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CAPÍTULO UM
  – Ai, meu Deus!
Tum.
– Ai, meu Deus!
Tum, tum.
– Xiao Zhan, não me fala essas coisas quando eu estiver longe! – Yibo pediu em voz grave e rindo, mas ainda assim eletrizante como sempre.
– Yibo, seu bobinho, só estou reagindo à batida do outro lado da parede.
– E quem é que está do outro lado da parede?
– O cara do martelo. Você precisa ver. É e-nor-me.
– Tenho que te pedir pra não falar do martelo de outros caras, ok?
– Então, volta pra casa e me mostra o poder do seu – sugeri, dando risada e fechando a porta do escritório para amenizar o barulho. Escritório que não seria meu por muito mais tempo. Eu estava avançando na vida. Ou pelo menos no corredor. Era este o motivo do bate-bate: a minha nova sala estava sendo reformada. Escritório maior, sala de canto, ao lado da de Jillian, dona da empresa e minha chefe (desculpa, meu bem!). Vista privilegiada da baía, quase duas vezes maior do que o meu antigo escritório, uma ante sala pequena para um possível futuro estagiário.
Talvez eu tenha um estagiário. Oi?
–   Chego  amanhã.  Acha  que  consegue  segurar  os pensamentos sobre o meu martelo até lá? – ele perguntou. Olhei de relance para o calendário na minha escrivaninha – um círculo em volta da data do retorno de Yibo.
   – Vou me esforçar, alfa, mas você precisa ver a grossura daquele cinto de ferramentas. Não prometo nada. – Yibo grunhiu, e eu gargalhei ainda mais. Sempre adorei torturá-lo nos mais diversos fusos horários. – E não esquece o meu presente.
– Já esqueci alguma vez?
– Não, você é um fofo, não é?
– Não esquece o meu presente também… – ele disse, a voz grave de novo.
– O baby-doll cor-de-rosa está separado. Vou estar com ele quando você chegar.
– E eu vou estar em cima dele, debaixo dele, dentro dele, vou… Ops, preciso desligar, o táxi chegou.
– Continuamos a conversa sobre o baby-doll pessoalmente. Te amo.
– Também te amo. – Ele desligou.
Fiquei mirando o telefone por um tempo, imaginando Yibo do outro lado do mundo, em Tóquio. Só neste ano, ele já tinha obtido mais milhas no programa de milhagem do que a maioria das pessoas acumula a vida inteira, e a sua agenda estava cheia para o resto do ano.
Eu ainda sorria para o telefone quando Jillian bateu na porta e entrou, depois se sentou no canto da minha mesa.
– Está tramando alguma coisa, Jillian? – perguntei, arrancando uma pétala seca de um vaso de rosas corais que se encontrava ao lado de onde a bunda dela, envolta num vestido de cashmere, se apoiava.
– Parece que é você que está tramando alguma coisa. Era o Yibo no telefone? – ela indagou quando eu abri um sorriso.
– Só ele te deixa alegrinho desse jeito.
–  Vou perguntar de novo. Está tramando alguma coisa, Jillian? – Dei uma cutucada de leve nela com um lápis.
– Estou tramando uma coisa que vai te deixar ainda mais alegrinho, embora suas bochechas já estejam parecendo dois tomates.
– Seu noivo te acha tão insuportável quanto seus funcionários acham?
– Muito mais, muuuuuito mais. Está preparado pra ouvir a grande novidade, ou vai continuar zombando da minha cara?
– Manda – respondi, com um suspiro profundo.
Eu amo a minha chefe, mas ela tem um dom para o drama. No ano passado, por exemplo, se fez de desentendida enquanto, na verdade, bancava o cupido comigo e com Yibo. Jillian tem um grande coração – que pertence cem por cento a Benjamin, um investidor de risco. Os dois estão juntos há anos e finalmente vão se casar daqui a algumas semanas, um evento que está na boca de San Francisco. Benjamin é um verdadeiro príncipe encantado, capaz de deixar as minhas melhores amigas e eu tontos sempre que está por perto. Jillian sabe que todos nós temos uma queda nada platônica por ele e usa isso para nos provocar com uma frequência bastante considerável. Agora, Jillian finalmente se casaria com o homem dos nossos sonhos e passaria a lua de mel também dos nossos sonhos, na Europa.
– Então, lembra daquele trabalho que fizemos para o Max Camden na última primavera? Aquela vitoriana à beira-mar, antes da filha dele se casar?
– Sim, que ele deu pra ela de presente. O que tem?
– Max Camden, esse mesmo. Bem, o Hotel Claremont, em Sausalito, aquele antigo, é dele, e ele está procurando um escritório de design de interiores para reformar e modernizar o lugar.
–  Maravilhoso! Já fez a proposta? – indaguei, imaginando a propriedade. Localizado na rua principal de Sausalito, o Claremont se encontrava ali desde o início do século e fora um dos poucos edifícios a sobreviver ao terremoto de San Francisco.
– Não, porque é você quem vai fazer a proposta. Você vai liderar o projeto se conseguir fechar o negócio – Jillian esclareceu. – Acha que eu vou assumir um projeto desses com o casamento chegando? Não vou abrir mão da minha lua de mel pelo trabalho… Já abri mão de muitas férias nesses anos todos.
– Eu? Não, não, não! Eu não estou preparado pra isso, você não está preparada pra isso… está maluca? – gaguejei, sentindo o coração na garganta. Cilada à frente, baby.
– Você consegue, Zhan. – Jillian me deu um chute de leve.
– Sentiu? Foi o meu pé te chutando pra fora do ninho.
– É, então, só que eu já saí do ninho faz um tempo, mas isso é diferente – retruquei enquanto mastigava o lápis. Que Jillian arrancou da minha boca.
– Acha mesmo que eu te daria algo assim se não considerasse que você está preparado? Me fala a verdade: você não está nem um pouquinho interessado? – Jillian acertou em cheio o meu ponto fraco. Eu sempre quis executar um projeto grande como esse. Mas ser o designer-chefe da reforma de um hotel inteiro?
– Eu sei que estou pedindo demais, afinal você já vai tocar o barco por aqui enquanto eu estiver na lua de mel. Você realmente acha que é muita coisa de uma vez só?
– Nossa… eu só… nossa – respondi, com um suspiro profundo.
Quando Jillian tinha me perguntado se eu poderia cuidar das coisas enquanto ela estivesse em lua de mel, isso envolvia tarefas como conferir todas as noites se o alarme estava ligado ou se Ashley tinha encomendado o creme para o café. A lista não parava de crescer à medida que os projetos se acumulavam, porém tudo continuava executável. Mas isso?
Refleti por um momento. Será que consigo? Jillian parecia acreditar que sim.
– Hum…
Imaginei o hotel: ótima iluminação, ótima localização, mas precisando de uma reforma e tanto. Eu já estava pensando nas possíveis paletas que usaria, quando Jillian bateu na minha cabeça com o lápis.
– Oi, Xiao Zhan. Alô? – disse ela, balançando a mão em frente ao meu rosto.
Sorri.
– Estou dentro. Vamos ver no que dá – respondi, já com mil ideias.
Jillian sorriu e ergueu a mão com o punho cerrado em um cumprimento de mano.
– Vou avisar o pessoal que você vai fazer a apresentação.
– Talvez eu apresente meu vômito pra eles, mas beleza – disse brincando, só que não muito.
– Não tem segredo: é só combinar o tapete com as cortinas. Agora, vamos escolher a música pro meu casamento – disse ela, e em seguida tirou o iPod do bolso e começou a vasculhar as músicas.
– Isso faz parte das minhas funções?
– O quê? Me agradar? Sim, pode olhar no seu contrato. Então, quando eu entrar na igreja, que música você acha…
Não havia nada capaz de deter Jillian quando ela ligava o botão do casamento, então relaxei, embora a minha mente estivesse a mil. Cilada à frente, baby. Mas eu dava conta.
Certo?

Passei a tarde pensando num esboço de projeto para Max Camden. À medida que eu via fotos antigas do hotel e da área ao redor, as ideias começavam a brotar… Nada muito definido, por enquanto, mas pistas do que poderia ser algo interessante o suficiente para dar uma chance a uma designer novata. Eu sabia que a força das minhas ideias seria corroborada pela reputação de Jillian; qualquer um que fosse bom o bastante para trabalhar com ela entrava em qualquer disputa com alguma vantagem. Mesmo assim, ganharia o escritório cujas ideias fossem as melhores – e eu queria desenvolver algo épico.
Eu ainda estava refletindo sobre o projeto quando girei a chave da porta de entrada de casa e ouvi um ruído, seguido de um tic-tic-tic de passos na minha direção.
Clive.
Ao empurrar a porta, fui recepcionada pelo meu maravilhoso gato, meu pedacinho de céu felino. Num acesso de fofura acinzentada, os meus tornozelos são envolvidos pelo ronronar e pelas cabeçadas insistentes.
– Oi, meu anjinho, você se comportou bem hoje? – cumprimentei, me inclinando para acariciar os pelos sedosos.
Enroscando-se na minha mão, ele garantiu que sim, que se comportara como um anjo. Como que me repreendendo por deixá-lo sozinho por uma eternidade, ele miou e ronronou, me levando até a cozinha.
Conversamos, enquanto eu preparava o jantar dele – certamente, a missão para a qual fui posto nesta Terra –, sobre assuntos corriqueiros como: quais pássaros ele tinha visto pela janela, se tufos de poeira tinham aparecido debaixo da cama e se eu encontraria brinquedos enfiados nos meus chinelos. Em relação a esse último assunto, Clive foi bem evasivo.
Depois que coloquei a comida na tigela, ele me ignorou completamente, então voltei ao quarto para vestir algo confortável. Desenrolei a gola da minha cacharrel e fui até a cômoda espelhada para pegar a calça de moletom. Enquanto tirava os braços das mangas da camiseta, o meu coração subiu até a garganta ao ver o reflexo de alguém sentado na minha cama. O meu instinto entrou em ação, então girei com os punhos cerrados e um grito preso na garganta.
Meu cérebro só processou que se tratava de Yibo depois que eu já tinha lançado um dos punhos.
– Ei, ei! Caramba, Xiao Zhan! – ele gritou quando acertei a sua mandíbula.
–  Caramba, Xiao Zhan? Caramba, Yibo! O que diabos você está fazendo aqui? – rebati. Bom saber que, se um dia eu sofrer um ataque de verdade, não vou ficar paralisado.
– Cheguei mais cedo pra fazer uma surpresa! – ele explicou, esfregando a mandíbula e fazendo caretas.
O meu coração continuava martelando o meu peito, e, enquanto eu tentava me acalmar, notei que havia uma mala no canto. Coisa que não tinha percebido quando entrara no quarto. Olhei para baixo e vi a cacharrel ainda pendurada no meu pescoço feito um cachecol.
– Eu poderia ter te matado! – esbravejei, empurrando-o sobre a cama. – Você quase me matou de susto, seu tonto!
– Meu plano era avisar que eu estava aqui, mas aí eu teria perdido sua conversa com o Clive. Eu não quis interromper. – Ele sorriu e me abraçou, enroscando as mãos na minha cintura e os dedos dentro e fora do passador da minha calça.
Enrubesci.
– Traidor! – gritei na direção do corredor. – Você poderia ter me falado que tinha alguém aqui além de nós… Você é um péssimo gato de guarda!
Um miado totalmente despreocupado soou ao fundo.
– Eu não sou apenas alguém. Acho que mereço um título melhor do que esse – Yibo retrucou no meu pescoço, que agora ele cobria com o mais delicado dos beijos. – Não vai dizer “oi” pro seu namorado que cruzou o planeta Terra de avião só pra mostrar o martelo dele, ou vai me dar outro soco?
– Não sei… Ainda estou um pouco assustado. Meu coração está disparado, consegue sentir? – perguntei, pressionando a mão dele contra o lado esquerdo do meu peito.
Apenas para que ele pudesse sentir o meu coração. Sim. Somente para isso. O meu coração estava mesmo em festa por ter Yibo em casa antes do esperado. Essa era a única razão; ele, o coração, amava encontros românticos. Só que as outras partes do corpo também estavam eufóricas…
–  Ah, pensei que ele estivesse acelerado por minha causa – Yibo resmungou com uma risadinha, enfiando o nariz na minha clavícula enquanto sentia o meu “coração”.
– Vai sonhando, Trepador de Paredes – eu disse, fingindo indiferença. Na real mesmo? O meu coração estava no “modo Yibo” agora, batendo por causa dele. Por falar em batendo…

– Então, você chegou antes só pra me ver? – sussurrei no ouvido dele, lascando um beijo molhado bem no lóbulo.
As mãos dele mergulharam mais fundo nos meus quadris quando ele se mexeu na cama.
– Vim.
– Acha que pode me ajudar com essa cacharrel aqui?
– Sim.
– Aí, depois disso, quer me mostrar seu martelo? – perguntei com o rosto na sua camiseta, esfregando o nariz nele, ajeitando as minhas pernas nas laterais do seu corpo.
Ele reagiu impelindo o corpo para cima, me fazendo sentir aquele martelo.
– Hum, você vai me martelar?
Yibo levantou a minha cacharrel,  os olhos dele queimando de desejo antes de me focarem com determinação.
– Chega de perguntas! – ele disse com firmeza, ajeitando o corpo debaixo de mim enquanto me puxava para perto.
Levei a mão à boca simulando fechá-la com um zíper, e em seguida ele me virou e me deitou na cama, de barriga para cima. Deus do céu, amo esse homem.
Os lábios dele dançaram ao longo da minha clavícula, alternando vez ou outra com uma mordiscada de um jeito que sempre me deixa excitado, rapidamente excitado, como ele bem sabe. Já entendi; também estou com saudades, Yibo. Arqueando as costas, pressionei o meu corpo contra o corpo dele, me remexendo e me ajeitando para me aproximar ao máximo, a minha pele precisando sentir a dele. Mesmo depois de um ano, ele ainda consegue me deixar louco com um simples toque, um beijo, um olhar.
Eu me afastei um pouco, depois me atirei de novo nele, puxando a sua calça jeans.
– Tira. Agora – instruí.
Quando o cinto já não estava na calça, os botões já desabotoados, escancarei o jeans e percebi que ele, o meu homem, mais uma vez estava sem cueca.
É como se ele tivesse sido posto neste mundo com a única missão de me enlouquecer.
Enfiei uma mão dentro da calça e o segurei com firmeza, sentindo o quanto ele estava excitado, pronto para me fazer dar a volta ao mundo.
– Caralho, que saudades de você – ele sussurrou, o corpo ereto e teso.
Deslizei pela cama, beijando e lambendo a pele dele com um desejo lancinante. Ele levou as mãos ao meu rosto, os dedos percorreram as minhas bochechas, afastando o cabelo para trás. Para que ele pudesse assistir.
Eu o enfiei na boca, todo ele. Yibo agarrou o meu cabelo e me prendeu, me paralisou naquele lugar, me segurando na posição exata em que me queria.
– Hum, Xiao Zhan – ele gemeu, erguendo o corpo bem devagar. Devagar o cacete… não era nesse ritmo que o show estava rolando.
Eu me afastei e logo em seguida o recebi de novo, com força. Eu o acariciei, alternando os meus toques para que ele não soubesse onde o tocaria a seguir, usando a língua e a boca para provocá-lo e tentá-lo, atraído pelas palavras doces e profanas que saíam daquela boca divina. Essa boca da qual eu sei que partiria uma vingança doce e profana que percorreria todo o meu corpo. Adoro vê-lo assim, adoro saber que o deixo louco. Mas, pouco antes de ir longe demais, ele me ergueu e tirou a minha calça e minha cueca antes que eu sequer tivesse tempo de dizer “Ei, a minha cueca!”.
Depois, abriu as minhas pernas usando os próprios joelhos. Em seguida, Yibo me olhou com aqueles olhos penetrantes , os dedos percorreram o meu corpo de cima a baixo, me fazendo gemer e suspirar, estremecer e me remexer.
– Gostoso – disse baixinho enquanto eu continuava a gemer.
– Preciso de você, Yibo… preciso de você, por favor!
Eu estava a ponto de arrancar os cabelos e jogá-los nele se isso o fizesse me penetrar mais rápido.
Qualquer outro pensamento desapareceu quando ele deslizou porta adentro. Grosso, duro e tudo de mais maravilhoso que eu conheço. No momento em que Yibo enfiou em mim, fui completamente envolta por mil maravilhas.
– Que delícia! – grunhi. Senti-lo me preenchendo era arrebatador.
E, quando ele nos fez rolar na cama para me deixar por cima e ergueu a cintura, pressionando o corpo com força dentro do meu, foi perfeito.
Até o momento em que desabamos numa pilha de corpos suados e ele me perguntou o que achei do seu martelo.
Aí, foi mais do que perfeito.


(.....)

Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora