias roupas na cômoda. Ela vira para me ver. Ashley está deitada com seu cabelo castanho caindo como uma cachoeira ao lado da cama, está como os pés para cima encostados na parede e tem um livro nas mãos. Ela encosta o livro e senta na cama.

— Posso entrar? 
— Claro. — Ashley diz levantando. O vestido  que ela usa se agita com o movimento, ele tem um tom bonito de verde. Entro no quarto e ela pergunta: — Quer sentar? — Ela empurra um banquinho na minha direção. A colega assente com a cabeça me cumprimentando com simpatia e eu assinto de volta.
— Vim ver como você está. — Digo sentando no banco. A colega continua arrumando as roupas. Ashley e eu trocamos um olhar.
— Quer sair um pouco, Haley? — Ela me pergunta e eu concordo com a cabeça. 
— Não esqueçam do toque de recolher. — A colega avisa. 
— Vou tentar lembrar disso, Jessica. — Ashley diz enquanto saímos.

Lá fora, perto do jardim e da horta, há uma escada que dá para terraço. Subimos por ela e fico impressionada com a vista de cima. A lua hoje está mais brilhante do que estava ontem, e não há nuvens bloqueando a visão dela. Há uma floresta de pinheiros aqui perto, e bem ao fundo posso ver as luzes da capital, contrastando com a escuridão que a cerca. Pertinho da escada, há um banco, que me lembra um banco de praça, virado em direção a Cidade Solar.

— Como você conhece esse lugar? — Digo com um sorriso.
— Eu trabalhei na horta aqui embaixo, Emily me trouxe aqui quando acabamos. —  Ela diz enquanto nos sentamos. Olho para ela e ela faz uma expressão de confusão. — Você não faz nenhuma tarefa aqui? Quero dizer, eu nunca vi você fazer.
— Não, eu não faço. Na verdade eu vou para outra província no contra turno. — Sua confusão parece aumentar. — Estou visitando meu pai, ele voltou— Ainda é estranho falar essas palavras.  Ashley cobre a boca com a mão.— O quê? Quando isso tudo aconteceu? — Ela pergunta, ainda confusa.— Menos de uma semana atrás. Ele está doente. — Explico brevemente como ele se machucou. Ela parece fazer as contas na cabeça. 

— Isso foi mais ou menos quando você chegou, você estar aqui agora tem alguma coisa a ver com essa volta? — Ela coloca o braço sobre aparte de trás do banco e apoia a cabeça com a mão.— Hum... Mais ou menos. — Digo pensando em toda a situação com Helena. — Mas sim, eu não teria vindo se ele não tivesse aparecido. E você? Como veio parar aqui? — Ela olha para as mãos repousadas no colo. Lembro do que houve com Simon e me arrependo da pergunta. — Ah, Ashley, se não quiser falar sobre isso está tudo bem.
— Não, não... Eu posso falar. — Ela faz uma pausa, ponderando sobre o que vai dizer. — Não foi só a morte de Simon. Joseph me ameaçou, tinha algo que ele queria de mim, mas eu fugi antes que ele dissesse o quê.
— Aquele Joseph é mesmo um desgraçado. Não acredito que ele não tenha envolvimento com o desaparecimento da minha tia. — O pensamento me leva a outro que eu também queria esquecer, sei que ele tem algo a ver com a morte da minha mãe. Ashley deve pensar a mesma coisa. Ela olha para a escuridão com um interesse que nunca vi. O vento frio agita nossos cabelos. Depois de um tempo em silêncio ela volta a falar.

— Eu sinto muito, Haley. — Ashley faz um esforço para me encarar e eu apenas escuto. — Sobre tudo que aconteceu com você por minha causa. — Ela abaixa a cabeça e eu levo as mãos instintivamente ao colar. — Eu devia ter dito a verdade. Você pode me perdoar? — A dor que eu vejo em seus olhos é tão grande que eu jamais poderia negar a ela meu perdão. Me pergunto se isso foi algo que a atormentou por todos esses anos. Quando ela está prestes a desabar em lágrimas eu pego sua mão.
— Ei, está tudo bem, não chore. Eu perdoo você Ashley. — Ela ainda me olha com olhos chorosos, castanhos como os meus. — Minha vida com meu avô foi boa também. Senti falta de vocês, mas ainda assim... Não se puna por isso.
— Mas sua tia se foi, e Simon se foi também. Você não teve mais contato com eles. — Ela aperta minha mão com força, e não sei se treme pelo frio, ou se o assunto é demais para ela. — As coisas poderiam ter sido tão diferentes.
— Joseph teria feito da minha vida um inferno depois da acusação que eu fiz. Às vezes penso sobre isso, e acho que se você tivesse confirmado, as coisas poderiam ter sido bem piores.
— Mas...
— Mas nada, Ashley. As coisas aconteceram assim, eu te perdoo. A gente pode recomeçar agora, veja pelo lado bom. — Dou um sorriso de encorajamento a ela.
— É muito bom finalmente ouvir isso. — Ela diz enxugando os olhos. Sei que é difícil se convencer do contrário, quando se alimenta uma ideia por tanto tempo. Mas gosto de saber que ela quer tentar de novo. Eu puxo ela para perto e a aninho como minha mãe costumava fazer comigo.

As coisas estão tão leves, tudo parece tão certo que é difícil querer voltar para o dormitório. Mas o horário já nos obriga a voltar para dentro. Dou uma última olhada para a capital, e algo me chama a atenção.
— O que é aquilo? — Pergunto quando vejo o feixe de luz azul subindo pelo céu. Um tipo de laser. Os olhos de Ashley se arregalam.
— Suzan?

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⏰ Última atualização: Apr 27 ⏰

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