CAP 6.

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Hoje era o dia de voltar à mesma rotina de sempre

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Hoje era o dia de voltar à mesma rotina de sempre. O senhor Dorival retornara de viagem ontem e já havia enviado uma mensagem para nós no grupo do WhatsApp, informando que poderíamos retornar ao trabalho hoje.

Não fiquei muito satisfeita ao pensar que teria que lidar novamente com a sem sal da Bruna. Às vezes, sinto vontade de socar sua cara, mas então me lembro de que não sei brigar; provavelmente, apanharia mais do que um tambor de macumba.

Nunca mencionei as provocações da Bruna para minha amiga, pois a conheço bem e sei que ela viria confrontar a Bruaca, o que resultaria em problemas para mim no trabalho. A última coisa que preciso é perder o emprego.

Como hoje é terça-feira, geralmente não temos muito movimento. Nesse momento, estava batendo papo com Priscila, que compartilhava as fofocas do final de semana. Uma delas era sobre o seu boy, que a viu com outro cara e causou um grande tumulto na rua. O rapaz quase matou o outro, mas por sorte, ela conseguiu acalmar a situação. Por isso, evito lidar com os traficantes da favela; eles não têm piedade de ninguém.

Interrompemos nossa conversa quando avisto nosso chefe vindo em nossa direção.

— Bom dia, Isabel. Preciso conversar com você — cumprimenta-me.  Apesar do sorriso, sinto uma certa apreensão em relação ao assunto da conversa.

— Olá, senhor Dorival. Há algum problema? Aconteceu algo? — questiono, preocupada com sua resposta.

— Fique tranquila, minha querida. Não há nada de grave. Lembra-se do favor que eu te pedi há alguns dias? — indaga, e eu balanço a cabeça a contragosto. Só espero que ele não diga o que estou pensando. — Então... você poderia levar o dinheiro para o senhor BM...?

— E...eu? Não poderia ser outra pessoa? Vai que por um acaso algum cliente apareça — gaguejo, oferecendo a primeira desculpa que me vem à mente.

— Por isso, eu, Priscila e Bruna estaremos aqui. Pode ir tranquila, não vou descontar nada do seu salário, se é isso que está preocupada — engulo em seco quando ele me entrega o dinheiro com um sorriso. Ele não faz ideia do que realmente me preocupa.

— Entendido, já volto, chefe — digo, tirando meu avental e minha touca. Meus cabelos caem nas minhas costas, e eu os arrumo, já que hoje esqueci de trazer um elástico para prendê-los.

Respiro fundo, tentando não surtar. Até pediria para Luiza me acompanhar, mas hoje ela estava ocupada ajudando a mãe com a faxina. Minha irmã está na escola, e minha mãe, Sabe sei lá onde está.

Mantenha a calma, Isabel. Você só vai entregar o dinheiro para o homem e sair, o que de mal poderia acontecer?

Enquanto subo em direção à boca principal, vejo algumas crianças na esquina vendendo drogas. Meu coração se aperta ao pensar que muitas delas têm sonhos a serem realizados. Mas como moramos na favela, não temos muitas oportunidades fora daqui. A única saída que elas veem é o tráfico. Muitas abandonam a escola para trabalhar e colocar comida na mesa, mas quando tentam oportunidades fora, são humilhadas e desprezadas. Isso alimenta a revolta delas, que acabam indo pelo caminho errado. Uma vez nesse caminho, é difícil sair. O final é sempre o mesmo: cadeia ou cemitério.

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