Respiro fundo pela milésima vez; aqueles velhos bêbados e nojentos não paravam de encher o saco. A lanchonete é também um bar, onde vendia de tudo, por isso eu tinha que ficar aguentando aqueles homens falando coisas nojentas.— O que foi? Tá com essa cara de quem comeu e não gostou, por quê? — Priscila, minha colega de trabalho, diz quando apareço com mais um pedido.
— Aqueles velhos idiotas que ficam falando bobagem para mim — digo bufando com ódio.
— Você tem que se acostumar, gata. Não é costume ver meninas bonitas e novinhas trabalhando aqui — diz, dando risada, e eu reviro os olhos.
— Como eu queria ter nascido herdeira — digo rindo.
— Quem não queria, pelo menos eu não precisava trabalhar nessa espelunca — diz, fazendo-me gargalhar.
— O papo tá bom aí, queridas, trabalho que é bom nada, né? — escutamos uma voz enjoada atrás de mim. Eu não gostava de sentir ódio por ninguém, mas por essa mocreia da Bruna tinha uma exceção.
— Dá um tempo, Bruaca. Pro seu governo, estamos trabalhando sim, ou você é cega e só vê o que lhe convém? — tento segurar a risada depois dessa patada que Priscila deu, mas foi em vão.
— Tá rindo do que, sua bruxa? Tu que não fica esperta, não viu — me olha com ódio enquanto eu reviro os olhos pegando o pedido que já estava pronto.
Bruna pegava muito no meu pé; olha que ela era uma simples garçonete igual a mim, mas na cabeça dela, a mesma era dona da lanchonete de tanto que reclamava de mim e de Priscila. Eu nem ligava muito para as provocações dela, já minha colega tinha a língua afiada e não levava desaforo pra casa.
Bruna e Priscila não se suportavam; não podiam olhar uma para a cara da outra que já se estranhavam. No começo, as duas quase se pegaram no tapa por conta de Bruna, que reclamava só porque Priscila esqueceu um prato sujo na pia. Bruna veio reclamar como se fosse nossa chefe, o que deixou Priscila totalmente irritada. As duas começaram uma discussão feia e quase partiram para cima uma da outra, se não fosse eu e o senhor Dorival para segurar as duas. Elas foram para a sala do chefe, que estava completamente zangado. Não tirava sua razão; afinal, aquilo era uma lanchonete e não um ringue. Depois de levarem uma bronca daquelas, nunca mais tentaram se bater. Claro que o bate-boca e as provocações ainda continuam, mas nada a ponto de partir para agressão.
As horas foram passando, e faltava apenas vinte minutos para fechar o estabelecimento. Hoje era meu dia de fechar a lanchonete, então ia sair um pouco mais tarde do que o combinado. Odeio quando chega meu dia, mas não tenho que reclamar muito, sem esse dinheiro eu passaria fome.
Dei graças a Deus quando o último cliente saiu pela porta. Priscila se despediu de mim e foi embora; já Bruna nem fez questão e saiu com nariz empinado, como se eu fizesse questão.
Coloco as cadeiras em cima da mesa, passo um pano no balcão, coloco as coisas em seu devido lugar e vou em direção à saída. Essa era a parte que eu odiava, minha altura não me ajudava muito. Depois de muito sacrifício, finalmente consegui fechar a lanchonete, começando a caminhar pela rua escura daquela favela.
Mandei uma mensagem rápida para Luiza avisando que não poderia ir lá hoje, pois já estava muito tarde. Avisei que amanhã eu iria na casa dela, pois sairia mais cedo. Ela me respondeu com uma figurinha mostrando o dedo do meio, e eu dei risada sozinha no meio da rua.
Depois de alguns minutos, cheguei em casa; provavelmente, elas já estavam dormindo, isso se Valquíria não estivesse para rua até agora.
Passei no quarto de Lavinia, e a mesma estava em seu quarto, dormindo já; dei um beijo em sua testa e saí, fechando a porta. Entro no quarto de mamãe, que graças a Deus estava dormindo também; assim, eu fico mais aliviada e durmo tranquila, sabendo que ela estava em casa e segura.
Vou para o meu quarto e troco de roupa, colocando uma mais confortável. Me deito na cama, me cobrindo, e mexo um pouco no celular, respondendo algumas pessoas.
Suspiro fundo quando vejo o contato sem foto de perfil do meu ex-namorado.
Quando completei meus quinze anos, comecei a namorar com o Eduardo. Ele é da mesma escola que eu; começamos a conversar, e não passou muito tempo até entrarmos em um relacionamento. Eu era apaixonada por ele, em como ele me tratava e como sempre me fazia bem. Namoramos por um ano e meio; minha primeira vez foi com ele. Eu morria de medo de fazer isso com alguém; não pense que foi fácil. Demorei um ano para conseguir confiar e realmente me entregar. Fizemos isso no máximo três vezes, porque logo em seguida eu descobri que ele me traía com a menina que fazia bullying comigo.
Claramente, fiquei arrasada, chorei por meses, sofrendo e me perguntando o porquê dele ter feito aquilo comigo, mesmo eu tendo me entregado para ele.
Eduardo ficou correndo atrás de mim, pedindo perdão por meses, me mandava flores e cartões pedindo perdão, mas eu sempre recusava; não queria uma pessoa mentirosa e traidora ao meu lado.
Hoje em dia não ligo mais para isso. Eduardo sempre passa do meu lado na escola, mas para mim ele é um estranho, como se a gente nunca tivesse conversado na vida. Confesso que às vezes sinto sua falta, de quando ele me mimava e se preocupava comigo; pelo menos ele me distraía dos problemas que eu tinha em casa.
Desligo o celular e me ajeito para dormir, pois amanhã é cedo e a mesma rotina cansativa de sempre.
Mais um capítulo pra vocês, espero que tenham gostado.
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DESTINO TRAÇADO
FanfictionBreno Morais é o traficante mais temido do Rio de Janeiro, dono do complexo do Alemão. Conhecido por sua frieza e violência, ele domina as ruas com mão de ferro. Por outro lado, há Isabel, uma jovem doce e gentil, que encontra beleza mesmo na advers...