Há alguns dias, finalmente completei meus dezessete anos, mas não pense que foi o aniversário dos sonhos; muito pelo contrário, foi uma situação terrível.
Eu não tinha muitos amigos, muito menos dinheiro para uma festa. Minha única amiga era a Luiza; estudamos juntas desde o primeiro ano do ensino fundamental. Luiza foi a única pessoa que sempre esteve ao meu lado, enquanto as outras faziam bullying e me humilhavam na frente de toda a escola. Claro, elas só agiam assim quando Lulu não estava por perto, pois ela é alguém que fica extremamente brava quando mexem com as pessoas que ela ama. Já escapei de várias surras, pois ela sempre me defendia. Luiza e sua mãe me ajudam bastante. Apesar de trabalhar em uma lanchonete aqui no morro, ainda enfrento dificuldades. Dona Antônia é como uma segunda mãe para mim e para minha irmã, Lavinia. Graças a ela, nunca passamos fome.
Sobre minha mãe? Bem, não há muito de bom para falar. Sinceramente, não aguento mais seus vícios. Ela sempre rouba o dinheiro que ganho na lanchonete. A miséria que ganho lá mal dá para pagar o aluguel, água, luz, arroz, feijão e, às vezes, alguma carne. Isso quando não comemos apenas arroz e feijão. Já não temos muito dinheiro, e ainda por cima ela tem a audácia de me roubar para sustentar seus vícios.
Minha sorte é que ela não pega mais o pouco alimento que temos para vender e comprar drogas. Na última vez que ela fez isso, passamos dois dias sem comer, até que Luiza descobriu e levou eu e minha irmã, de quatorze anos, para nos alimentar na casa dela. Levei algumas broncas da tia Antônia e da minha amiga por não ter avisado que a comida tinha acabado em casa. A única que sabe dos meus problemas são elas. Fiz as duas jurarem, de pé junto, que nunca iriam contar nada a ninguém. Até já tentei pegar uma cesta básica na boca de fumo, mas eles me enxotaram e me humilharam, dizendo que quem tem mãe drogada não consegue nada lá. Se ela tem dinheiro para as drogas, teria para me alimentar. Mal sabem eles que eu sustento aquela casa.
Apesar da minha pouca idade, já sofri muito nesta vida. Depois que meu pai morreu em um confronto aqui no Alemão, minha mãe não soube lidar muito bem com o luto e se afundou no mundo das drogas. Meu pai era um traficante de alta patente; ele era o braço direito do antigo dono do morro, que também morreu na invasão, no mesmo dia em que meu pai. Apesar do "trabalho" do meu pai e da vida errada que ele levava, ele nunca levantou um dedo sequer para minha mãe. Éramos uma família muito feliz. Papai era um homem muito amoroso e protetor. Ele fazia de tudo para dar o melhor para as mulheres da sua vida, como ele dizia. Vivíamos em uma casa no alto do morro, onde os traficantes de alta patente moravam.
Depois daquela invasão, as coisas nunca mais foram as mesmas. Mamãe se fechou para o mundo e esqueceu das filhas que tinha. Começou a beber e fumar, coisas que nunca fez quando papai estava vivo. Eu achava que era só uma fase e que ela logo melhoraria, mas não, ela foi piorando cada vez mais. Só descobri que mamãe estava se drogando por conta do saquinho com pó branco que encontrei em suas gavetas. Quando a questionei, ela ficou muito brava, dizendo que não queria eu dentro do seu quarto. Ela me xingou bastante, mas não chegou a me agredir.
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DESTINO TRAÇADO
FanfictionBreno Morais é o traficante mais temido do Rio de Janeiro, dono do complexo do Alemão. Conhecido por sua frieza e violência, ele domina as ruas com mão de ferro. Por outro lado, há Isabel, uma jovem doce e gentil, que encontra beleza mesmo na advers...